Monica Gugliano
A primeira imagem é de uma rua vista da janela de um banheiro. O silêncio é interrompido pelo som da água que cai do chuveiro. Uma mulher estende as mãos, sente a temperatura. Segundos depois, ela já aparece maquiada e vestida. É Gaby Amarantos. A câmera que a segue revela móveis e objetos simples, uma casa modesta, no bairro Jurunas, em Belém do Pará. Um lugar semelhante ao que se vê na periferia das grandes cidades brasileiras. O ritual de preparação da jovem termina. A tarde está caindo e Gaby, que começa a descer a escada do sobrado de dois andares, lança um grito de guerra, dirigido ao público que se aglomera na calçada: “Alô minha Nação dos Jurunas! Vamos mostrar pro Brasil, galera! Solta o som, Jurunas!”
Nesse clima e cenário ocorreu a gravação do clipe “Faz o T”, do DVD “Live in Jurunas”, o mais recente trabalho de Gaby, a paraense que ficou conhecida como a “rainha do tecnobrega”. O gênero, uma mistura dos sons locais do Pará com a música eletrônica, surgiu no início dos anos 2000. Logo conquistou os bailes da periferia de Belém. Com suas aparelhagens gigantes, suas luzes de neon e seus mirabolantes efeitos especiais, a exótica mistura de tecno com brega, em pouco tempo, virou febre nacional.
Artistas como Gaby ganham notoriedade na região Norte. Mas para romper o isolamento regional e atingir o mercado no resto do país, eles sabem que precisam ultrapassar fronteiras. Cada um faz isso à sua maneira. No caso de Gaby, certa semelhança física tornou quase obrigatória a comparação entre ela e a superpop americana Beyoncé. E, para dar mais uma ajudinha ao que parecia inevitável, ela lançou uma versão de “Single Ladies” – em 2009 topo da Billboard – com o título “Hoje Eu Tô Solteira”.
A paraense subiu aos palcos, tal qual sua musa, vestindo figurinos extravagantes e caprichando nas coreografias. Em pouco tempo, embalada pelo refrão “Quando a saudade me consome eu grito seu nome”, ela virou simplesmente a “Beyoncé do Pará”. Foi um sucesso. O apelido abriu portas, porém não deixava de ter algo caricato e, com o tempo, virou um fardo que ela, agora, prefere não carregar. “Matei a Beyoncé”, afirma. “Achavam que eu era uma cover.” Leia mais em valor. com.br