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Mercado de moda para a geração prateada ganha impulso

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Lalá Guimarães, 69: A moda está cada vez mais democrática

Mesmo ainda sendo ignorado pelos estilistas, o mercado da moda para pessoas mais velhas está em expansão. E vai se expandir, ainda que lentamente, cada vez mais, porque a população brasileira vem envelhecendo rapidamente. Nesta´ótima reportagem para o Globo, Carolina Barbosa mostra que a moda para a mulher madura está sendo impulsionada pelas Coleções exclusivas e experimentais.

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Em viagem pela Europa, nos idos de 2011, a empresária Suely Tonarque observou atentamente as vitrines parisienses em busca de um modelito que caísse bem em seu corpo, à época com 60 anos. Ao bater os olhos em um vestido de renda off-white , pediu para experimentar a peça em tamanho G. “Fiquei apaixonada. Tive a ilusão de que, naquela roupa, ficaria linda e maravilhosa. Mas, na metade do peito, o vestido agarrou. Pedi ajuda para tirá-lo e, timidamente, perguntei se havia um número maior.

Ali percebi que o meu corpo não era mais o mesmo de quando tinha 30, 40 anos”, lembra. Diante da resposta negativa, percebeu que havia um nicho a ser explorado: o mercado fashion para mulheres maduras. Em parceria com a irmã, a designer Siuza Tonarque, em 2018, inaugurou a loja Vila dos Louros, na Vila Madalena, em São Paulo. Dois meses atrás, lançou o livro “Vestir com os desafios do envelhecimento” (Portal Edições).

A publicação reúne não só as experiências pessoais de Suely como também os desafios de quem deseja se vestir bem, independentemente da idade. “Envelhecer é um processo da arte de viver. Com esta obra, pretendo inspirar as pessoas e divulgar a velhice com beleza e vitalidade.”

Modelo e estilista Helena Schargel lançou sua própria coleção de lingerie

Sobre as peças para o dia a dia, ela indica: “Invisto em calças saruel com elástico na cintura, porque trazem conforto. Tecidos mais grossos também são uma ótima opção. Muitas vezes, disfarçam as celulites e as gordurinhas”.

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Atenta à promissora seara, a empreendedora Helena Schargel, de 79 anos, lançou, em fevereiro, em parceria com a marca de lingerie Recco, uma coleção com 20 peças — entre calcinhas, sutiãs, pijamas e camisolas — dedicada às mulheres 60+. “Nas minhas pesquisas, percebi que não havia nada focado neste segmento porque a longevidade ainda é algo recente. Sentia falta de itens que fossem sexy e, ao mesmo tempo, confortáveis” , afirma ela, que foi a própria modelo da campanha.

Tamanho sucesso levou Helena a ministrar dezenas de palestras pelo país e a receber convites para falar sobre o assunto no exterior. “Pretendo tirar essas mulheres da invisibilidade mostrando que, a partir dos 60 anos, elas podem tudo”, pontua. E ela não para por aí: neste mês, Helena lança uma coleção esportiva em colaboração com a marca de fitness e beachwear Alto Giro (a mesma que tem uma linha com a apresentadora Sabrina Sato). “Penso sempre em modelos práticos, versáteis e que vão valorizar o corpo, daqueles para serem usados o dia todo. Quero limar esse preconceito de que roupa para mulheres mais velhas têm que ser feias ou caretas”, enfatiza.

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Referência de estilo, a relações-públicas Lalá Guimarães, de 69 anos, também aposta na mudança de paradigma. “A moda está cada vez mais democrática. Vários tabus foram deixados de lado. Há diversas ferramentas para se vestir bem e da maneira de que se gosta. Mas é preciso ter autoestima, bom senso e conhecer a fundo o seu estilo”, diz.

E este mercado não vai parar de crescer. Dados do Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estatísticas (IBGE) apontam que, atualmente, o público sênior já representa quase 20% do consumo, movimentando cerca de R$ 1,8 trilhão na economia. “O Brasil é um dos países com envelhecimento populacional mais acelerado do mundo. Em 32 anos, será o sexto com maior parcela da população 60+, estando à frente de todos os países em desenvolvimento”, observa Bete Marin, cofundadora da agência Hype60+, de São Paulo.

Do alto de seus 80 anos, a consultora de moda Costanza Pascolato ressalta: a roupa para mulheres mais velhas precisa ser pensada. “Não escolho, por exemplo, uma demarcação muito óbvia para a cintura. É importante priorizar modelos com um ombro bem construído e uma manga bem-feita.

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Outro conselho é jamais usar itens colados no corpo”, ensina a papisa. Para Costanza, a transformação deste mercado vem sendo impulsionada pela internet. Outros frutos da rede (mais precisamente, do Instagram) são os influenciadores digitais que dominam a cena internacional, como o fotógrafo Ari Seth Cohen (à frente do Advanced Style), Baddie Winkle, Lyn Slater (do Icon Accidental) e Sarah Jane Adams. Em suas contas, fotos de looks arrojados provam que bom humor e estilo não têm data de validade.

O sucesso dentro e fora do mundo digital é incontestável: o Advanced Style virou livro e documentário; Baddie Winkle, de 91 anos, tem quase quatro milhões de seguidores; e Sarah Jane Adams endossa sua filosofia com a hashtag #mywrinklesaremystripes (minhas rugas são minhas listras).

Na toada desta moda mais inclusiva, alunos da Firjan SENAI Espaço da Moda em Nova Friburgo apresentaram durante a 8ª edição do Veste Rio, uma coleção feita sob medida para a geração prateada. “Nossos estudantes elaboraram modelos que conectam saúde, conforto, tecnologia e bem-estar, respeitando o estilo da mulher madura que sabe o que quer”, diz a coordenadora do curso de moda, Millena Carriello. Entre as peças, destaque para o body com pontos magnéticos que acionam a circulação sanguínea. “Fiquei muito feliz em poder reforçar a beleza dos meus fios brancos em combinação com os looks inovadores”, comemora a modelo Beth Motta, de 63.

O tempo delas é agora.

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