Após 125 anos da abolição da escravatura, o Brasil ainda está longe de ser uma nação livre de desigualdades raciais. Uma análise dos indicadores econômicos e sociais dos últimos 20 anos revela, no entanto, que o país tem avançado. Tabulações feitas pelo GLOBO em pesquisas do IBGE mostram, por exemplo, que a proporção de brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos no ensino superior dobrou em dez anos, saltando de 19% para 38%. Como resultado, cresceu o percentual de negros em quase todas as carreiras universitárias. Ao mesmo tempo, a distância que separa brancos de não brancos no país em termos de renda per capita também diminuiu.
Uma das principais razões para o aumento de negros no ensino superior está na expansão do setor, que de 1995 a 2011 viu o número de estudantes quadruplicar, especialmente na rede privada, que concentra 80% das matrículas.
Uma análise dos Censos Demográficos de 2000 a 2010 mostra, no entanto, que este crescimento não foi igual em todas as carreiras. Em cursos de formação de professores, por exemplo, o percentual de recém-formados pretos e pardos já chega a 41%, próximo dos 51% registrados no total da população. Em Medicina, porém, são só 17%, apesar de mesmo nesse seleto grupo ter havido aumento de profissionais negros.
Professora da UFRJ, a antropóloga Yvonne Maggie afirma que a queda da desigualdade racial no acesso à educação teria sido resultado de um processo vindo nas últimas duas décadas. No entanto, a desigualdade só será de fato combatida, diz Yvonne, com melhoria da rede pública de educação básica. Para ela, com esse investimento na base, haveria menos violência, menos crise de mão de obra, e menos desigualdade.
— Está havendo uma mudança de perspectiva: há dez anos, pouca gente da classe trabalhadora almejava o ensino superior. Isso não é de hoje, porque não teria dado tempo para medidas mais recentes, como as cotas, terem tido efeito imediato. Isso é um processo de melhora que tem vindo nos últimos 20 anos, com a estabilização econômica e a melhora da qualidade de vida das pessoas e do próprio sistema educacional no período, com governos passando a enfocar o problema da reprovação, por exemplo — analisa Yvonne. Leia mais em O Globo