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A gente não faz ideia!

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Ando impressionado com as referências a Shakespeare nas análises sobre a política brasileira. É cada vez maior o número de comentaristas, cronistas e escritores que citam o Bardo inglês em comparações com o inominável de Brasília

Ingo Ostrovsky
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Foi bem rápido: meu dedo ficou preso na dobradiça de uma janela na cozinha. A dor me fez puxar a mão e… perdi um pedacinho do anular, o ‘seu vizinho’, ao lado do mindinho. Muito sangue, um pouco de tontura, e a dúvida: o que fazer? A quem apelar? Resultado: pequena cirurgia de reconstrução, muitas dores e quase 20 dias sem poder digitar no computador por causa do tamanho do curativo. A gente não faz ideia da falta que faz um dedo até ter que deixar de usá-lo! Ainda mais na mão direita deste destro-batucante!

Um amigo, bem mais sortudo do que eu, foi passar uns dias em Paris. Me mandou uma mensagem celebrando o bom humor reinante na família pelo simples fato de não saber a última do nosso presidente. Os queijos estão deliciosos, o vinho da casa é sempre coisa boa, no açougue você não escolhe a carne, apenas fale o que quer fazer e o balconista te diz o que levar. A gente não faz ideia…

Outro conhecido foi visitar os filhos que moram em Lisboa. Ele não via as crianças – dois adultos a bem da verdade – havia quase 2 anos por causa da pandemia. Me escreveu achando estranho andar pelas ruas sem medo de ladrões e sem temer o vírus. Já não me lembro mais como é isso!

Ando impressionado com as referências a Shakespeare nas análises sobre a política brasileira. É cada vez maior o número de comentaristas, cronistas e escritores que citam o Bardo inglês em comparações com o inominável de Brasília. Shakespeare explica o mundo, já disse alguém. Isso nunca foi tão verdadeiro nessa espantosa quadra pela qual estamos passando. Faça sua escolha. De “A Megera Domada” a “Ricardo III” , seja comédia ou drama, há uma cena ou um personagem shakesperiano que combina com o que temos no momento.

Andar na contramão sempre foi o mote dos inconformados. Na filosofia e no comportamento do século passado, marginal era o cara que vivia às margens da sociedade, fosse ele mocinho ou bandido. Nos EstadosUnidos as margens era bem largas, tinha espaço para ricos e pobres, educados e ignorantes. Entretanto, os criminosos iam em cana. Charles Manson – só para citar um exemplo – não ficou impune, foi preso e condenado por incitar assassinatos.

E hoje? O que seria ‘andar na contramão’? Quem é marginal? Negacionistas? Assediadores? Vacinados? Cientistas?

Três semanas sem escrever. Achei que teria um monte de idéias e que tudo seria fácil. Mentira. A gente não faz ideia…

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