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Aos 92, Fernanda Montenegro toma posse na Academia Brasileira de Letras

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Experimentando o fardão que vai usar nesta sexta(25) na cerimônia de posse . “Fernanda é o que o Brasil tem de melhor em arte, dignidade, coerência.” Foto: O Globo

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A nossa  total solidariedade a Fernanda Montenegro, inegavelmente uma das mulheres mais admiráveis do país, que nessa semana, quando se preparava para a cerimônia de hoje, na Academia Brasileira de Letras, foi chamada de “decadente” pelo comentarista da Rádio Pan, de São Paulo, Gustavo Gayer. É assombroso que um jovem possa se referir dessa forma a uma senhora de 92 anos.  Mais  espantoso ainda quando se trata da atriz que é um exemplo maior de grandeza e dignidade. Nonagenária, em plena atividade, ela é a encarnação perfeita da longevidade ativa. Com esta crônica de Cora Rónai, publicada em O Globo, nós do 50emais prestamos nossa homenagem à ela, Fernanda Montenegro.

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A posse de Fernanda Montenegro na Academia Brasileira de Letras, esta sexta-feira (25), promete ser um raro momento de luz na treva das catacumbas — onde, como ela lembra, a Cultura resiste, como sempre resistiu, ao longo dos milênios e dos governantes deletérios.

Fernanda na Academia Brasileira de Letras rejuvenesce a Academia Brasileira de Letras. Sei que esta parece uma estranha escolha de verbo — rejuvenescer — para comemorar a entrada de uma senhora nonagenária numa organização centenária, mas não encontro outra mais apropriada.

O rejuvenescimento de uma instituição não se dá com a medida da idade dos seus participantes, mas com a expansão das suas ideias e a atualização da percepção do seu lugar na sociedade e no mundo.

Fernanda na ABL não é só Fernanda na ABL; Fernanda na ABL é o palco em pessoa, a alma do teatro na ABL. E mais até do que isso, porque Fernanda é maior do que o palco.

O teatro sempre foi bem representado na Academia, a começar pelo pioneiro Artur Azevedo, que estava lá quando ela foi fundada. Mas tanto ele quanto os que o seguiram eram o que se costumava chamar de “homens de letras”, autores, críticos, jornalistas.

Fernanda não é uma “mulher de letras” na velha acepção do termo; não tem uma vasta obra publicada — ainda que “Prólogo, ato, epílogo”, seu livro de memórias, seja sólido, direto e encantador. Ela vai além, é uma mulher de palavras: das que escolheu para levar para o palco e para a vida, e das que, tão criteriosamente, escolheu para se manifestar ao longo dos anos como pessoa pública.

Fernanda é o que o Brasil tem de melhor em arte, dignidade, coerência.

Ao abrir os braços para Fernanda, a ABL saiu do nicho e abraçou a noção, radicalmente contemporânea, de que um pensamento não precisa estar impresso para ser essencial ao país.

Daqui a alguns dias, será a vez de outro Monstro Sagrado tomar posse, e de uma outra grande afirmação de vida da ABL. A eleição de Gilberto Gil foi menos controversa porque, afinal, ele é um dos nossos principais poetas. Não ocorreu a ninguém perguntar na internet “Mas o que foi que ele escreveu?” porque, bem, estão aí as centenas de letras que todos conhecemos de cor e que hoje fazem parte integrante do nosso inconsciente coletivo, da experiência de ser brasileiro.

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