Maya Santana
Um livro da Geração Editorial, lançado em junho, portanto três meses antes das eleições, merecia maior atenção da mídia brasileira: “Um País Sem Excelências Nem Mordomias”, da jornalista carioca Cláudia Wallin, há 10 anos vivendo em Estocolmo, capital da Suécia, mostra para nós brasileiros que é possível decência na política. A autora faz um relato minucioso da vida dos políticos suecos, inclusive do Primeiro Ministro, mostrando que não têm regalias, prestam contas – não com notas frias – de todo centavo que gastam e são tratados como prestadores de serviço à nação.
“(Deputados) Não têm direito a nenhum luxo mesmo vivendo numa das nações mais ricas do planeta. E não aumentam os próprios salários. Não possuem carro oficial, motorista ou um cortejo de assessores. Andam de metrô, ônibus, bicicleta ou a pé. E correm o sério risco de caírem em desgraça – e até irem parar nas manchetes – se usarem táxi sem necessidade ou simplesmente por comprarem uma barra de chocolate com o cartão corporativo. Vereadores não têm salários. Políticos vivem em casas simples”, revela o livro.
O tratamento dispensado ao político sueco é “você” e não “excelência”, abolido há tempos. As diferenças com o Brasil são enormes. É como se um país fosse o oposto do outro. Lá, o político cozinha para si próprio, lava e passa a própria roupa. Imagine os nossos políticos, nossas “excelências” , fazendo isso. Na entrevista que dá a Jô Soares, Cláudia diz que começou a descobrir o que era a política sueca num dia em que estava fazendo compras em um supermercado e reconheceu ao lado, empurrando um carrinho de compras, o ex-Primeiro Ministro, atual ministro das Relações Exteriores, Carl Bildt. A autora, como reagiria qualquer outro brasileiro, ficou perplexa.
Alguém pode dizer, mas a Suécia tem características tão diversas das do Brasil. Seus habitantes não passam dos 10 milhões. Faz parte do clube dos países ricos, juntamente com seus vizinhos nórdicos – Noruega, Finlândia e Dinamarca – ,socialmente estáveis, com uma população que desfruta de um dos padrões de vida mais altos do mundo. A questão é que a Suécia já foi um país pobre e corrupto. E a autora mostra isso.
Esse talvez seja o grande ensinamento para nós brasileiros: como um país pobre e assolado pela corrupção conseguiu se transformar em uma nação rica, com um dos índices mais baixos de desigualdade social do planeta? Está tudo lá, em “Um Páis Sem Excelências e Mordomias.” Espero estar realmente contribuindo para a divulgação do livro, para que mais brasileiros possam ver, ainda que com toda descrença em nossos políticos, que há um caminho. Mesmo que ele seja de uma distância infinita.
Veja a ótima entrevista da autora ao Programa do Jô: