
Lya publicou o primeiro de seus muitos livros quando já estava com 40 anos
Marcel Hartmann – O Estado de S Paulo
Aos cinco anos, Lya Luft viu um passarinho morrer. O evento, potencialmente traumático, ensinou à pequena uma grande lição: é preciso aproveitar o presente. “Vi que as coisas eram passageiras e desenvolvi uma certa angústia de que elas poderiam acabar. Isso me ensinou a valorizá-las e ver que tudo passa”, afirma.
Autora de 29 obras – dentre as mais conhecidas Perdas e Ganhos, Pensar é Transgredir e As Parceiras -, a escritora gaúcha é muito prática. “Curto a vida do jeito que dá. Na velhice a gente tem mais tranquilidade e liberdade, faz e diz coisas que não faria antes. Antes eu recebia uma crítica ruim e ficava mal por três dias. Hoje eu nem leio.”
Lamentações sobre o tempo não são para Lya. Ela não tem qualquer papa na língua ao falar sobre envelhecimento. Mal é perguntada sobre o assunto e já dispara: “Acabei de fazer 78 anos. Sempre achei a idade muito natural. A vida é um ciclo. E envelhecer é um privilégio.”
Após 13 anos como colunista da revista Veja, Lya se desligou da publicação em abril. A escritora, que mora em Porto Alegre, agora escreve semanalmente para o Zero Hora, maior jornal do Rio Grande do Sul.
A rotina não é de aposentada. Diariamente, a escritora acorda por volta das 6h, toma café às 7h, resolve pequenos afazeres diários e trabalha, em casa. Hoje, além dos textos para a coluna, ela se ocupa de traduções e da produção do 30º livro, A Caixa de Pandora (“não sei ainda se vai ser ficção ou ensaio, estou esperando ele se manifestar”). Paralelamente, ela pinta, atividade que desenvolve em um ateliê há cinco anos.
Parece muita coisa? Ela nem cogita descansar. “É importante manter uma atividade intelectual e emocional. Só quem é interessado se torna uma pessoa interessante”, afirma.
Literatura. Lya Luft respira palavras há décadas. Formada em letras anglo-germânicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ela deu aulas de literatura, mas só publicou o primeiro livro aos 40 anos. Até os grandes amores eram ligados a livros: ela foi casada com Celso Pedro Luft (linguista, gramático e filólogo) e Hélio Pellegrino (psicanalista e escritor).
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Com essa história de vida, dissociar-se da escrita só ocorreria se a criatividade esmaecesse. “Só escrevo quando tenho algo a dizer. Apenas escrevi o livro que me puxava pela barra da saia ou pela manga. Em cada página, dou o melhor de mim. Pode não ser grande coisa, mas é o meu melhor.”
Paris para quê? Lya é o tipo de pessoa que detesta listas no estilo ’50 lugares para visitar antes de morrer’. Por que impor mais obrigações às pessoas? “Vivemos sob uma ditadura de receitas e obrigações: ser jovem, atlético, transar tantas vezes por semana. Mas pera aí, deixa cada um ser como é. Nem todo mundo gosta de Paris.” Clique aqui para ler mais.
11 Comentários
A chave para não ficar mal é ocupar-se, por isso vc está tão bem, no mais faço minhas as suas palavras.
Eni Lara, minha idade :71 anos,
Eni Lara. Não me incomoda dizer minha idade. Todos nós um dia vamos passar por isso. Envelhecer e muito bom. É sinal que vivemos muito. Aproveitamos tudo o que temos direito. Rir, chorar, ser feliz e sofrer, faz parte da vida.
Pura sabedoria.
Transforma o pavor do desconhecido que é envelhecer, apenas e simplesmente em mais um ciclo natural.
Profunda admiração
Envelhecer é a única forma concreta de afastar-se da morte.
Ninca tinha pensado por esse prisma!
Excelente, adoro ler as matérias dessa maravilhosa personalidade.
Esta Lya, é formidável.
Toda pessoa que tem medo de envelhecer ou não aceita a realidade que está adquirindo mais números a cada ano que passa é muito mais infeliz do que aquela que vive sem pensar que está envelhecendo.
Tenho 69 anos, aparento 69 anos, mas me sinto ótima pois já passei daquela preocupação, que os outros vão pensar.
ztraugott@gmail.com
Adoro essa gaucha.