Era um domingo quente de 1969. Ruth Rocha vestiu seu maiô e chapéu e foi nadar na casa de Sonia Robatto. A amiga abriu a porta, segurou-a pelo braço e a levou até uma salinha. Lá, tinha uma máquina de escrever e uma pilha de papel em branco. “Senta aí e escreve uma história”, disse Sonia, que precisava urgentemente de algo para publicar na revista “Recreio”, da qual era diretora. Para que Ruth não escapulisse, trancou-a lá.
Trancou é modo de dizer, não? “Nada, trancou mesmo! Girou a chave e me deixou lá.” Sem chance de fuga, Ruth pegou como mote uma pergunta da filha – “por que preto é pobre?” – e escreveu sua primeira história numa sentada só: “Romeu e Julieta, a Borboleta”, sobre uma borboleta amarela e outra azul, que juntas enfrentam preconceitos.
Quarenta e quatro anos, 130 livros, 12 milhões de exemplares vendidos, histórias traduzidas em 20 línguas e 29 prêmios depois – entre eles o da Academia Brasileira de Letras e 5 Jabutis -, Ruth Rocha é hoje um dos nomes de maior destaque na literatura infantil.
Mas números não são o forte da escritora. No almoço no Mori, Ruth anuncia que comerá apenas seis sushis. “Gente, nós vamos para o inferno de tanto comer”, dirá, depois de traçar bem mais do que a meia dúzia prometida. Mas isso já é o fim de uma história que começou às 13 horas de uma segunda-feira de sol com um táxi parando na porta do restaurante japonês em Perdizes, São Paulo.
Dele desce Ruth Rocha, toda de branco, apoiada numa bengala. Assim que nos vê, a boca pintada de batom bem vermelho se abre num sorriso largo. A mesa que nos reservaram fica no piso superior e a escritora, que aos 81 anos está com visão limitada – “um olho nada e o outro muito pouco” -, prefere aguardar que vague lugar no térreo para evitar subir tantos degraus. Mas, como disse sua secretária ao telefone “fora isso, ela está melhor que todos nós”. Leia mais em valor.com.br