Angela Klinke
Ela é das antigas. Aos 65 anos, coloca a camisa grená (aquela com o São Jorge) e segue a pé para o Pacaembu. A policial feminina na entrada do estádio a cumprimenta pelo nome, enquanto confere, mais por hábito, se ela está mesmo inscrita na lista dos não pagantes. Claro que sim. Lá vai, então, com o boné ajeitado nos cabelos branquinhos para o setor verde, sentar-se na última fileira, aquela parcialmente coberta, ao lado de outros aposentados. Em mais de quatro décadas indo a estádios, ela sabe que há bem mais mulheres ocupando as arquibancadas nos últimos anos. Várias delas vão sozinhas. Outras carregam crianças.
A Copa das Confederações está aí, uma prévia para a “apoteose” de 2014. Mas até agora as mulheres não são protagonistas na torcida brasileira, pelo menos para os anunciantes e patrocinadores. Será que vão ficar relegadas ao papel das provedoras de petiscos no dia da partida ou ao de coadjuvantes carnudas para as cervejarias?
Num momento em que se questiona o legado da Copa do Mundo e a viabilidade econômica dos estádios, é pura miopia ignorar a importância da mulher para o futebol. Ou será que neste quesito ainda estamos na classificação “nicho de mercado”? A consultoria Pluri investigou o interesse das moçoilas pelo esporte no fim do ano passado. Entrevistou-as em seis capitais e descobriu que 62% delas gostam de futebol. Das 38% que não se interessam, metade estaria disposta a ir ao estádio como opção de entretenimento. Para isso exigem o básico, como qualquer cidadão: banheiros decentes, segurança e, de preferência, cobertura. Chuva, não, “please” (mas imagine uma ação de marketing com antifrizz para os fios úmidos e arrepiados…).
“A Europa já descobriu há muito tempo a importância das mulheres nos estádios. O clima muda de guerra para festa, elas inibem a violência”, diz Fernando Ferreira, sócio da Pluri. “Além disso, elas consomem mais, no estádio e fora dele, chamam mais a atenção de patrocinadores e, fundamental, favorecem a formação de novos torcedores com o aumento natural da presença de crianças.”
Veja só, pensar na torcida do futuro, quando o público mingua a cada campeonato, significa criar filhos e filhas engajados com o esporte além dos games da Fifa ou das camisas chiques dos times internacionais, como a do Barcelona. As torcedoras não são espectadoras passivas, acompanhantes de maridos ou namorados. Há uma geração de garotas buscando espaço nas escolinhas de futebol do país. Um contingente de moças que compra jogos nos canais fechados. Ou que encara as adversidades nos estádios. Elas estão sedentas para sentar na primeira fila. Leia mais em valor.com.br