Há pouco mais de quatro décadas, uma Gal Costa com 25 anos subia ao palco do Teatro Tereza Raquel, em Copacabana, no Rio. À época sob direção do poeta Waly Salomão (1943-1990), a baiana estreava em terreno carioca o show “Fa-Tal – Gal a Todo Vapor” (1971). Registrado ao vivo, com ruídos e falhas, tornou-se um dos discos mais emblemáticos de sua carreira. No mesmo espaço – rebatizado de Teatro Net Rio -, Gal gravou, em outubro, o show “Recanto”, que chega agora às lojas em um CD duplo e em um DVD, com direção de Moreno Veloso (áudio) e Dora Jobim e Gabriela Gastal (vídeo).
“Depois de tantas décadas, no mesmo lugar de ‘Fa-tal’, mas um lugar diferente, como eu, como todos nós”, diz Gal, logo após interpretar “Divino Maravilhoso” (Caetano Veloso e Gilberto Gil), em mensagem à plateia, à banda e provavelmente ao seu diretor, Caetano. Ali, no mesmo palco, Gal oficializava um novo e marcante momento de sua carreira. Repetia a formação do disco de estúdio: Pedro Baby (guitarra), Bruno de Lulli (baixo) e Domenico Lancellotti (bateria, MPC 1000 e vocal). E trazia outros ruídos, programados e devidamente orientados por seu novo diretor.
Como Gal aponta no documentário que consta dos extras do DVD, “Recanto” foi, como “Cantar” (1974), concebido por Caetano todo pensado para ela. A assinatura é clara e acompanha o momento musical vivido por ele nos últimos anos. Embalado por sua fase rock’n roll com a Banda Cê, Caetano criou um clima musical para Gal, na definição de Moreno, “diferente, meio forte, às vezes meio pesado, às vezes meio esquisito”.
O resultado, que pode ter soado estranho aos fãs mais conservadores no lançamento do álbum original, fica ainda mais vigoroso ao vivo. E isso é razão do criador e da criatura. “As músicas do disco cresceram muito no show, elas vivem em mim. Esse show é uma entidade que me arrebata e me toma, tanto as canções novas quanto as antigas, que viraram novas”, afirma Gal.
O funk “Miami Maculelê”, o rap “Neguinho”, a eletrônica “Autotune Erótico” a densa “Recanto Escuro” estão no novo repertório experimental integralmente composto por Caetano. O cantor e compositor baiano, que inicia hoje a turnê “Abraçaço” (leia ao lado), ainda aparece em clássicos comerciais de outrora como “Baby”, “Meu Bem, Meu Mal” e “Força Estranha”. E divide os holofotes com Chico Buarque (“Folhetim”), Gilberto Gil (“Barato Total”), Jorge Ben Jor (“Deus é o Amor”) e Dorival Caymmi (“Modinha para Gabriela”). Leia mais aqui.