Shirley Pacelli – Estado de Minas –
São 12 horas por dia trabalhando. Vinte e cinco netos e 24 bisnetos. Idade? 101 anos. Mas talvez o mais importante número seja o 18º São Francisco de Assis que está em processo de criação pelas mãos de Lêda Gontijo. Do alto do seu centenário e prestes a completar mais um aniversário no próximo dia 12, a artista plástica mineira não para. “O sucesso da minha saúde é o trabalho”, diz.
Em celebração aos seus 101 anos, Lêda ganha a exposição Força estranha, a partir da próxima quarta-feira, na galeria de arte do Minas Tênis Clube. Com curadoria de Paulo Rossi, serão exibidas 80 obras que fazem uma retrospectiva da carreira da artista.
Peças de argila, cerâmica, madeira e pedra estão entre as selecionadas. “Sou muito eclética. Não tenho estilo. Faço o que dá na cabeça. Quero fazer pássaro, faço pássaro. Quero figura humana, faço. (Ter) Obrigação é muito chato”, afirma dona Lêda.
A idade não lhe roubou a memória e apurou seu senso de humor. Mas também lhe deu o direito à sinceridade. “Já perdi as contas na minha vida de quantas exposições fiz. Quero ver se agora chega de fazer exposição, né? Trabalhar na hora que tem vontade, sem compromisso. O que cansa a gente é o tal do compromisso.”
A artista recebeu o Estado de Minas em sua casa, em Lagoa Santa, um terreno arborizado de 8 mil metros quadrados, a uma quadra do cartão-postal da cidade. Em meio a coqueiros e gramado verdinho, peças de pedra-sabão e concreto se espalham pela área. Tem sapo, tomate gigante e até uma obra em homenagem a um cão querido que já se foi.
Em sua sala, dona Lêda ostenta seu retrato inacabado feito por Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), de quem foi uma das primeiras alunas. É entre jabuticabeiras e uma mangueira que fica o Mi Ranchito, ateliê onde tudo se transforma pelas mãos de dona Lêda.
A escultora tem carinho e cuidado com suas obras. Para a exposição, vieram peças de São Paulo e do Rio de Janeiro. Algumas chegaram arranhadas ou quebradas e ela passou horas reparando-as. “Estou fazendo uma vistoria”, explicou. De todas as peças que criou, a artista destaca duas: as imagens de São Tomás de Aquino e São Agostinho que estão no Mausoléu dos Imortais, no Cemitério São João Batista (Rio de Janeiro). “Considero-as minhas obras-primas, porque levei um ano para fazer cada escultura.”
MEDALHA Foi com elas que dona Lêda se tornou a primeira mulher a ganhar a medalha Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 1964. Feitas em pedra-sabão, em tamanho natural, as obras ficarão de fora da exposição, devido à dificuldade de transporte. “Meu neto me telefonou rindo muito e falou: ‘Vovó, você vai ficar muito orgulhosa e vai rir demais da conta’. Falei: ‘o que houve meu filho?’. ‘Vim aqui para tirar uns retratos porque as esculturas são muito grandes e muito pesadas, não tem como transportar. O coveiro encontrou comigo para abrir a cripta e contou sua vida inteira’”, conta dona Lêda. Clique aqui para ler mais.
3 Comentários
Não conheço nem dona Leda nem aos seus trabalhos. Mas parabenizo-a pela idade e pela tenacidade de continuar criando aos 102 anos. Lembrei-me de Cora Coralina aqui do Goiás Velho, que começou bemmais tarde, mas continuou criando os mais belos versos de amor pela vida até bem velhinha. Beijos dona Le
da!
[…] Lêda Gontijo, 100 anos: “O sucesso da minha saúde é o trabalho” […]
Esse é também o meu lema: trabalho é saúde!