Este artigo de Jorge Félix, um dos maiores especialistas brasileiros em economia da longevidade, é maravilhoso porque mostra os grandes investimentos do Google, a gigante da internet, na área de pesquisas e empresas que estudam o envelhecimento. A mãe de um dos fundadores do Google sofre de Alzheimer. Aparentemente, este seria o motivo por trás da decisão de investir tanto dinheiro em companhias voltadas para a saúde. “O grande passo foi a fundação da Calico, empresa de pesquisas de mapeamento genético, que tem como missão descobrir o gene do envelhecimento”, explica o autor.
Leia o artigo publicado no site brasileiros.com.br:
Quando comecei a estudar envelhecimento populacional, ouvia dos amigos – e alguns ainda falam isso – em referência ao meu objeto de pesquisa: “Esse negócio seu de velhinhos” ou “Essa sua coisa aí da velhice”. Natural. Envelhecer é sempre um verbo dos outros. Nada mais distante da realidade de cada um fechado em si mesmo. É difícil perceber o tempo passar a cada dia. Mais ainda aceitar sua inexorabilidade. É tão complicada essa relação a ponto de ser quase impossível ouvir a frase “nós, idosos”.
O mais comum é ouvir “os idosos”, mesmo quando o locutor já é um deles. Com o novo envelhecer do século 21, o famoso “70 o novo 50”, esse comportamento é cada vez mais latente. É como se ao apagar a palavra “envelhecer” do vocabulário, as pessoas conseguissem parar o tempo. Como digo em meu livro Viver Muito, se confunde o envelhecer bem com o não envelhecer.
Há um momento, porém, em que o tempo surge implacável, materializado ali na nossa frente. É quando nos deparamos com a velhice dos nossos pais. Seja alegre, e suscitando desejos de “eu quero envelhecer como minha mãe”, ou desafiadora, provocando o “eu não quero envelhecer assim”. Nesse momento, a velhice torna-se uma questão presente. Ela nos diz respeito. Foi assim para Sergey Brin, co-fundador do Google, cuja mãe é paciente de Parkinson. Muitos colunistas de tecnologia atribuem a este fato a decisão da gigante mundial de investir pesadamente na área de pesquisas e empresas relacionadas ao envelhecimento.
Brin conheceu suas altas chances genéticas de adquirir a doença. A partir de então, descobriu a velhice. E sua empresa também. “O Google parece acreditar que faz sentido usar algumas das mesmas tecnologias de computação que desenvolveu para organizar a internet para melhorar o corpo humano”, escreveu Will Oremus, colunista da Slate, analisando essa – já não tão nova – estratégia de uma das maiores marcas da – idem – economia digital.
Agora o Google está se tornando uma das principais empresas da economia da longevidade. O grande passo foi a fundação da Calico, empresa de pesquisas de mapeamento genético, que tem como missão descobrir o gene do envelhecimento. “Isso poderia parecer loucura, se não fosse o Google”, escreveu a revista Time, há dois anos, em reportagem de capa dedicada ao feito.
Arthur Levinson, ex-CEO da Genentech, referência nas pesquisas em DNA foi contratado para presidir a empresa da família Google. A Calico vem fazer frente a outras companhias, como a Human Longevity Inc., que descobriram o “mercado da longevidade humana”, como escreveu Paul H. Irving, presidente do Center for the Future of Aging do Milken Institute, em seu blog no Huffington Post.
A Calico é apenas a empresa do grupo de maior visibilidade por sua ousadia. Atualmente, o Google Ventures tem algum tipo de investimento em mais de 300 startups na área de saúde, ciência ou mobilidade, muitas de alguma forma relacionadas ao tema do envelhecimento. O anúncio mais divulgado mundo afora foi a compra, no ano passado, da Lift Labs, a famosa colher para pacientes de Parkinson. Clique aqui para ler mais.