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IBGE começa censo em agosto. Boa parte dos recenseadores tem mais de 50 anos

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Muitos aposentados e gente com mais de 50 desempregada fazem parte da equipe de recenseadores. Na foto, reprodução/Internet , eles sendo treinados  para o trabalho de campo

Márcia Lage

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O Brasil pretende tirar uma fotografia de si mesmo a partir do dia primeiro de agosto, por meio do censo demográfico, que pesquisará de porta em porta dados importantíssimos para a formulação de programas de governo.

Com muitas pessoas mais velhas, as salas de treinamento dos recenseadores, que ocorreram esta semana, deram um retrato preliminar do país.

Quando você abrir a casa para receber o pesquisador, será  bem maior a probabilidade que se depare com alguém acima dos 50 do que com um jovem saído da faculdade ou do Ensino Médio.

Pesquisadores mais jovens não são muitos

Entrevistei alguns desses candidatos. Os jovens buscam ocupações de longo prazo, para entrarem com segurança na vida adulta. Um emprego de três meses (tempo de duração do censo), estressante e não tão bem remunerado, não interessou a muitos deles.

As pessoas que fizeram o concurso e o treinamento tiveram grande dificuldade para pagar o custo das passagens de ônibus e do almoço.

O governo deu uma diária de 40 reais aos treinandos, mas não depositou o dinheiro a tempo. Muitos desistiram por total incapacidade de arcar antecipadamente com essas despesas.

Boa parte tem entre 40 e 50 anos

Já os da faixa dos 40/50 anos se encontram no limbo do desemprego. Não podem mais ganhar como um estagiário, pois já constituíram família e têm as obrigações pesadas dos adultos para carregar: filhos, comida, aluguel, roupas, prestações, contas de água, luz e telefone.

Alguns foram colhidos pela epidemia e perderam seus negócios. Outros tentam mudar de ramo, mas não têm capital de giro. Esses até tinham carros para ir ao treinamento. Carros velhos, sem manutenção. Ou com o tanque vazio pela falta de condições de abastecer.

Dependiam do transporte público e pesava no bolso os 15 reais por dia que gastavam para ir e voltar ao treinamento.

Acima de um terço tem mais de 60

Os idosos eram muitos na sala de treinamento . Mais de um terço. Estavam ali porque, ou não conseguiram se aposentar ainda em função do aumento da idade mínima na última reforma da Previdência; ou ajudam com seus parcos benefícios grande parte da familia e estão pendurados em empréstimos compulsórios; ou chegaram à terceira idade cheios de gás, viraram artistas, escritores, artesãos, mas não têm recursos para comprar material para seus trabalhos nem casa própria para montar o tão sonhado atelier.

Resumindo, são brasileiros dignos, que lutam por oportunidades e que só deparam com obstáculos no seu caminho. Muitos estavam deprimidos e viam no trabalho de campo um respiro na loucura. Vão dar o melhor de si nas andanças sob sol e chuva, por rendimentos que são baixos, mas que melhoram um pouco se a produção for alta.

A falta do depósito das diárias, que mal dá para um almoço nos restaurantes que cobram até 100 reais por quilo, é um retrato da incompetência dos serviços públicos e do descompromisso dos governos para com o povo que o elege.

Um retrato bem nítido da nação

O Censo vai mostrar claramente esta fotografia triste das injustiças sociais e da falta de oportunidades para o grosso da população.

Os dados obtidos permitirão que o próximo recenseamento, daqui a 10 anos, retrate um povo mais satisfeito ou não.

Dependerá da intenção de quem vai estar no comando da Nação. Se comprometido com a correção da foto ou com uma simples maquiagem da mesma, ignorando a verdade que encontrará no retrato que esses 180 mil recenseadores lhes enviarão em outubro próximo.

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