
50emais
Difícil conviver com a dor da morte por suicídio de uma pessoa tão próxima. Quando se trata de um filho, então, não há palavras para definir o sentimento de perda e desamparo.
A saída que o documentarista Joatan Vilela Berbel encontrou para suportar foi reunir em um livro – Com uns Contos eu Canto e Conto. lançado nesta segunda-feira(3) – textos escritos pelo próprio filho, que se matou há cinco meses, aos 44 anos.
Alvaro Cesario Alvim Berbel era filho único do documentarista Joatan Vilela Berbel e vinha lutando contra depressão desde o ano 2000, quando foi diagnosticado com a doença.
Joatan alerta para o perigo da depressão e afirma que o livro “é um tributo para que a morte não o leve’.
Leia o artigo completo de Mariza Tavares, do blog Longevidade: Modo de Usar, publicado por O Globo:
Esta é uma coluna sobre uma das perdas mais devastadoras que existem – e sobre como é possível seguir em frente. Para o documentarista Joatan Vilela Berbel, a forma de lidar com o suicídio do filho único, Alvaro Cesario Alvim Berbel, foi organizar um livro com textos de autoria do próprio Alvaro, que encontrou num caderno. Foi assim que nasceu Com uns Contos eu Canto e Conto, lançado nesta segunda-feira, dia 3:
“Em vez de ficar sofrendo e chorando, resolvi trabalhar e celebrar a vida, o que ele criou. O lançamento, na véspera do seu aniversário de 45 anos, será também um tributo para que Alvaro continue vivo. Não vou deixar que a morte o leve”, afirma Berbel.
Alvaro havia sido diagnosticado com depressão em 2000 e, desde então, alternava períodos de estabilidade com crises severas. Foram muitos os bons momentos: a graduação e o mestrado em economia, o casamento e o nascimento do filho. O problema é que, nos intervalos nos quais se sentia bem, costumava deixar de lado o tratamento.

“Ele suspendia a medicação, cortava o contato com o psiquiatra. Não adiantava eu dizer que a depressão não tem cura, só tem controle, porque Alvaro sempre achava que conseguiria dar conta de tudo. E, a cada crise, a vala era maior, mais profunda e de difícil travessia”, conta o pai.
No dia 27 de maio, Berbel foi a primeira pessoa a ver o filho sem vida. Ele lembra que Alvaro tinha tirado férias em novembro de 2024, porque já vinha enfrentando uma nova crise, e acabou entrando de licença médica no BNDES, onde trabalhava:
“Na véspera do suicídio, ele retornaria ao trabalho, mas já havia me dito que tinha vergonha de voltar e ser visto com reservas pelas pessoas. A depressão o derrotou, o jogou contra a parede e não lhe deu outra alternativa senão dar um fim a tantos anos de sofrimento, medicamentos e terapias. Posso dizer que foi embora sereno, porque fui o primeiro a ter contato com ele já morto, e seu semblante estava plácido”.
O lançamento será na Casa 11 Sebo e Livraria, em Laranjeiras, bairro carioca onde Alvaro vivia. Haverá também a exibição da videobiografia Tributo ao Alvaro, feita pelo documentarista. O livro traz 12 pequenos contos e depoimentos das pessoas próximas. Berbel editou a obra a partir de anotações e de histórias publicadas numa plataforma on-line. Os manuscritos foram escaneados e ficam lado a lado com a transcrição dos conteúdos, revelando a dimensão da angústia que o acompanhava, como no conto Coragem para olhar meu avesso:





