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Nora Rónai é inspiração para todas as idades

De maiô, óculos e touca, Nora Rónai é um motor dentro da piscina, fazendo o que mais ama. Foto: Reprodução/Internet

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A história trágica de Nora Rónai, fugindo com a família para o Brasil, por causa da perseguição do nazismo,  não impediu que crescesse e desabrochasse no país de adoção.

Ao contrário, serviu de força impulsionadora para que essa arquiteta e escritora. apaixonada pela natação, chegasse onde chegou.

O que mais chama a atenção na vida de atleta, que ela cultiva com todo zelo, é que Nora Rónai descobriu a natação quando já passava bem dos 50.

Encontrou no esporte, uma forte razão para seguir adiante.  “A água sempre me abraça. Eu me sinto no colo da minha mãe,” diz ela.

Leia a reportagem de Marcelo Barone e Pedro Neville para O Globo:

Uma risada simpática, uma lucidez invejável e um comovente amor ao esporte. Assim é Nora Tausz Rónai, de 98 anos, praticante – e ainda competidora – da natação.

A piscina é o lugar onde se sente mais confortável. São quase três décadas de convivência. Seja em treinos ou campeonatos, Nora Rónai chama a atenção, não só pela simpatia, mas também pela dedicação.

Os pedidos de fotos com a senhorinha de cabelos brancos, que completará 99 anos em fevereiro, são comuns.

Há os mais discretos, que apenas admiram de longe suas braçadas.

E se engana quem pensa que ela entra na piscina pela escadinha – ela prefere pular direto na água. convivência. Um início tardio, mas apaixonante para quem, acima de tudo, serve de inspiração para todas as idades.

– Você quer que eu nade o quê? Borboleta, costas, peito ou crawl – pergunta a veterana, detentora de recordes mundiais e sul-americanos na faixa acima de 90 anos, à reportagem do “Esporte Espetacular”.

Vitalidade que impressiona

De maiô, óculos e touca, Nora Rónai cruza a piscina do Gurilândia Clube, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Demonstra uma vitalidade impressionante para quem está rumo aos 100 anos. O esporte foi um amigo e tanto nesta jornada repleta de percalços.

– Eu passei por vários acontecimentos na minha vida que, sem o esporte, eu teria enlouquecido, certamente. Quando fico aflita, procuro a primeira piscina ao meu alcance, pulo na água, nado ferozmente e, após os primeiros 300 ou 400 metros, está tudo bem, não sinto mais nada. Tudo vai se resolver – comenta a atleta, que perdeu o irmão em um trágico acidente de carro.

As dificuldades começaram bem cedo para Nora. Aos 11 anos, a jovem, natural de Fiume, na Itália (atualmente, Rijeka, na Croácia), fugiu do nazismo com a família.

Medalha é o que não falta a essa campeã. Foto: Reprodução/Internet

Fuga para o Brasil

Desembarcaram no Rio de Janeiro em busca de uma nova vida, bem longe dos tempos sombrios da Europa, afetada pela Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945.

– Quando meu pai chegou ao escritório, recebeu a notícia de que, como ele era de uma raça inferior, não confiariam nele, então, o demitiram.

Em um dia está tudo bem e, de repente, você é proibida de ir à escola, os professores são proibidos de dar aulas aos judeus. Chegaram a prender meu pai para mandá-lo a um campo de concentração, mas conseguimos libertá-lo antes.

A gente viu que a situação tava complicada. Se não dava para trabalhar e nem estudar, faríamos o quê? Tentamos visto para vários países e conseguimos para o Brasil.

A viagem para São Paulo era um pouquinho mais cara do que para o Rio. Então, chegamos aqui com uma mão na frente e outra atrás – recorda.

Do salto para a natação

O primeiro esporte na vida de Nora Rónai, ex-atleta do Fluminense, foi o salto ornamental. Foi campeã carioca, vice-sul-americana, e estrelou a capa da revista “Seleções Esportivas”, em janeiro de 1950.

A natação veio muito depois, quando ela tinha quase 70 anos, como uma válvula de escape enquanto cuidava do marido enfermo, Paulo Rónai.

– O meu marido adoeceu, e eu não sabia o que fazer da minha vida. Havia uma médica, que se tornaria minha amiga, que tinha sido nadadora.

Conversamos sobre isso quando cuidávamos do Paulo, e eu disse que fui saltadora. Ela me convidou para nadar, porque eu precisava espairecer.

Em seguida, Nora Rónai tomou gosto e conheceu a categoria máster, destinada a atletas mais velhos. Foi convidada para competir pelo Clube de Regatas Icaraí e estreou no campeonato sul-americano de natação em Belo Horizonte (BH).

Nascida na Itália, ela fugiu com a família para o Brasil. Mora no Rio. Foto: Reprodução/Instagram

Treina quatro vezes por semana

Encarou cerca de sete horas de viagem, mas trouxe na bagagem de volta a medalha de ouro para casa.

Arquiteta de formação e escritora com vários livros publicados, Nora Rónai nada durante uma hora, cerca de quatro vezes por semana, especialmente quando o calor impera.

Só não consegue dar suas braçadas na segunda-feira, quando os clubes realizam a manutenção das piscinas.

– Normalmente, no verão, quando a água está boa, eu treino às terças, quartas, quintas e sextas. Sábado e domingo não vou porque é dia de gente que gosta de brincar na água. E segunda-feira é dia de limpeza da piscina.

Cuidadosa em relação à alimentação, no esporte, ela mantém corpo e mente em harmonia. As pernas já não têm tanta firmeza quanto antigamente – esse é mais um motivo para preferir estar dentro d’água.

– Se você soubesse como me doem as pernas… Eu pulo na água, e ela me abraça, como de costume. Faço exames, tudo que tenho direito. Vou regularmente ao dentista, sou desportista, tenho disciplina.

Não gasta o coração

Não gosto de pizza, de besteira, gosto de comida, de legumes. Não gosto de comer carne de boi, prefiro carne de porco, frango e peixe.

Frequentemente, é questionada sobre o segredo da longevidade e sobre os conselhos que daria para quem deseja chegar saudável à sua idade. Ela, então, responde em uma mistura de leveza e perspicácia.

– Eu nem sei o que faço da minha vida quanto mais dar conselho. Conselho não adianta nada, se adiantasse, minhas filhas Cora e Laura estariam nadando pelas piscinas da vida. E isso não acontece.

Não espere mais do que a vida pode te dar. Se você tiver comida, teto e agasalho está de bom tamanho. Fique contente, veja as coisas bonitas. É só olhar pela janela.

Uma pessoa mais feliz tem a vida mais cômoda, psicologicamente. Não é preciso discutir com Deus o tempo todo: “Puxa, o que você fez comigo?”. Procure ser feliz. Uma pessoa feliz vive melhor, não gasta o coração – ensina.

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