Mais um livro sobre Frank Sinatra? Sim. Só que este, assinado pelo jornalista, roteirista e romancista James Kaplan, não é apenas “mais um”. Para os leitores que só agora estão interessados em saber quem foi Sinatra, é o começo perfeito. No mínimo para saber como era Sinatra em seus primeiros 40 anos. Depois de lê-lo, bastará ouvir todos os discos e ver os poucos filmes que valem a pena.
Já para quem conhece os livros anteriores, “Frank, a voz” é a soma das qualidades dos melhores já escritos sobre o homem e sua música. Reunidas num só volume (mais de 700 páginas), essas qualidades trazem de volta, numa narrativa em forma de romance (mas não romanceada), uma das mais complexas personalidades do mundo dos espetáculos, sem se descuidar do principal: o cantor e suas canções. Pena que se limite ao tempo que vai do nascimento, em 1915, à volta por cima, em 1953. Como se o que aconteceu dali até a morte, em 1998, nada acrescentasse à história do homem, do mito, da “voz do século XX”, como acabaria reconhecido.
Nenhum livro anterior, ao tratar do mesmo período, se preocupa tanto em unir os dois lados da moeda. Por exemplo, “The song is you”, de Will Friedwald, é uma admirável biografia musical que percorre com Sinatra os estúdios de gravação sem citar qualquer episódio da vida íntima. Esses episódios, narrados com sensacionalismo por Kitty Kelley em “My way” e por Anthony Summers e Robbyn Swan em “Sinatra: The life”, são revividos por Kaplan com o devido equilíbrio jornalístico. E mesmo assim revelam muito das relações amorosas de Sinatra com a esposa (Nancy Barbatto) e com os casos da época (Lana Turner, Lauren Bacall e outras menos famosas). Para terminar com o fim do casamento com Ava Gardner, que coincide com o que o autor chama de “fênix”: o Oscar, os discos da fase Capitol e a superação de um tempo em que o próprio Sinatra se julgava acabado.
Outra qualidade do livro é o modo como Kaplan reconhece a relação de Sinatra com seus músicos, principalmente o orquestrador Nelson Riddle (criador do seu som), o compositor Jimmy Van Heusen (o mais gravado por ele) e o pianista Bill Miller (seu acompanhador por mais de 40 anos). Igualmente, há várias associações de canções com momentos importantes na vida do cantor, caso de “Young at heart”, que ocupa na discografia papel semelhante ao de “A um passo da eternidade” na filmografia. Leia mais sobre esse assunto em O Globo