Márcia Lage
50emais
Tá louca? Não temos mais idade para isso – falou a turma do deixa disso.
A loucura era ir ao Rio para ver o show da Madonna.
Se ela, que é quase da minha idade (tem 65 anos, eu, 69) atravessa o mundo para encerrar uma turnê no Brasil, qual o impedimento?
– Você não vai ver nada. Puseram um muro de quase dois metros de altura em frente ao palco. Vai ter 2 milhões de pessoas no evento. No show do Alok, teve arrastão, facadas. O Rio é muito perigoso!
Madonna se protegeu. Entre o Copacabana Palace e o enorme palco montado na praia, uma passarela, encoberta com propaganda do banco que patrocinou o evento, garante a passagem dela incólume para o memorável show.
Sondei a área na sexta feira. Vi a Diva – quer dizer, um cearense alto ao meu lado viu para mim, filmando com meu celular o momento em que ela chegou ao palco.
Não cantou. Sentou-se ao piano, num bom lugar do enorme palco, e testou alguma coisa. Estaria afinado?
Levantou-se, e foi embora. Antes, ela havia ido lá e ensaiado uma música.
Perdi a canja, entretida nos encontros com amigos na cidade mais democrática do planeta.
– Se é para ver no telão melhor ficar em casa. O show vai ser transmitido ao vivo. A gente compra um vinho e fica fora dessa muvuca – sugeriu um dos nossos.
É assim que, definitivamente, envelhecemos, pensei com meus botões. Quando desistimos de enfrentar o mundo e nos enfurnamos em casa, com preguiça, ou medo, do que nos pode acontecer.
Só não havia crianças naquela gente ansiosa diante do palco onde, sábado, 4 de maio de 2024, Madonna se apresenta.
Havia velhos. Muitos. Casais gays em profusão. Vendedores de tudo com a marca copiada, criada às pressas, inventada em cima da hora) da cantora.
E gritos, característica dos ambulantes cariocas:
– Olha a camiseta da Madonna! Olha o copo da Madonna! Olha o chapéu da Madonna!
Olha o leque da Madonna!
Abriam e fechavam o leque, numa ruidosa performance, que chegava a ser irritante. Abstraí pensando nos inúmeros microempreendedores individuais tentando ganhar a vida dignamente naquela Babel ensurdecedora.
Sábado de manhã passei por lá novamente. Um bloco de gente debaixo de sombrinhas marcava lugar na frente, onde o muro havia sido retirado.
Só um alambrado separava o palco da avenida Nossa Senhora de Copacabana. Além da barreira de policiais e dos aflitos para ver Madonna.
Pablo Vittar também teve seu momento de glória:
Não seria fácil. Perdida na multidão como um grão de areia na praia, fui, vi e ouvi.
Dancei, bebi, vibrei, envolvida na sinergia que os shows criam entre artista e público.
Só quem tem coragem para ir é recompensado por essa conexão, essa intimidade que se estabelece com nossos ídolos, como se estivéssemos conversando com eles, olhos nos olhos, por alguns inesquecíveis minutos.
Em casa, eu teria visto mais. Porém, não teria sido sacudida por esse terremoto de emoções que é sair do sofá e correr riscos. Madonna que o diga!
Me imaginei aí, junto com você e todo mundo! Inspiradora sua crônica, obrigada! ☺️