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O diálogo divertido sobre sexo entre a tia sexagenária e a jovem sobrinha

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“Somos raça humana cheia de hormônios e de desejos, e bobo é quem se apressa em entrar na caixa das letrinhas coloridas. Hoje você é homem, amanhã mulher, melhor fazer como o Laerte, que deixou para brincar disso depois de velho. Dá tempo de ter sabedoria para não se deixar encaixotar.” Foto: Reprodução/Internet

Márcia Lage
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– Tia, olha esse concurso ai, é de conto. Manda um dos seus.

– Obrigada, vou dar uma olhada no link.

– Tá bom. Beijos.

– Adorei, mas não posso participar. É só para o segmento LGBT F Z H I J e mais….

– (rs). Não, tia, é pra CIS também.

– Mas eu não sou CIS.

– É sim, tia. CIS é quem se identifica com o sexo com o qual nasceu.

– Mas eu não me identifico.

– Como assim?

– Não gosto de ser mulher. Mas, tampouco, quero ser homem. Muito menos travesti, lésbica ou transsexual. Falta letra para mim neste arco-íris.

– Tia, doidinha, como assim você não é CIS? Você namorou muitos homens (assim mesmo, no passado), se veste como mulher, comporta-se como mulher…..

– Na – na – nin – na – não. Não me comporto como mulher. Não uso rosa, não casei, não tive filhos e adoro fazer coisas de homem, tipo dirigir, trocar lâmpadas e torneiras, construir, capinar, podar, pintar paredes….

– Tia, homem não faz nada disso…

– Não? Quem faz então?

– O jardineiro, o pintor, o eletricista…

– Uai, não são homens?

– São, tia, mas não os maridos da gente, entende. São os maridos de aluguel.

– Quer dizer que agora as pessoas CIS têm um marido que não sabe trocar uma lâmpada e um marido de aluguel pra fazer o que eles não sabem fazer?

– Tia, os homens são mais femininos, cuidam melhor dos filhos, fazem comida, limpam a casa, essas coisas pelas quais sua geração lutou tanto…

– Ah, não. A gente queria isso mas queria também a lâmpada trocada, o pneu, a pia desentupida, essas coisas que eu sei fazer muito bem mas acho sacanagem fazer sozinha, a não ser que se é solteiro, o que aliás sou, e ai não tenho que reivindicar nada do outro. Sou eu comigo mesma e sou muito boa nisso de ser solteira. Falar nisso, já incluíram a letra S no rol do alfabeto LGBT+?

– Não!

– Discriminação. Alguns podem ser trans, bi, gay,
lésbica, simpatizante e até assexuado, mas não pode ser solteiro. Que merda é essa?

– É que ser solteiro não é uma questão de orientação sexual, tia. É uma questão de escolha social, digamos assim.

– Como assim? Solteiro não transa? Saiba você que solteiro transa muito mais que casado. Transa com homem, mulher, a três, a quatro, solteiro é do balacubaco.

– Kkkk mas a questão não é esta, tia. A questão é: Como você se identifica?

– Questão mais que idiota, porque só exclui, fatiando as pessoas pela forma como elas transam e não como são. Se uma pessoa é mulher e se identifica como homem, o que temos com isso? É gente, ser humano, merece respeito, atenção e carinho. Como gente. Como ser humano. O gênero é o humano, não o sexual, saca?

– Entendi, mas eles sofrem….

– Sofrem porque se ligam muito na opinião dos outros, nas classificações acadêmicas, HSH, MSM, essas coisas ridículas que não são nada mais, nada menos, que Monitoramento da forma como o ser humano trepa. E o ser humano nem trepa tanto assim, quer saber?

– Tia, você é uma figura. Pelo visto você é fluida e não binária…

– Oi? Quer parar de dar nome aos bois? Não somos boiada, somos raça humana cheia de hormônios e de desejos, e bobo é quem se apressa em entrar na caixa das letrinhas coloridas. Hoje você é homem, amanhã mulher, melhor fazer como o Laerte, que deixou para brincar disso depois de velho. Dá tempo de ter sabedoria para não se deixar encaixotar.

– Tia, você é CIS…

– Não sou. Sou é CISmada com esse esquartejamento do ser humano. Numa guerra, numa ditadura, fica fácil perseguir e exterminar essas pessoas.

– Agora você entrou na teoria da conspiração…

– Então, melhor desligar. Tialzinho linda. Vou entrar nesse concurso não.

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