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Após ficar viúva, Andrea Navarro, reinventou-se, tornando-se modelo e atriz aos 69

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Aproximando do dia primeiro de outubro, Dia Internacional do Idoso, data instituída pela ONU para homenagear as milhões de pessoas no mundo que passaram dos 60 anos, nada melhor do que uma história inspiradora de alguém que já viveu oito décadas. Andrea Navarro tem agora 85 anos. A reviravolta em sua vida aconteceu quando tinha 79 anos, idade em que se tornou viuva. Para não ficar parada, se lamentando e atrair a compaixão dos outros, foi a luta, buscando viver plenamente essa derradeira etapa de sua vida. Aí, nessa fase, ela conheceu o teatro e transformou inteiramente a sua vida.

Veja que inspirador esse Depoimento dela para o Uol:

“Fui casada com meu marido, Francisco, por 47 anos. Foi um casamento feliz que meu deu 6 filhos e 7 netos. Quando ele morreu, em 2000, me vi sozinha, com filhos crescidos e decidi mudar minha vida. Não queria ficar sentada numa cadeira, com todos ao meu redor com pena de mim. Foi quando encontrei o teatro. Aos 69 anos, virei atriz, modelo e até desfilei na São Paulo Fashion Week.

Naquela época, na minha realidade, não tinha esse papo de mulher estudar”

Na época em que nos conhecemos, meu marido tinha 18 anos e eu 13. Nossa convivência sempre foi muito grande, ele vivia frequentando a casa dos meus pais. Começamos a namorar e eu disse: ‘Você quer me beijar? Tudo bem. Mas você só me beija se você estiver gostando de mim’. Daí, ele beijou. Isso foi há 69 anos, eu tinha 16. Essa data ficou marcada. Em 17 de agosto de 1952, demos o nosso primeiro beijo.

Tenho seis filhos e sempre recebo parabéns deles no dia 17 de agosto. Em 1953, nós ficamos noivos. No ano seguinte, em 1954, nos casamos. Em março de 1955, tive minha primeira filha. Era muito criança quando casei e sempre fui muito cuidada pelo meu marido durante o nosso casamento. Naquela época, não tinha esse papo de estudar, se tivesse, eu teria estudado. Então, casei e cuidei das crianças, embora sempre tenha gostado de fazer alguma coisa a mais.

Aos 29, já tinha os seis filhos, quando o menor tinha cinco anos, eu conheci uma pedagoga de uma associação de pais e amigos. Todos os meus filhos já estavam na escola, e ela me sugeriu trabalhar nessa associação, no fim, acabei trabalhando 25 anos nesse lugar.

Minha irmã trabalhava com eventos, cheguei a ajudar algumas vezes na parte da recepção por muitos anos. Além disso, comecei a ajudar na administração e conservação do colégio Miguel de Cervantes, fiquei cinco anos ali. Conforme eu ia realizando esses trabalhos, minha vida foi mudando também. Deixei de ser aquela criança que era quando me casei. Até então, dentre todas essas atividades que eu realizava, a ideia de fazer teatro nem passava pela minha cabeça.

“Depois que meu marido morreu, eu passei a fazer muitas coisas sozinha”

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A partir de 1998, meu marido começou a ficar muito doente. Fizemos muitos tratamentos, mas com o tempo ele foi piorando. Tudo o que ele me tratou na vida inteira, durante os 47 anos em que estivemos juntos, retribui nos dois anos que ele esteve doente. Ajudei com todos os cuidados durante esse período. Conforme ele foi piorando, fui dando um tempo nas atividades que eu fazia. Ele ficou 12 dias na UTI e faleceu dia 27 de dezembro de 2000.

Antes de o meu marido falecer, eu fazia aulas de hidroginástica num clube. Depois que ele morreu, acabei mudando o horário da aula e foi nessa mudança que, em 2005, recebi um convite para participar de um grupo de teatro voltado a maturidade, na Oficina dos Menestreis. Naquele dia, eu e mais quatro alunos decidimos ir para as aulas de teatro. Depois que meu marido morreu, eu passei a fazer muitas coisas sozinha.

