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Angela Merkel, mulher mais poderosa do mundo, deixa a liderança da Alemanha

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Angela Merkel liderou os alemães durante 16 anos, em quatro mandatos: a dirigente mais longeva da Europa

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Não poderíamos deixar de falar aqui no 50emais da saída de cena da extraordinária lider alemã, Angela Merkel, despedindo-se do cargo de chanceler do país depois de 16 anos de atuação decisiva no tabuleiro político mundial. Aos 69 anos, casada duas vezes, sem filhos, Merkel se despede da política depois de ter recebido uma dezena de vezes o titulo de mulher mais poderosa do mundo da revista Forbes, que ela é a primeira e única a conseguir. Respeitadíssima pela maneira como conduziu a maior potência européia em tantas crises, ela é uma mulher simples, que pode ser encontrada num supermercado fazendo compras ou vista nas ruas dirigindo o próprio carro.

Conheça mais da vida dessa mulher única nesta reportagem completa do portal G1:

Quando começou a se destacar na política alemã, em 1991, ao ser indicada para o cargo de ministra da Mulher e da Juventude, a até então deputada Angela Merkel passou a ser ironicamente chamada de “a menina de Kohl”, por ser considerada meramente uma protegida do primeiro-ministro Helmut Kohl.

Trinta anos depois, está prestes a deixar o posto de primeira-ministra após somar 16 anos em quatro mandatos, como a dirigente mais longeva da Europa, acumulando dez títulos de “mulher mais poderosa do mundo”, atribuídos nos últimos dez anos seguidos pela revista Forbes. A mesma revista a apontou duas vezes como a “pessoa mais poderosa do mundo”, sendo a única mulher a conseguir o feito.

Em 2015, foi escolhida “Pessoa do ano” pela Time, que a chamou de “Chanceler do Mundo Livre”.

“Os líderes são testados apenas quando as pessoas não querem segui-los. Por pedir mais de seu país do que a maioria dos políticos ousaria, por permanecer firme contra a tirania, bem como a conveniência, e por garantir liderança moral inabalável em um mundo onde ela é escassa, Angela Merkel é a Personalidade do Ano da Time”, justificou a revista.

Em recente pesquisa feita em seis países (Alemanha, EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França), Merkel obteve índices mais altos de aprovação do que qualquer outro líder mundial, chegando a 61 pontos na Espanha – ficando à frente de Joe Biden e Justin Trudeau, os outros únicos que também não receberam avaliações negativas em nenhum dos países.

Alemanha Oriental e Comunismo
Primeira mulher a ocupar o cargo – e também a pessoa mais jovem a assumi-lo, aos 51 anos – Merkel se tornou premiê da Alemanha em 2005, depois de ter sido a primeira mulher a liderar seu partido, a CDU (União Democrática Cristã, na sigla em alemão), e a oposição no Parlamento. Ela também foi a primeira pessoa criada na Alemanha Oriental a liderar o país unificado.

Angela Dorothea Kasner nasceu em 17 de julho de 1954, filha de um pastor luterano e uma professora de inglês e latim. Seus pais, ela e mais dois irmãos se mudaram para Berlim Oriental quando ela tinha três meses de idade.

Por sua criação na Alemanha Oriental, Merkel ingressou na Juventude Alemã Livre, o movimento comunista oficial do Partido Unido Socialista da Alemanha, e participou de uma série de cursos obrigatórios de marxismo-leninismo. Na escola, aprendeu a falar russo fluentemente e chegou a ganhar prêmios por seu desempenho no idioma.

Ela se destacou também ao estudar física na Universidade Karl Marx, em Leipzig, e obteve ainda um doutorado em química quântica. Seu sucesso acadêmico rendeu a oportunidade de viajar à Alemanha Ocidental – algo raramente permitido na época, e também um curso em Donetsk, na então república soviética da Ucrânia.

A Rússia desempenhou também um importante papel na vida pessoal de Angela: foi lá que, em um intercâmbio estudantil em 1984, já divorciada de seu primeiro marido, Ulrich Merkel – com quem ficou de 1977 a 1982 e manteve o sobrenome – conheceu o atual marido Joachim Sauer, com quem se casou em 1998.

Política
Mas, embora envolvida com atividades ligadas ao comunismo, Merkel nunca se sentiu especialmente atraída pelo movimento político, e chegou inclusive a se recusar a colaborar com o governo durante o período universitário. Suas conexões comunistas seriam mais justificadas pelo fato de viver no lado Oriental de Berlim e conseguir, através delas, acesso a melhores oportunidades acadêmicas.

Em 1989, um mês após a queda do Muro de Berlim, no entanto, a jovem Angela se filiou ao recém-criado partido Despertar Democrático, criado a partir de grupos políticos de igrejas e ativo na luta pela unificação do país.

No ano seguinte, se transferiu à CDU, seu partido atual, e se tornou membro do Parlamento, para o qual foi reeleita sete vezes desde então. Em 1991, foi indicada ao Ministério da Mulher e da Juventude – na fase da “menina de Kohl”, – e em 1994 foi promovida ao mais destacado Ministério do Meio Ambiente, Conservação Natural e Segurança Nuclear.

