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Nobel de Literatura 2022 na Festa de Paraty

Annie Eraux, 82, é a primeira francesa a ganhar o prêmio máximo da literatura mundial. Foto: Reprodução/Internet

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A ganhadora do Nobel de Literatura de 2022, a francesa Annie Ernaux, 82, é uma das 17 escritoras laureadas na história do prêmio internacional  mais importante na área literária. Só para se ter uma ideia, o vencedor leva o equivalente a cerca de cinco milhões de reais. Mais de uma centana de homens já receberam esse prêmio, criado na Suécia, em 1895, e criticado por ser muito voltado para a Europa.

Uma das mais importantes autoras da França, Annie escreve romances sobre a vida cotidiana e tem vários de seus livros publicados no Brasil, inclusive Os Anos e O Acontecimento. Agora, é aguardada com grande ansiedade na Festa Internacional de Paraty.

Leia mais sobre Annie Ernaux neste artigo publicado por O Globo:

Publicada no Brasil pela editora Fósforo, Ernaux é uma das presenças confirmadas na Festa Internacional de Paraty, que começa no dia 23 de novembro (ela falará no sábado, 26, com a escritora gaúcha Veronica Stigger).

“É honra muito grande”, disse ela à imprensa sueca, logo após o anúncio. “Fiquei muito surpresa. Nunca imaginei que iria escapar da minha bolha como escritora. É uma grande responsabilidade… testemunhar o mundo com exatidão e justiça, e não apenas em termos de escrita”.

Muitos prêmios

Nascida na pequena cidade de Lillebonne, no norte da França, em 1940, ela se notabilizou por uma escrita essencialmente autobiográfica, que dialoga com a sociologia e a memória coletiva. Desde os anos 70, ela conta o mundo que a cerca a partir de sua própria experiência de “jovem mulher, confrontada com o desprezo social e a dominação masculina”, conforme escreveu.

Suas investigações do passado são muito menos uma forma de encontrar o seu “eu” do que de perdê-lo em “uma realidade mais vasta, uma cultura, uma condição, uma dor”, como escreveu em “L’ écriture comme un couteau”, livro de entrevistas publicado em 2003.

Muito premiada também em seu país e até 2019 pouco conhecida no Brasil, a autora de 82 anos tem um projeto literário singular: usar a escrita para “salvar alguma coisa deste tempo no qual nós nunca mais estaremos”, como indica na conclusão de “Os anos”, seu primeiro livro a ser lançado por aqui.

A escritora mais jovem: ela tem mais de 30 livros publicados. Foto? Reprodução/Internet

A obra, que abrange quase uma vida inteira: da infância, nos anos 1940, até a maturidade, em 2007 é talvez o esforço mais ambicioso de sua bibliografia, composta por quase 30 títulos. Na época do lançamento do livro no Brasil, a autora explicou seu processo de escrita ao GLOBO:

— Não busco a totalidade da minha vida, mas a totalidade de uma época. Por isso, o livro se chama “Os anos” e não “Meus anos”. Através da minha vida, tento sentir a realidade de diversos períodos que atravessei. Isto é, seus preconceitos, seus pensamentos, seus acontecimentos, tudo que constitui o seu calor.

Celebrada na França

Na França, a imprensa a tratava como um “ícone” antes mesmo do anúncio do Nobel. Seu último livro, o breve “le jeune Homme”, com apenas 37 páginas, foi um sucesso de vendas. Vendeu 72 mil exemplares no país até aqui.

No Brasil ela ainda é um fenômeno de nicho, mas com um público fiel. Tanto que, de de 2019 para cá, diversas obras de Ernaux ganharam tradução para o português, como “O lugar”, “A vergonha” e “O acontecimento”. Juntos, venderam 15 mil exemplares físicos (e 3 mil e-books).

“O acontecimento” foi adaptado para o cinema em 2021, com o filme ganhando o Leão de Ouro no Festival de Veneza. No polêmico livro, ela narra as marcas de um aborto clandestino, desde a dificuldade para a realização do procedimento até as feridas psicológicas deixadas nela. “Eu matei minha mãe em mim naquele momento”, escreve ela.

Veja a escritora aqui:

No texto em que justificou o prêmio para a francesa, a Academia Sueca chamou “O acontecimento” de “obra-prima”, entre outros adjetivos como “clinicamente contido”, “brutalmente honesto” e “vitalmente lúcido”.

“É uma narrativa em primeira pessoa, e a distância do eu histórico não é enfatizada como em muitas outras obras”, explicaram os jurados do Nobel. “De qualquer forma, o Eu se torna um objeto através das restrições morais de uma sociedade repressiva e da atitude paternalista das pessoas com as quais ela é confrontada”.

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