
Márcia Lage
50emais
Quinze meses depois de lançar o Pacto Nacional de Prevenção do Feminicídio, com orçamento de 2,5 bilhões de reais, o governo esbarra em números apavorantes sobre o aumento de crimes contra as mulheres.
Dados divulgados às vésperas do Dia dos Namorados, 12 de junho, pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, confirmam o que a imprensa noticia todos os dias: o assassinato de mulheres vem crescendo no Brasil.
Em 2024, foram 1.459 casos, numa média de quatro crimes por dia. E 2025 já se mostra mais violento ainda, devendo bater novo recorde.
Onde é que o Brasil está errando? Políticas públicas, leis e projetos de lei que tentam proteger as mulheres da violência masculina existem aos montes.
Esse Pacto Nacional de Prevenção do Feminicídio, por exemplo, inclui nove Ministérios em ações que vão desde campanhas publicitárias de educação até capacitação de jovens para o trabalho e aumento das casas de acolhimento às vítimas.
Enquanto eles correm para fortalecer as mulheres, os homens avançam contra elas com mais raiva ainda. Quando não matam, estupram e machucam.
Foram 83.114 casos em 2024 (e nós sabemos que nem todos são denunciados, principalmente os cometidos por amigos e familiares). O maior número registrado nos últimos cinco anos. Média de 227 ocorrências por dia.
Acho que a abordagem das políticas públicas se equivoca ao priorizar empoderamento das mulheres e deixar de fora os homens nessa discussão.
Parte desse trabalho de educação, formação de mão-de-obra, divulgação das leis contra misoginia e machismo, responsabilidade paterna e outras obrigações sociais masculinas descumpridas e justificadas com violência ou abandono precisam ser discutidas com eles. Diretamente!
É como ensinar a uma criança que ela não pode matar passarinho, não pode fazer bulling, não pode atirar pedras nas pessoas, tocar fogo em moradores de rua, bater na professora, na mãe, na namoradinha; andar armado; desrespeitar as leis.
Temos uma geração de homens completamente infantilizados, egocêntricos e inseguros. Usam da força para compensar a falta de maturidade.
Precisam ser atendidos psicologicamente. A igualdade de gêneros só será alcançada se todos os gêneros forem contemplados com programas de educação que visem a alterar essa prepotência masculina de dominação.
A mulher, mesmo empoderada, continuará sendo abatida por esses egos complexados, se eles não forem tratados.
A porção masculina da nossa sociedade está doente da cabeça.
E tem também a questão da impunidade, do desarmamento e da prisão.
Todos querem criminosos na cadeia, mas a cadeia deve ser mais que uma forma de proteger a sociedade dos indivíduos perigosos.
Ela tem que restaurar para a sociedade esses indivíduos, para que eles possam voltar à convivência coletiva não mais como criminosos, mas como verdadeiros cidadãos.
Os 670 mil presidiários brasileiros recebem oportunidades de trabalho, de estudo, de tratamento dos distúrbios psicológicos, de terapias que os levem a repensar as atitudes e se curar do desejo de matar por qualquer contrariedade?
Pelo que sabemos, nosso sistema carcerário é feito para triturar pessoas, para destituí-las de sua humanidade, da mesma forma que os manicômios faziam com seus pacientes, até há bem pouco tempo.
Agora os doidos estão soltos, e faltam políticas públicas que os atendam e tratem para que possam exercer seus papeis sociais de companheiros, pais e cidadãos de forma equilibrada, sem ameaçar a segurança dos que o cercam.
Esse discurso de ódio, essa frustração por perdas, esse desejo de vingança que se instalou no país está fazendo estragos no coletivo e no privado.
Quantas crianças ficaram órfãs com esses crimes? Quantas famílias foram destroçadas por um maluco que tirou a vida de uma mãe sem pensar nas consequências?
Merecem cadeia? Merecem! Mas uma cadeia que os resgate para uma vida em sociedade com base na justiça, na paz, no respeito e na compreensão dos direitos de todos e de cada um.
Dentro e fora dos presídios, esses homens violentos têm que passar por um processo de desconstrução dessa masculinidade tóxica que só gera medo, insegurança e dor.
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