
Papa Francisco, que completará 80 anos em dezembro
Maya Santana, 50emais
Tenho uma amiga cuja família decidiu jogar no mar as cinzas do pai, que servira à Marinha brasileira. Fizeram uma pequena cerimônia, um tributo ao morto, e lançaram suas cinzas nas águas. Outro amigo pediu, e seu desejo foi atendido: o que sobrasse da cremação deveria ser espalhado no jardim de sua casa. Nos dois casos, as pessoas envolvidas eram católicas. O Vaticano acaba de proibir esse tipo de prática. Se fosse hoje, os dois teriam que ser enterrados. Em documento divulgado esta semana, a Igreja Católica deixou claro: ““Não é permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou em qualquer outra forma, ou a transformação das cinzas em lembranças comemorativas, peças de joias ou outros artigos”. Adoro o papa Francisco e admiro suas ideias. Mas discordo dessa. Acho que cada um de nós tem o direito de escolher o que será feito com nossos restos mortais. Eu mesma gostaria de ser cremada e minhas cinzas lançadas do alto de uma montanha. E agora?
Leia o artigo do El País sobre essa determinação do Vaticano:
A Igreja Católica ainda prefere enterrar os mortos, mas quando — por razões de higiene ou por vontade expressa do finado — se optar pela cremação, proíbe a partir desta terça-feira que as cinzas sejam espalhadas, distribuídas entre os familiares ou conservadas em casa. Segundo um documento escrito pela Congregação para a Doutrina da Fé — o antigo Santo Oficio — e assinado pelo papa Francisco, a proibição se destina a evitar qualquer “mal-entendido panteísta, naturalista ou niilista”.
O documento aprovado, intitulado Instrução Ad resurgendum cum Christo e que substitui um anterior de 1963, adverte que “não é permitida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou em qualquer outra forma, ou a transformação das cinzas em lembranças comemorativas, peças de joias ou outros artigos”. E o documento vai mais longe: “No caso em que o falecido tinha sido submetido à cremação e [ocorra] a dispersão de suas cinzas na natureza por razões contrárias à fé cristã, seu funeral será negado”. A Congregação para a Doutrina da Fé justifica a elaboração de um documento tão drástico como reação às novas práticas na sepultura e na cremação “contrárias à fé da Igreja”.
A preservação das cinzas no lar apenas será permitida “em casos de graves e excepcionais circunstâncias” ou quando uma pessoa faça o pedido “por piedade ou proximidade”, disse o espanhol Ángel Rodríguez Luño, consultor da Congregação para a Doutrina da Fé, durante a conferência de imprensa para a apresentação do documento. Para a Igreja, “a conservação das cinzas em um lugar sagrado ajuda a reduzir o risco de afastar os mortos da oração”. Além disso, “evita-se a possibilidade de esquecimento, desrespeito e maus-tratos, especialmente depois da primeira geração, bem como práticas inconvenientes ou supersticiosas”.
Segundo a Congregação para a Doutrina da Fé, as cinzas devem ser mantidas “como regra geral, em um lugar sagrado, ou seja, no cemitério, ou, se for o caso, em uma igreja ou em uma área especialmente dedicada para tal fim por autoridade eclesiástica competente”. O ultraconservador líder da Congregação, o cardeal alemão Gerhard Mueller, chegou a dizer durante a apresentação do documento: “Os mortos não são de propriedade da família, são filhos de Deus, fazem parte de Deus e esperam em um campo santo sua ressurreição”.
Embora a Igreja admita que “não vê razões doutrinais” para proibir a cremação — “a cremação do cadáver não toca a alma e não impede a onipotência divina de ressuscitar o corpo”—, o secretário da Comissão Teológica Internacional, Serge-Thomas Bonino, a descreveu como “algo brutal”, por se tratar de “um processo que não é natural, no qual intervém a técnica, e que também não permite que pessoas próximas se acostumem com a falta de um ente querido”.
4 Comentários
Meu DEUS!!! Se dizem católicos, mas discordam de uma incíclica papal… Santo DEUS!!! Se os próprios católicos discordam da sua doutrina, depois vão que nem cordeirinhos na igreja rezar o creio… Este é o fim do mundo mesmo!!!
Também penso se tratar de questão de poder. Imaginem os cemitérios oferecendo e cobrando caríssimo para guardar as cinzas dos cremados. Como sou católica apenas por ter sido batizada, pouco me importa o que se faça com as minhas cinzas, desde que não seja um peso para que ficar.
Eu acho que a questão da Igreja Católica ainda passa pelo poder. Como a maioria dos cemitérios são católicos, e isso envolve “capital”, eis aí “recomendação”. Também sou católica e já optei pela cremação e onde minhas cinzas ficarão… Simples assim!
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