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Helena Rubenstein, a mulher que inventou a beleza

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Este artigo trata de uma das mulheres mais importantes e fascinantes do século 20: a polonesa Helena Rubinstein, cuja biografia, lançada pela escritora francesa Michèle Fitoussi, foi lançada no Brasil. Helena Começou a vida pobre na Polônia. Saiu de casa jovem, aos 21 anos, para se fixar na Austrália. Tornou-se, graças a seu incansável trabalho, uma das mulheres mais ricas do século passado. “A mulher que inventou a beleza: a vida de Helena Rubinstein” é o título do livro que desnuda a “imperatriz da beleza”, apelido que a cosmetóloga, morta em 1965, aos 95 anos, em Nova York, ganhou do escritor francês Jean Cocteau. Leia o artigo de Melina Dalboni:

“Uma aventura digna de roteiro de cinema. O ano é 1896. Chaja Rubinstein, uma  jovem polonesa de 24 anos, nascida numa família humilde de judeus ortodoxos,  deixa seu país para tentar a vida sozinha na Austrália. Na bagagem do navio  alemão que a levou, uma mala e 12 preciosos potes de creme para tratar a pele,  um presente de sua mãe. Além de cangurus e muito sol, a imigrante solteira  enfrentou trabalho forçado e outros contratempos até que fez-se a luz. Depois de  tanto ouvir elogios sobre seu rosto sem manchas, traçou um plano ambicioso:  recriar a fórmula do hidratante facial, receita de um amigo da família na  Cracóvia. Em 1902, já com novo nome, Helena Rubinstein (1872-1965) abre seu  primeiro instituto de beleza em Melbourne para virar em menos de uma década a  imperatriz da beleza, como a apelidou Jean Cocteau.

Com o pintor Pablo Picasso

— Eu conhecia sobretudo os produtos de beleza dela, mas comecei a me  interessar depois de ler uma pequena monografia sobre a marca — conta a  escritora Michèle Fitoussi, editora da “Elle” francesa e autora da biografia “A  mulher que inventou a beleza: a vida de Helena Rubinstein” — Adorei seu lado  aventureiro de partir sozinha aos 24 anos para a Austrália para se juntar a três  tios que ela nem conhecia. Sua coragem e seu espírito pioneiro e intrépido me fascinaram.

Michèle, que trabalhou dois anos no livro, está lançando a publicação no  Brasil pela editora Objetiva. O livro começa a ser vendido hoje no formato  e-book e chega às livrarias no início de setembro. Nas mais de 300 páginas, a  autora narra a trajetória de uma das mulheres mais ricas do século XX, comparada  a nomes como Coco Chanel, Elizabeth Arden e Estée Lauder, que tinha como lema a  seguinte frase sobre o trabalho: “Nada melhor para evitar rugas do rosto e do  espírito”.

Pioneira nos cuidados com a beleza sob o ponto de vista científico, Helena  Rubinstein ensinava as australianas a limpar, tonificar e hidratar a pele, além  de manter distância do sol, no início do século passado. Indicava intuitivamente  a classificação das peles em seca, oleosa e normal, recomendando proteção e  hidratação personalizadas. Uma de suas primeiras campanhas publicitárias, setor  em que investiu desde os primeiros tempos da marca, ditava: “Beleza é poder. O  mais importante de todos até”.

Helena tinha um senso aguçado de marketing: aproximava-se das estrelas do teatro para oferecer seus tratamentos e também presenteava as jornalistas que a entrevistavam. Ela enriqueceu rapidamente a custa de muito trabalho (de noite, fabricava os produtos. De dia, recebia as clientes). Considerada uma heroína self-made woman na Austrália, ela deixou os negócios sob os cuidados de uma de suas oito irmãs para perseguir como uma nômade o sucesso em Londres, depois em Paris e, durante a primeira guerra mundial, nos EUA.

— Helena é uma das grandes heroínas do século passado, que percorreu sua trajetória em paralelo à emancipação das mulheres, causa para a qual ela mesma contribuiu — avalia Michèle.

Veja antigos comerciais da Helena Rubinstein:

Recepções em Paris com Dalí, Picasso, Poiret e Matisse

Como Chanel, Helena — conhecida apenas como Madame — teve uma infância pobre, penou nos primeiros anos da juventude, tornou-se pioneira e virou uma das mulheres mais ricas e famosas do mundo. Mas, ao contrário da estilista francesa, ela não precisou do investimento de amantes ricos. Helena casou-se com um escritor sem um tostão que formou seu olhar para cultura, além de ser um de seus principais conselheiros.

Tímida e com 1,47m, ela conquistou Paris com os conselhos de Misia Sert — musa de artistas do século XX e uma das melhores amigas (e rivais) de Chanel. Helena passou a receber em casa aos domingos nomes como Picasso, Modigliani (“Um rapaz gentil, mas sujo”), Matisse, Proust (“tem cheiro de naftalina”), Joyce (“comia como um passarinho”) e Poiret (de quem era melhor amiga). Alguns, como Dalí, chegaram a desenhar frascos para seus produtos.

Ávida colecionadora de joias, de arte primitiva e de artes plásticas (muitas peças eram exibidas em seus salões de beleza), ela tinha a mania de encomendar retratos seus a pintores — outro conselho de Misia. “É bom para publicidade, um excelente investimento e preenche paredes vazias”, revelou Helena .

Sem tempo para ter amantes

Helena pagou com sua vida pessoal a dedicação absoluta à construção e à manutenção da marca como uma das mais famosas do mundo. Foi infeliz em seu primeiro casamento, não viu os dois filhos crescerem e viveu momentos de solidão e depressão (curados em estadias em spas e muitas viagens). Nos anos 20, encontrou Chanel no apartamento de Diana Vreeland (que ainda não era editora da “Vogue”). As duas criadoras trocaram confidências sozinhas por horas num quarto. Chanel perguntou a Helena se ela teve amantes:

—Nunca tive tempo ou vontade.

Apesar da insistência de seus dois maridos (o segundo era 23 anos mais novo) de que reduzisse a carga de trabalho, Helena seguia sempre em frente. Entre as regras que obedecia estavam: nunca deixar uma correspondência sem resposta, ouvir com atenção, dormir uma noite inteira antes de tomar uma decisão importante e, em caso de dúvida, pedir conselho e se calar.

Tinha como arquirrival Elizabeth Arden. Nos anos 20, vendeu sua empresa americana para os Lehman Brothers, que deram à marca um rumo que ela não aprovou. Inconformada, ela recomprou as ações após a Crise de 1929 — lucrando cerca de US$ 5 milhões com a manobra. Sempre a frente de seu tempo, Helena lançou protetores solares, autobronzeadores resistentes à água, cremes modeladores para o corpo e rímel a prova d’água. Era incansável. Além de inventar a beleza, como diz o título de sua biografia, ela ainda contribuiu para sua democratização. Sem nunca perder o glamour.

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