Ícone do site 50emais

Coabitação atrai os que buscam velhice independente e tranquila

 width=
Ana Beatriz e Cícera Maia se uniram para divulgar o Conexão Gaia, local em que pretendem viver já a partir de 2022 (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Maya Santana, 50emais

Os brasileiros insistem em usar a expressão em inglês: cohousing Senior, que nada mais é do que coabitação ou moradia compartilhada por pessoas mais velhas.Esse tipo de moradia, que surgiu na Escandinávia, ganha cada vez mais adeptos, por causa do envelhecimento acelerado da população. É um assunto de grande interesse das pessoas que visitam o 50emais. Já publicamos várias matérias sobre moradia compartilhada – todas com grande número de acessos. Nesta reportagem para o portal Uai, Laura Valente mostra que esse modelo de morar dividindo espaço com outras pessoas vai chegando ao Brasil. São vários os projetos em andamento no país, como você vai ver na reportagem, que traz explicação detalhada do que é exatamente coabitação.

Leia:

Imagine um lar amigável para quem já chegou ou caminha para idade madura, em que o indivíduo é convidado diariamente a conviver com a comunidade, dividir tarefas, compartilhar a mesa e atividades lúdicas e prazerosas. Em que vizinhos se conhecem e se frequentam. Dividem muito e individualizam pouco. Em que o objetivo é favorecer a autonomia e o bem-estar.

Essa é a proposta do conceito cohousing sênior(coabitação ou moradia compartilhada para mais velhos), que nada tem a ver com casas de repouso para a terceira idade ou hotéis especializados em receber esse público. O projeto consiste em um grupo que opta por abrir mão dos modelos de residência tradicionais para unir moradia individual a um espaço comunitário. Há, nesse ideal, pequenas habitações de uso particular (dormitório, minicozinha e banheiro) e uma área de uso comum com espaços de lazer, refeitório, salas de TV e lavanderias coletivas, por exemplo. Tudo em um mesmo terreno (uma gleba de terra) ou condomínio projetado para estimular o convívio, a sustentabilidade e a solidariedade.

Já sucesso de público e crítica na Dinamarca, EUA e Espanha, o conceito, que não é restrito à comunidade sênior – o filósofo grego Epicuro falava dele e difundiu seus propósitos três séculos antes de Cristo –, vem, aos poucos, chegando ao Brasil.

Por aqui, o modelo de iniciativa privada mais adiantado é o realizado por grupo de professores aposentados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que, desde 2013, trabalham na implementação da Vila ConViver. Diretrizes jurídicas e códigos de ética já foram desenvolvidos e aprovados pelo conjunto, que conta com 54 pessoas. Até 2021, participantes, como o professor aposentado Bento Carvalho Júnior, esperam estar morando no cohousing. Já em João Pessoa e em mais cinco municípios da Paraíba, o governo estadual implantou o Cidade Madura, projeto de habitações populares (Minha casa, minha vida) adaptadas e com serviços voltados exclusivamente para a comunidade idosa local.

Em Minas, projetos cohousing também vêm extrapolando o plano das ideias. Em BH, exemplo é o Conexão Gaia. O grupo aberto, que atualmente conta com oito mulheres, é interessado em ampliar a convivência entre si e planeja ideais para a implantação da moradia, que celebrará a coletividade e resgatará preceitos das antigas comunidades, como um contato mais próximo e genuíno com a terra. A mãe natureza também é berço para a implantação do Aldeia da Sabedoria, projeto idealizado pela terapeuta Gislaine D’Assumpção, que prevê a construção de residências num espaço localizado em Ravena, distrito de Sabará, na Região Metropolitana de BH.

Segundo especialistas, o modelo cohousing sênior é um reflexo do que vem ocorrendo em todo o planeta: aumento da expectativa de vida da população e, com isso, o surgimento de uma comunidade madura cada vez maior, autônoma, ativa e carente de soluções para anseios e demandas.

Hábitos antigos mesclam ideais contemporâneos
Especialistas apontam que viver em um cohousing favorece a qualidade de vida dos idosos. Porém, exige novo comportamento, focado no desapego e em processos de cooperação

“É missão da Vila ConViver ser uma comunidade sênior solidária, que favoreça o envelhecimento saudável de todos os seus moradores por meio do apoio mútuo, da cooperação, do incentivo à autonomia, do respeito à individualidade de cada associado e da interação com a sociedade em geral”, detalha Bento da Costa Carvalho Júnior, de 72 anos. Engenheiro de alimentos, professor doutor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele integra a Associação dos Moradores da Cohousing Sênior Vila ConViver e atua na vice-presidência da entidade.

Idealizado por grupo de docentes da Unicamp, a partir das pesquisas de um Grupo de Trabalho (GT) que investigou a temática moradia para idosos, o projeto Vila ConViver está com desempenho avançado. A previsão dos 54 integrantes é que a mudança para o espaço seja realizada a partir de 2021. Ao descrever o hábitat idealizado para viver a última etapa da existência, o professor aposentado é só entusiasmo. “Estudamos várias opções de residência para idosos com problemas – limitação/restrições – de autonomia e independência existentes no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Esse trabalho nos levou à descoberta de um tipo de comunidade residencial intencional criado na Dinamarca, na década de 1990, em que os moradores iam menos aos médicos, tomavam menos remédios e viviam mais que o restante da população. O grande diferencial desse tipo de comunidade residencial era a parte social, por meio da criação intencional do espírito de comunidade, de apoio mútuo e cooperação entre os seus moradores”, explica.

No projeto da Vila, os arquitetos preveem que a casa comum chegue a ter até 600 metros quadrados (m²) de área construída (com suítes para hospedar familiares dos moradores) e as residências individuais, de 80m² a 100m². “Outras dependências comuns podem incluir pista de caminhada, núcleos distribuídos com mesa e bancos, horta etc. O estacionamento de veículos é comum, logo na entrada do terreno. A arquitetura física de uma cohousing privilegia a interação social”, reforça o professor. Clique aqui para ler mais.

Sair da versão mobile