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Aos 60, ela decreta: Essa é a minha vez

Eu demorei 40 anos para acordar e descobrir o meu próprio poder para construir um lugar de paz dentro de mim. Foto: Arquivo de família

Marlene Damico Lamarco
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Fazer 60 anos para mim foi uma libertação, mudei a minha visão de mundo, não sei porquê justamente aos 60, meu inconsciente deve saber, porque eu não sei.

Mas o que importa é que hoje não faço uma porção de coisas que me obrigava a fazer. Quer um exemplo? Não aceito programas chatos, não fico numa festa porque o dono vai ficar triste se eu for embora, sou dona do meu tempo e não faço horas-extras.

Eu fazia, mesmo sem ter patrão e sem adicional. Era como se alguém, às escondidas, estivesse me controlando, e pior, alguém onipresente, pois morava dentro de mim.

Máximo rendimento por hora vivida, superprodução e desperdício zero! Com esse curso de especialização em desvario e requintes de sadismo, na hora de finalmente parar, quem diz que você consegue?

Férias? São necessários uns cinco dias para desacelerar e o final de semana quando começa a ficar bom, já termina. Que loucura é essa e aonde todos irão se albergar se continuarmos a construção de um mundo tão inóspito?

Eu demorei 40 anos para acordar e descobrir o meu próprio poder para construir um lugar de paz dentro de mim. Mas, acordei.

O processo de transformação foi lento, a direção se tornou mais importante que o resultado, o ritmo, a respiração, a pausa, o sonho. Tudo foi adquirindo um novo significado e esses últimos anos foram os melhores.

Fui requintando e, aos 60, me especializei. Diante de todas as situações em que eu solicitei um “habeas corpus”à argumentação dos meus 60 anos, me concedia ajuizamento imediato.

Agora tenho 60, alforria! Agora tenho 60, tchau! Agora tenho 60, eu mereço! Criei uma expressão mais positiva para essa liberdade: esse é o meu tempo – é a minha vez!

Do que mais gosto? De gostar. E de fazer? Gosto de parar de fazer; para ouvir, sentir, escolher, temperar, virar alquimista. Gosto de treinar um novo olhar, um novo caminho que seja sempre aquele que emerge de dentro de mim, portanto, tem dono.

Para voar é preciso romper as amarras que nos mantêm presos ao chão, pequenos, medíocres. Sonhar é essencial, libertar a nossa criança, o adolescente rebelde, o jovem idealista que queria reformar o mundo. Depois, quebrar as cadeias que nós mesmos construímos e destruir as armaduras que tolheram nossos movimentos e mataram nossos desejos mais genuínos.

Começar devagarinho, como em todo processo, um se desvestir de cobranças, as próprias e as dos outros, e buscar pequenos prazeres, pequenos presentes de alegria e felicidade, de coisa simples e verdadeira, de coisa que preenche a alma e fica para sempre.

E você? Como tem sido a sua compaixão por você mesmo? Você sabia que a inspiração dessa magia em sua vida vem da sua criança interior?

A criatividade que havia em seu coração naquela época, ainda existe dentro de você. Lembra como você acreditava quando sonhava e quando rezava?

Abra um espaço para o silêncio em sua vida e volte ao passado. Visualize você criança e sinta com a mesma inocência aquela esperança que habitava o seu coração, tirava o seu sono e iluminava o seu olhar. A sua criança conhece o caminho.

Desperte essa vontade adormecida e forje a ferro e fogo um novo destino para os seus sonhos.

Viaje no tempo, esse tempo que agora é seu. Para que seja mesmo seu, é preciso que tome posse dele.

Este é o seu tempo! Agora é a sua vez!

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