Excelente reportagem de Flávia Duarte para o jornal Correio Braziliense sobre o que o medo que muita gente, principalmente mulheres, tem do envelhecimento pode provocar. Há até um termo que vem sendo empregado para esse tipo de pessoa que se recusa a aceitar os sinais deixados pela passagem do tempo: gerontofobia.
Leia a reportagem
“Quando sua juventude se esvair, sua beleza irá com ela e você subitamente descobrirá que não há muitos triunfos que lhe restarão ou terá de se contentar com aqueles medíocres triunfos que a memória de seu passado tornará mais amargo do que as derrotas. Cada mês que míngua lhe trará mais próximo de algo terrível. O tempo tem ciúmes de você e luta contra seus lírios e suas rosas. Você sofrerá horrivelmente. Compreenda sua juventude enquanto a tem. (…) Mas nós nunca recuperamos nossa juventude. O pulso da alegria que reverbera em nós aos 20 anos se torna letárgico. Nossos membros falham, nossos sentidos apodrecem. Degeneramo-nos em marionetes horrendas, assombradas pela memória das paixões das quais tivemos tanto medo e as intensas tentações às quais não ousamos ceder. Juventude! Juventude! Não há absolutamente nada no mundo além da juventude!”
O trecho reproduzido no início desta reportagem pode até ser digno de apreciação como parte de uma grande obra literária, mas interpretar seu significado e adotá-lo como verdade pode parecer um tanto aterrorizador. Trata-se de um parágrafo do livro O retrato de Dorian Gray, escrito em 1891, pelo poeta inglês Oscar Wilde. Em sua obra-prima, ele conta a história de um belo jovem que temia de forma tão patológica o envelhecimento que encontrou uma forma de fazer com que mudanças em seu físico acontecessem em um quadro, onde estava pintado o seu retrato. A pintura, assim, envelheceria. Já ele, se manteria para sempre jovem.



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O medo de ter as feições transformadas pelo tempo pode parecer exagerado no relato de Wilde, mas seguramente é motivo de preocupação há incalculáveis anos. Tanto que hoje esse pavor ganhou um nome alcunhado pela psicologia de gerontofobia. Na tradução acadêmica e clínica, nada mais é do que o pavor de envelhecer. A terminologia pode ser novidade, a angústia, porém, não o é. “O conceito é novo, mas o sentimento é tão antigo quanto a história da humanidade”, avisa o médico Alexandre Kalache, presidente da Aliança Global de Centros Internacionais de Longevidade (ILC) e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde.
Para Kalache, a sensação de inadequação surge quando a sociedade estigmatiza o velho como incapaz e inadequado. A partir de uma visão equivocada, surgem o preconceito e o temor de ser vítima da reprovação. “Muitos idosos que sentem a gerontofobia têm medo da discriminação e, por isso, não aceitam que estão envelhecendo. A sociedade usa ‘velho’ no sentido pejorativo, como se ele estivesse tirando o lugar do mais novo. São medos que se alimentam”, afirma o especialista.
A fobia, no entanto, não é resultado apenas do olhar temeroso do outro. É também insatisfação com o que se vê diante do espelho. Para a psicoterapeuta Maura de Albanesi, a gerontofobia pode ser considerada um distúrbio de ansiedade e com chance de surgir em qualquer idade, desde que o sinônimo de felicidade seja a beleza e a juventude, não importa quanto anos se tenha. “São pessoas que não conseguem imaginar a vida depois dos 50 anos”, considera a terapeuta. “Ela pode entrar em melancolia ou em depressão. O futuro passa a ser algo aterrador”, acrescenta.
Há outros substantivos para nomear o mesmo estado de ânimo. O gerontólogo Vicente Alves, coordenador do mestrado de gerontologia da Universidade Católica de
Brasília, chama de idosismo o conceito que surge a partir do preconceito e da discriminação. Para ele, esse temor surge com as incertezas trazidas pelo passar do tempo e pelas limitações decorrentes do uso da máquina chamada corpo humano. “Envelhecer provoca nas pessoas um temor de se reconhecerem no velho; de estarem no lugar dele daqui a uns anos; de não serem estimados pelos parentes ou pela sociedade; de não serem mais produtivo”, avalia o professor.Clique aqui para ler mais.
9 Comentários
Pois é, temos que aceitar faz parte …a velhice é um caminho inevitável mas estarmos ao lado de pessoas apaixanodas pela vida é contagiante.. Fujo de pessoas tóxicas, rabujentas. Ria mto de tdo não leve a vida tão a sério… E livre-se das amarras familiar. E faça absolutamente tdo que tiver vontade…
Belíssimo texto e super oportuno!!!
Envelhecer não é fácil, porém se não morremos, envelhecemos prefiro envelhecer, com humor, com amigos com os quais eu tenha afinidade, ou seja, alegres , não rabugentos, que só pensam e falam sobre doença, passado triste, procuro não pensar, vivo cada dia da melhor maneira que puder, faço exercícios, foi ao médico para exames periódicos, tenho momentos de lazer claro,
A vida é feita de etapas,vamos viver intensamente cada uma delas.
Não somos eternas,a vida é sempre bela quando sabemos dar valor a cada momento vivido!
Envelhecer é um privilégio com otimismo e vontade de viver. Busco qualidade de vida mantendo a minha fé em Deus e na humanidade.
D. Vilma, continua linda como a conheci!Beijos na família.
Está difícil envelhecer por causa da cobrança da sociedade que privilegia a beleza e a juventude em demasia.Precisamos respeitar !
Nicia, acho que isso está mudando !! O importante é ter saúde !! O que adianta ser jovem e bonito e não ter saúde ?? Beijinhos.
Mesmo tendo medo da velhice.o Brasil está caminhando para ela sem preparo nenhum!