O ‘losango’ de Angela Merkel, um gesto que se tornou icônico
Em apenas dez anos, ela chegou ao cargo de presidente da CDU, que ainda ocupa e que deixará em setembro. Em 2002 se tornou líder da oposição o Parlamento e em 2005 assumiu pela primeira vez a posição de primeira-ministra da Alemanha, após vencer as eleições de 18 de setembro daquele ano por apenas 1% e seu partido fazer um acordo com os social-democratas do SPD.

m 27 de setembro de 2009, foi reeleita para um segundo mandato de forma mais tranquila, com seu partido conquistando a maioria parlamentar e formando um governo de coalizão com a CSU e o Partido Democrático Livre (FDP).

A terceira eleição veio em 2013, quando a CDU teve seu melhor resultado desde a reunificação das Alemanhas e se tornou o partido mais forte do país. O nome de Merkel foi confirmado no Parlamento por 462 votos a 150, com nove abstenções.

Em 2017, sua quarta e última eleição, entretanto, foi a mais difícil. Com a imagem desgastada pela crise dos refugiados na Europa, e pelo papel central da Alemanha no tema, não foi simples conseguir uma coalizão após o SPD anunciar a intenção de se tornar oposição. No final, o partido reconsiderou, após quase seis meses de negociações, mas a aliança CDU, CSU e SPD se tornou instável.

Como primeira-ministra, ganhou um novo apelido: “Mutti”, uma forma antiga em alemão para “mamãe”. A alcunha mais uma vez teve uma origem sarcástica, mas foi também abraçada por seus admiradores, que a empregaram carinhosamente quando Merkel “salvou” a Alemanha de dificuldades ao longo de seus quatro mandatos.

Legado: não foram poucas as dificuldades

Ralph Bollmann, biógrafo de Merkel, disse à Deutsche Welle acreditar que a chanceler gostaria de se ver “como a mulher que conduziu a Alemanha através de muitas crises – crise financeira, crise do euro, crise da Ucrânia, crise dos refugiados – relativamente segura e tem preservado a estabilidade do sistema até certo ponto, além de tornar o país e o partido mais liberais, mais abertos”.

Grande defensora não apenas de seu país, mas também de uma forte União Europeia – e por isso contrária ao Brexit e extremamente firme nas negociações de medidas de ajuda a países endividados, como a Grécia – ela é vista como a líder “real” da Europa e a maior responsável pela unidade do continente.

Adotando uma política de centro-direita, mas flexível às necessidades e opiniões dos alemães, ela foi criticada pela esquerda por medidas econômicas consideradas austeras – mas as quais, segundo economistas, ajudaram a salvar o euro e manter a Alemanha relativamente segura durante a grande crise financeira mundial de 2008.

Mas também enfrentou a fúria da direita com medidas como a liberação do casamento entre pessoas do mesmo gênero, os investimentos em energias renováveis e o abandono da energia nuclear – embora, como física, fosse antes uma defensora do modelo (a mudança aconteceu após o acidente de Fukushima, no Japão) – e, principalmente, ao abrir as portas do país para receber mais imigrantes do que qualquer outra nação na Europa, em 2015.

Imigrantes
“Wir schaffen das” (“nós podemos fazer isso”), disse Merkel ao Parlamento em agosto de 2015, quando apresentou pela primeira vez seu ambicioso plano migratório. Na época, a Europa lidava com sua maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial e muitos países tornavam suas fronteiras cada vez mais inacessíveis.

Vizinhos da Alemanha, como a Hungria de Viktor Orban, se tornaram exemplos de intolerância a migrantes, especialmente sírios, fugindo da guerra civil em seu país.

A frase de Merkel, usada posteriormente em diversos outros discursos, se transformou em uma espécie de bordão para justificar que a Alemanha, pelo contrário, aceitaria essas pessoas, forneceria a elas segurança, auxílio e, na medida do possível, a chance de começar uma nova vida.

No final de 2019, a Alemanha era o país europeu que mais abrigava refugiados no continente, com quase 1,15 milhão deles (metade vinda da Síria), além de 309 mil solicitantes de asilo, segundo dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

De acordo com o Centro para Desenvolvimento Global, apenas em 2015 e 2016, o país recebeu mais de um milhão de refugiados, sendo mais de 500 mil no primeiro ano e 750 mil no segundo. E, cinco anos depois, mais da metade deles estava empregada.

Mas nem tudo foi simples. Apesar de elogios internacionais e apoio de grande parte da população alemã, uma onda de xenofobia se instalou.

Incidentes como um ataque a mulheres durante uma festa de Ano Novo em Colonia, do qual participaram diversos imigrantes, fomentaram discursos anti-imigração, instigados sobretudo por membros de grupos de extrema-direita.

A xenofobia foi também o combustível para o crescimento do Alternativa para a Alemanha (AfD), fundado em 2013 como um partido contra os planos da União Europeia para resgatar a Grécia e salvar o euro, mas que passou a destacar posições contrárias a entrada de imigrantes e à disseminação do islamismo no país em sua plataforma.

Covid
No início da última grande crise com a qual teve que lidar – esta de alcance mundial – a popularidade de Merkel já não estava em um de seus melhores momentos. Quando a Alemanha passou a sofrer com o crescimento dos casos de Covid-19, porém, sua postura franca foi considerada um ponto positivo pelos alemães.

Como cientista, ela também se preocupou em manter a população bem informada, seguir à risca as orientações de especialistas e combater a divulgação de boatos. Mas, como muitos outros líderes, tem sido obrigada a lidar com negacionistas e ativistas antivacina.

Ainda assim, está prestes a deixar o governo com uma taxa de mais de 63% da população alemã já vacinada, embora com uma taxa de contágio ainda em alta, especialmente devido à variante delta do coronavírus.

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