Depois de ler este artigo da Folha de São Paulo, enviado pela amiga Elza Cataldo, achei que não poderia deixar de publicar no 50emais. A autora é Alexandra Baldeh Loras, 37, francesa de origem muçulmana e judaica, que vive no Brasil há dois anos como consulesa da França em São Paulo.
Preste atenção ao que ela diz:
Quando vi nos telejornais que o sequestrador do supermercado kosher em Paris se chamava Coulibaly, fiquei rezando para que não fosse um dos meus primos. É um sobrenome comum na África. O terrorista que matou quatro reféns não era meu parente, mas é como se fosse. É negro e francês como eu. O que aconteceu na vida dele para que se tornasse tão violento?
As mortes na redação do “Charlie Hebdo” e no supermercado são atos detestáveis do terrorismo. Antes de falar de liberdades, o respeito pela vida humana me leva a condenar os ataques categoricamente como um ato bárbaro inaceitável. Estou de luto pelas famílias das vítimas.
Ouvi e li nas redes sociais muitas reações violentas: “esses animais, selvagens, negro sujo, árabes imundos…”. A lista de insultos é longa, mas gostaria de convidar a todos a se perguntarem o que levou esses franceses a cometer tais crimes hediondos. Os terroristas passaram alguns meses no Iêmen sendo treinados e várias décadas na França. Então, a base da identidade deles é francesa. (Veja as fotos com charges de protesto de cartunistas do mundo inteiro:)
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Apesar do nosso lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, fomos de geração em geração condicionados a pensar que o racismo e o sexismo são naturais. Uma hierarquia construída durante séculos declarou que os homens são superiores às mulheres, que só tiveram direito de voto em 1944, e que os brancos eram superiores a árabes e negros.
Foi uma dor imensa crescer na França como negra. Sou de origem muçulmana, já que meu pai é da Gâmbia, um país da África Ocidental. Nasci em Paris, de mãe francesa, branca e católica.
O que me machucava quando criança é que sempre me perguntavam de onde vinha. Até os meus 21 anos, eu não conhecia Gâmbia. Fui criada na França. Meu avô era comunista, foi secretário-geral do partido anarquista, mas era super racista.
O “Charlie Hebdo” é um jornal de esquerda, que sempre publicou charges que podem ser interpretadas como xenófobas, racistas e antissemitas. Defendem um Estado laico, o que não quer dizer ateísta. Ser laico, na verdade, é respeitar todas as religiões. Que liberdade de expressão estamos defendendo? Pode-se faltar com respeito a profetas reverenciados por uma comunidade que não tem poder nos meios de comunicação para se expressar? Clique aqui para ler mais.