hoje, 12/10/2012, faz 44 anos da prisão de pouco mais de 700 estudantes, no histórico congresso da une – união nacional dos estudantes -, realizado e fracassado na pequena cidade de ibiúna, perto de são paulo ;
zuenir ventura já escreveu que 1968 foi o ano que não terminou, 1968 foi agitado desde o seu primeiro semestre, com greves em várias faculdades, com passeatas nas quais, no rio e em são paulo, os estudantes universitários exibíamos nossos cartazes de “contra a reforma universitária” e “abaixo a ditadura !”
as organizações políticas que dominavam o movimento estudantil, a “ação libertadora nacional”, à qual pertencia josé dirceu, e que era capitaneada no brasil por carlos marighela ( que deve estar-se revirando no túmulo, de vergonha ! ), um mulato baiano, ex-deputado pelo partido comunista, já então na clandestinidade,
a “ação popular”, à qual pertenceu josé serra, o candidato a prefeito de são paulo, e o pc do b – partido comunista do brasil -, ao qual pertenceu josé genoíno, as três organizações já haviam concluído que só a luta armada derrubaria a ditadura, já havia muita gente na clandestinidade, e, o movimento estudantil era um braço seu, na legalidade ;
numa noite, não sei em que mês, no restaurante-bandejão da minha faculdade – a escola de administração de empresas de são paulo, da fundação getúlio vargas -, ali no 2º andar do prédio da avenida 9 de julho, jantamos juntos, o dirceu e eu, ele me pediu para usar as dependências da escola, um lugar insuspeito, para realizar um seminário, que já era uma discussão preparatória para o clandestino congresso que se realizaria em outubro;
fizemos várias passeatas ao longo do ano, no rio de janeiro, aconteceu “a passeata dos 100 mil”, histórica de tudo, e, uma das de são paulo ocorreu no mesmo dia em que as tropas soviéticas invadiram e reprimiram “a primavera de praga” ; à noite, sentados no meio-fio da rua maria antonia, bem em frente à dr. vila nova, dirceu e eu conversamos sobre a invasão ; eu discordava da invasão, repressão era uma palavra amaldiçoada por nós, ele discordava do método, mas, concordava com o objetivo ;
eu padecia de amigdalite, estava em casa, na vila em que morava, perto da estátua do borba gato, na avenida santo amaro, estava de cama e com febre alta, quando bira, meu amigo ubiratan vieira eugenio, chegou e me convocou : – vamos, tá na hora, vamos para o congresso da une ! minha única missão no congresso era votar no dirceu para presidente da une ;
na noite de 11/10, ficamos até mais tarde conversando, o wladimir palmeira e eu, os dois padecíamos de asma, e, os dois nos sentíamos orgulhosos, pois, o ché guevara também sofria de asma !
não havia lugar para dormir, um pedaço da noite, dormi em pé, encostado num muro de um curral que havia no sítio ; de manhã, acordei com gritos e correrias ; quando me levantei e tomei consciência, havia alguém da repressão com um revólver apontado para mim ;
viemos todos presos para são paulo, na primeira tarde, junto com um grupo de companheiros, fiquei preso no “presídio tiradentes”, uma cadeia que foi desativada por hedionda, e, na hora do jantar, veio uma sopa horrorosa ! logo, a nossa palavra de ordem : – vamos fazer uma greve de fome !
do outro lado da grade, um carcereiro preto e feio, com uma enorme colher de pau, batia contra o panelão da sopa e bradava : – urubu aqui é frango !
Benedito duarte, bahia, 12/10/2012;
2 Comentários
Ana Maria, ditadura só pegou vagabundo maconheiro, sequestrador, assaltante de banco… arma na cabeça, sequestro de avião… roubo de cargas, roubo de armas em quarteis… isto foi o que estes vagabundos fizeram.
Fora PT! Fora comunismo an América Latina!
Benê, lembro bem quando vc foi preso e mais um montão de gente. Éramos alunos da FGV, vivendo nossos anos dourados neste pano de fundo: a ditadura. Era um horror, nunca me esquecerei deste período da História brasileira. Além de vc, vários amigos e familiares caíram nas garras dos militares. Até hoje muitos trazem marcas, no corpo e na alma, deste periodo. Eu sentia muito medo. Quando saí do país para morar em Londres em 1975, foi um bálsamo relaxante. Nunca fui um animal político, mas gosto de tentar entender o mundo pra não ficar louca.
Bené, querido baiano, é um prazer ser, até hoje, sua amiga e admiradora. Vc é uma das pessoas mais inteligentes, sensíveis e pensantes que conheço. Beijo