Aos 67 anos, Charlotte Rampling não perdeu a ousadia que marcou a sua carreira nas telas, principalmente na década de 1970. Ou mesmo o olhar distante, conhecido na época como “The Look”, que deixou a sua galeria de mulheres controversas ainda mais sexy. “O que sempre alimentou o meu desejo de atuar foi a chance de me lançar perigosamente em lugares desconhecidos”, diz a britânica, muito lembrada por “Os Deuses Malditos” (1969), de Luchino Visconti, e “O Porteiro da Noite” (1974), de Liliana Cavani. No primeiro filme, a atriz viveu uma jovem enviada a campo de concentração e, no segundo, interpretou uma sobrevivente do nazismo que retoma a relação sadomasoquista com seu ex-torturador (Dirk Bogarde). Nos anos 80, Charlotte voltou a escandalizar na pele de mulher apaixonada por chimpanzé, em “Max, Meu Amor”, de Nagisa Oshima. “Até hoje o desafio tem uma conotação quase erótica para mim”, diz, rindo.
O último longa-metragem no qual Charlotte se arriscou foi “Eu, Anna”, no papel de uma mulher desprovida de instinto maternal – o que dificulta a sua relação com a filha e, consequentemente, com a neta. No thriller de ambientação noir, com estreia prevista no Brasil em junho, sua personagem é uma “femme fatale” que se envolve com um detetive de polícia (Gabriel Byrne) encarregado do caso de assassinato de que ela é uma das suspeitas. O título é dirigido pelo filho de Charlotte, Barnaby Southcombe, do primeiro casamento da atriz, com o ator Bryan Southcombe.
“Mas nenhum de nós teve nenhum privilégio por causa da nossa relação no set de filmagem. Para começar, em vez de me chamar de mãe, Barnaby dizia ‘Charlotte’, o que nos ajudou estabelecer uma dinâmica estritamente profissional.”
Atriz de mais de cem títulos (incluindo telefilmes), Charlotte construiu uma carreira internacional, trabalhando com a mesma desenvoltura no cinema inglês, italiano, francês e americano. Nos Estados Unidos, ficou mais conhecida ao contracenar com Robert Mitchum na história de detetive “O Último dos Valentões” (1975), ao ser a musa de Woody Allen em “Memórias” (1980) e ao aceitar o papel recusado por Julie Christie em “O Veredicto” (1982), estrelado por Paul Newman. Na França, seus melhores trabalhos foram realizados nos anos 2000, quando firmou parceria com François Ozon, que a dirigiu em “Sob a Areia” (2000), “Swimming Pool – À Beira da Piscina” (2003) e “Angel” (2007). “Apesar de todo o tempo que passei na França por causa do trabalho e da vida pessoal [seu segundo casamento foi com o músico Jean-Michel Jarre], nunca deixei de ser irritantemente inglesa. É um casaco pesado, muito difícil de tirar”, brinca. Leia mais em valor.com.br