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Ela vivia na pobreza no Brasil. Virou escritora famosa na Suécia

Christina Rickardsson conta sua própria história em livro que esgotou já na primeira semana de vendas na Suécia
Christina Rickardsson conta sua própria história em livro que esgotou já na primeira semana de vendas na Suécia

Maya Santana, 50emais

“Nunca pare de caminhar” é o título do livro que transformou o nome da brasileira Christiane Mara Coelho em sucesso na Suécia. A obra, esgotada nas livrarias logo depois do lançamento,conta a história da própria Christiane. E caiu no gosto dos suecos porque essa mineira da velha Diamantina conta uma história emocionante, com final feliz. Imagine, a família dela era tão pobre que foi morar numa caverna. Christiane passou por toda sorte de agruras. Até que a sorte virou: ela foi adotada por um casal sueco, juntamente com o irmão. Tinha apenas oito anos quando foi levada para o país nórdico.

Leia a reportagem de Cláudia Wallin para a BBC Brasil sobre a trajetória fantástica da brasileira:

“Christiana, me prometa uma coisa. Aconteça o que acontecer na sua vida, nunca pare de caminhar”, disse certa vez sua mãe, naqueles tempos miseráveis em que ela se chamava Christiana Mara Coelho.

Sua primeira casa foi uma caverna no Parque Estadual do Biribiri, reserva natural próxima à cidade mineira de Diamantina. A segunda, uma favela de São Paulo. Mas quando ela tinha oito anos de idade, tudo iria mudar: um dos “pássaros de metal” que ela via voar no céu de São Paulo a levou para a Suécia, ao lado dos pais adotivos. E ela passou a se chamar Christina Rickardsson.

A história das duas vidas de Christina se tornou um best-seller na cena literária da Suécia, com título dedicado às palavras da mãe. Sluta Aldrig Gå (Nunca Pare de Caminhar), livro de estreia da autora brasileira que já não fala o português, será lançado no Brasil ainda neste semestre pela editora Novo Conceito, com tradução de Fernanda Sarmatz Åkesson.

Adotada junto com o irmão Patrik, Christina Rickardsson se lembra do dia em que descobriu que neve era ‘fria’

Junto com o livro, aos 33 anos, Christina Rickardsson também realizou outro sonho: criar uma fundação de assistência a crianças carentes no Brasil, a Coelho Growth Foundation.

Caverna
Era uma manhã chuvosa quando sua mãe, Petronilia, a levou para viver em uma das cavernas do parque do Biribiri. Christina tinha 15 dias de vida, e ali seria a sua casa até os cinco anos de idade. Se chegou a conhecer o pai, ela não se lembra. Dizem que foi assassinado.

“Lembro que eu tinha muita fome”, conta Christina em entrevista à BBC Brasil. “Quando não encontrávamos o que comer na floresta, caminhávamos até a cidade e nos sentávamos na estação de ônibus para pedir esmolas e comida. Às vezes tínhamos sorte, e as pessoas eram gentis. Outros nos chamavam de ratos de rua, e cuspiam em nós.”

À noite, ela tinha medo: dos escorpiões, das aranhas e das cobras que rondavam a caverna. “Lembro de acordar várias vezes no meio da noite”, diz Christina.

Mas ela também se lembra de uma infância amorosa. “Na caverna, minha mãe me contava histórias sobre Deus, anjos e muitas outras coisas. Existiam muitas cavernas na região, mas não havia outras pessoas vivendo ali, como nós vivíamos. Era apenas eu e ela, e eu sentia que tinha toda o amor e atenção de minha mãe. Eu me sentia amada, e isso foi extremamente importante para a minha vida”, diz.

“Sluta Aldrig Gå” (“Nunca Pare de Caminhar”) é o título do livro de Christina, dedicado às palavras da mãe biológica dela

Um dia, chegaram uns homens com seus cães, e elas foram expulsas da caverna. Foi quando Petronilia levou Christina para uma favela de São Paulo, onde ela passou a viver nas ruas enquanto a mãe buscava trabalho. Seu irmão, Patriqui, nasceu cerca de um ano depois.

Pouco antes de ser levada pela mãe para um orfanato, que Christina achava que era uma escola, ela viveu um trauma. Conta que viu a melhor amiga, Camille, ser assassinada por policiais na sua frente, quando as duas dormiam na rua.

Seu segundo choque aconteceu no dia em que os pais adotivos a levaram do orfanato, junto com o irmão Patriqui – que também ganhou um nome sueco, Patrik.
“Eles me disseram no orfanato que eu seria adotada, mas ninguém me explicou o que aquilo realmente significava”, conta Christina. “Quando saímos do orfanato de mãos dadas com meus pais adotivos, vi que aquilo era real – aquelas pessoas estavam me levando embora.”

O medo foi suavizado pela excitação de voar pela primeira vez num daqueles pássaros de metal. E só quando o avião pousou na Suécia, Christina percebeu que tinha deixado o Brasil. Clique aqui para ler mais.

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