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“Não estou aqui só para pensar na morte”

O ator vai completar 74 anos na próxima quinta-feira, 25 de agosto. Foto: Divulgação

 

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Uma boa entrevista de Tony Ramos a propósito de seu novo filme “45 do Segundo Tempo”, que acaba de entrar em cartaz. Mas o ator não se limita a falar de seu mais recente papel no cinema. Conversa um pouco sobre tudo, inclusive  sobre a nossa finitude, sobre a morte, um assunto abordado no filme. ”Pensar na morte não significa entrar em desespero” – afirma o ator, arrematando: “Pensar na finitude é saber quão importante é você se cuidar.”

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Um palmeirense fanático, nervoso, amargurado, que acredita que seus melhores anos passaram e que mal encontra motivos para seguir vivendo. Este é Bruno Baresi, personagem de Tony Ramos na comédia, com boas pitadas de drama, “45 do segundo tempo”, em cartaz nos cinemas. O ator, por sinal, não poderia ser mais diferente de seu personagem: são-paulino, gentil, que vive o presente e que deseja continuar trabalhando e contribuindo com a cultura.

Tony lembra que precisou ler apenas 12 páginas do roteiro para aceitar o convite do diretor e roteirista Luiz Villaça, com quem havia trabalhado na minissérie “A mulher do prefeito” (2013), da Globo. O ator se encantou pelo personagem e por sua história de sonhos não realizados.

Na trama, Baresi é o dono de uma cantina italiana ameaçada de falir. Em meio a vários problemas, reencontra-se com dois amigos dos tempos de colégio para recriar uma foto tirada na inauguração do metrô de São Paulo. Ivan (Cássio Gabus Mendes) é um advogado de sucesso passando por um processo de separação. E Mariano (Ary França) é um padre em crise com a batina. Juntos após 40 anos, descobrem que um quarto amigo faleceu recentemente e iniciam uma jornada para reencontrar a paixão pela vida.

Tolerância e respeito

A nostalgia e a ideia de que “os tempos bons já passaram” fazem parte da essência do longa. Tony também se interessa pela nostalgia, mas com um olhar diferente.

Natural de Arapongas, no Paraná, Tony Ramos está há 45 anos nas telas. Foto: Divulgação

— Eu sou muito do presente. Muitas vezes você idealiza um passado que não foi realmente aquele que viveu. Não sou nostálgico. Olho para o passado com respeito e como referencial de vida, para aprendizado, mas nunca uma nostalgia que me deixe melancólico — conta Tony em conversa via Zoom.

Além da nostalgia, outro tema que chama atenção no novo filme é a finitude. Tony destaca que não trata a morte como tabu e que pensa e conversa sobre ela, mas nunca de forma pesada ou mórbida:

— Pensar na morte não significa entrar em desespero filosófico pela finitude. É normal pensar na morte, mas não é algo que precisa ser feito o tempo inteiro. Não estou aqui só para pensar na morte. Estou aqui para viver, para tomar um bom vinho, para viajar, para aproveitar meus filhos, meus netos, minha companheira. Pensar na finitude é saber quão importante é você se cuidar.

Às vésperas de completar 74 anos, no próximo dia 25, o ator se diz muito bem resolvido em sua vida pessoal e muito feliz com seu casamento de 53 anos com Lidiane Barbosa.

— O que desejo na minha vida pessoal é continuar de mãos dadas com essa companheira de toda uma vida e tocar meu barco através de um leme seguro, vivido e experimentado, que essa mão aqui pode comandar. Um leme que passa sempre por mares onde tem tolerância, compreensão, respeito e amor — aponta. — Na minha vida profissional, busco projetos que me surpreendam.

Um novo projeto que “surpreendeu” Tony foi a série “Encantado’s”, em desenvolvimento no Globoplay. Na produção, ele interpreta o bicheiro Madurão, que atrapalha a vida dos protagonistas vividos por Vilma Melo e Luís Miranda. Recentemente, o ator fez participação na série “Sob pressão” e no projeto “Novelei”, produção da Globo para o YouTube que faz homenagens às novelas.

O ator comenta que, já tendo tomado as quatro doses da vacina contra a Covid-19, agora celebra o momento em que pode voltar a realizar atividades como ir ao cinema e ao teatro, além de viajar.

Para os próximos meses, espera a chegada da Copa do Mundo. Em depoimento recente ao programa “A Copa que eu vi”, da Globo,   Tony não segurou as lágrimas ao lembrar da avó, que assistiu ao torneio com ele, em 1962.

Veja o trailer do filme 45 do Segundo Tempo:

Pensamento plural

Há mais de cinco décadas nas telas, o paranaense de Arapongas cultivou durante este período sua fama de gentil. Recentemente, após entrevistá-lo para a próxima temporada de seu programa, o “Lady Night”, Tatá Werneck se derreteu: “Eu não o conhecia pessoalmente, mas sempre ouvi dizer que ele era a pessoa mais gentil do mundo. Ele é muito mais que isso”.

— Ter fama de gentil é uma pena, a gentileza deveria habitar cada um de nós sempre. A civilidade deveria habitar cada um de nós sempre. Ser tolerante, não ter preconceitos, deveria ser regra básica para o ser humano. Esta gentileza que propagam é apenas um homem que respeita o próximo — diz Tony.

Apesar de exercer a gentileza, ele conta que também é capaz de perder a cabeça, mas que sempre tenta manter a paciência:

— A soberba, o preconceito racial, o preconceito de gênero e a falta de educação são coisas que me fazem perder a cabeça e responder com a veemência que o ato em si mereça. Mas eu sempre procuro contar até mil. E quando chego em 999, eu falo: “Vou esperar chegar em 1.005.”

Com a proximidade das eleições, Tony lembra que nunca subiu em palanques políticos e que nunca irá subir. Ele brinca que, às vezes, é bom ficar em cima do muro para saber qual caminho não seguir.

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