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“Celebre o Natal. Você está vivo e isso virou privilégio”

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Em 2011, a ONU declarou ‘Noite Feliz’ patrimônio imaterial da humanidade. Foto: internet

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Depois de um ano dos mais difíceis, finalmente, está chegando o Natal de 2021. À medida que os dias passam, o clima natalino toma conta de tudo, para alegria dos que amam a data, como o autor da crônica abaixo, Leandro Karnal, e os que, cada um com seu motivo, se entristecem com a proximidade do dia em que se comemora o nascimento de Cristo. O autor aproveita para contar a história de Noite Feliz, a música mais tocada no Natal no mundo inteiro, transformada pela ONU, em 2011, em patrimônio imaterial da humanidade. A canção é austríaca e tornou-se símbolo da data mais importante do cristianismo.

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Crianças anseiam pelo Natal; adultos sabem que Papai Noel incrementa boletos. Seria um marcador de idade: como você reage ao cheiro de panetone que entra no ar a partir de outubro e se torna onipresente nos dias que antecedem a festa?

Sou suspeito. Sempre amei o Natal. No Fla-Flu gastronômico que o tema suscita, sou o que ama passas no arroz. Adoro comidas natalinas e músicas de Natal, inclusive a boa voz da Simone entoando: Então É Natal!

Uma amiga confessou-me que achava Noite Feliz depressiva. Acho a história da criação austríaca linda e já a contei em diversos grupos. A cidade de Oberndorf fica perto de Salzburgo. O padre Joseph Mohr precisava de uma música para versos que ele havia feito. Em uma das versões da narrativa, o órgão estava danificado e a música deveria ser cantada sem acompanhamento, ou seja, a capela. Talvez o padre tenha usado seu violão. Quem compôs a música rapidamente para a Missa de Natal de 1818 foi o amigo do religioso: Franz Xaver Gruber. A noite fria e calma na fronteira austro-bávara fez surgir, em alemão, o verso famoso “Stille Nacht, heilige Nacht”. A noite é silenciosa e sagrada, fria como a descrição do primeiro Natal no Evangelho de Lucas.

Relembre a música nessa versão de Elvis Presley:

Os versos iniciais descrevem essa solene calma, ampla e poética, e convidam a nós, ouvintes, a contemplar, em sono intensamente coroado de paz, o bebê no colo da Virgem Maria. Funciona como um acalanto, uma canção de ninar para Jesus. Em inglês, o sentido ficou apegado ao alemão: “Silent Night! Holy Night”. Em francês, a data fica doce e santa: “Douce nuit, sainte nuit”. Nossos vizinhos hispânicos entoam “noche de paz, noche de amor”.

No Brasil, a versão mais conhecida foi traduzida pelo franciscano Pedro Sinzig (morreu em 1952) e trouxe a novidade: nada de neve, paz, silêncio; a noite é feliz! Existe uma pequena distância entre a melodia lenta e quase elegíaca com a ideia de uma noite marcada pela felicidade. A música original era para o silêncio sacrossanto do inverno; a brasileira anuncia uma felicidade que combina pouco com as notas e o andamento da partitura.

A versão brasileira cantada por Simone:

A pequena igreja onde a música foi ouvida pela primeira vez não existe mais. As cheias devastadoras do rio Salzach obrigaram a reconstruir o prédio mais acima. Para mim, que a visitei, funciona como a casa de Julieta em Verona: uma história bem contada naquele lugar. Claro, o padroeiro da igrejinha é são Nicolau, o Papai Noel. Em 2011, a ONU declarou Noite Feliz patrimônio imaterial da humanidade. Gostou? Vai cantar mais cheio de entusiasmo? Independentemente da trilha sonora, tente uma noite bem feliz. Você está vivo e isso virou privilégio. Natal é esperança em uma noite muito feliz.

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