As aulas de teatro aconteciam aos domingos, às 8h da manhã. Fui conhecendo os outros alunos e me enturmando. Em 2006, nós realizamos a primeira peça da maturidade. Eu contava para os meus filhos que estava fazendo teatro, e alguns membros da família achavam que era alguma atividade relacionada à igreja.

Até que um dia, convidei uma das minhas netas para ir assistir a minha apresentação no teatro. Na hora ela perguntou: ‘Onde, vó?’ E eu respondi: ‘No teatro Dias Gomes, estou fazendo aulas com a Oficina dos Menestreis’. Ela ficou surpresa, porque além de estar fazendo uma atividade fora da igreja, ela também conhecia a oficina. Minha neta tinha amigas que estudavam ali. Elas ficaram bobas de saber que eu estava fazendo teatro ali.

“Eu me sinto jovem no teatro”

Em um dos ensaios da nossa primeira peça, eu estava no palco e uma das minhas colegas da turma disse: ‘Deinha, você já pensou a gente aqui nesse palco, apresentando para mais de 200 pessoas?’ Eu respondi: ‘Para mim, pode ter até 800 pessoas, você já pensou que eu vou ter seis filhos me olhando da plateia?’ E caímos na risada.

Contava que fazia teatro, mas meus filhos não imaginavam o quão envolvida eu estava. Quando eu me apresentei, todos os familiares assistiram e gostaram.

Agora, em 2021, faz 15 anos que começamos com o grupo da maturidade. Atualmente, dentro do grupo, temos eu e mais quatro colegas que estamos ali desde a formação da primeira turma. Eu me lembro do primeiro dia de aula, no primeiro direcionamento do diretor, ele dizia: ‘Andando pelo palco, andando pelo palco’, essa frase não saia da minha cabeça. Eu gostei muito disso.

Eu sempre gostei de fazer coisas que me fizessem sentir mais jovem. Eu me sinto jovem no teatro. ‘A Mansão de Miss Jane’ foi a peça que fizemos, em 2009 e 2010. É a minha peça do coração, já apresentei ela mais de cem vezes.

Pouco tempo depois que eu comecei a fazer teatro, começaram a surgir outras oportunidades dentro da área também. Em um primeiro momento, uma pessoa de uma agência de talentos pediu uma indicação de atriz lá na Oficina pra fazer alguns comerciais.

Já fiz muitos testes, mas poucas publicidades em si. Em muitas publicidades, quando eles pedem pessoas idosas, eles querem a vovozinha do estereótipo, eles não querem uma velhinha enfeitada e vaidosa.

Em 2009, consegui desfilar na São Paulo Fashion Week, com o Ronaldo Fraga. Na época, o próprio Ronaldo disse que havia me escolhido por conta do meu sorriso. Fiquei honrada. Minha roupa do desfile era linda, tive ali meus quinze minutos de fama.

E tem um detalhe dessa história: antes de desfilar, o Ronaldo Fraga arrumou uma por uma todas que iriam estar no palco, ele é um encanto, eu gostei muito de fazer o desfile.

No momento que você chega no fim da passarela tem muitos fotógrafos, a orientação que eu recebi era para dar uma paradinha para a foto de apenas três segundos, mas quando foi a minha vez, não me contive e fiquei seis segundos ali.

Cheguei a fazer vinte curta-metragens universitários também. Eu adoro fazer teatro, adoro fazer os curtas, eu nunca disse não para ninguém. Eu fui em todas as oportunidades que já me chamaram.Quando meu marido morreu, eu não queria ficar sentada numa cadeira, com todos ao meu redor com pena de mim. Então, procurei me libertar, procurei continuar trabalhando no ateliê das minhas filhas, continuei estudando inglês, segui na minha natação, até que o teatro apareceu. Eu tinha 64 anos quando meu marido morreu, atualmente eu tenho 85. Hoje eu me sinto mais velha, mas o que eu posso fazer para me manter bem, para não dar preocupação para os meus filhos, eu faço. Sinto que estou vivendo plenamente cada fase da minha vida.” Andrea Navarro, atriz, 85 anos, de São Paulo (SP).

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