
Ana Maria Cavalcanti
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A morte do Papa Francisco me abalou profundamente. Não tenho religião, não sou movida pela fé, não acredito em Deus. Posso até dizer que Deus prá mim é um mistério. Mas é só. Então por que fiquei tão transtornada com a morte dele?
Fácil encontrar a resposta. O papa era, uma voz amiga e sensata neste mundo tão conturbado – um pacificador. Isso sempre me encantou nele. Defendia a paz em alto e bom tom! Tantas vezes se manifestou contra as guerras no Oriente Médio, na Africa, na Europa. Vamos construir pontes, não muros, dizia ele. Quantas vezes ele falou em nome da paz? Inúmeras. Tantas vezes se dirigiu aos líderes das grandes potencias mundiais pedindo que fizessem um esforço do conciliação.
Nunca se negou a dar sua opinião em assuntos polêmicos. Uma delas, ao se referir aos homossexuais, disse: são todos filhos de Deus.
Com a mídia foi sempre um homem aberto. Seu humor o levou a repetir para quem quisesse ouvir “ Deus é brasileiro”. Isso em 2013 quando esteve no Brasil. Em outra ocasião, passou a defender a floresta amazônica e os povos que nela habitam. Classificou como “´pecado ecológico” as crimes contra o meio ambiente. Foi amigo de vários líderes indigenas, entre eles Raoni.

Em outra entrevista, dentro de um avião, que vi recentemente em um canal de TV, quando termina o longo bate papo, olha bem para a câmera e aconselha: Sorriam! É importante sorrir, é bom.
Ele fazia o que pregava. Sorridente, quando se encontrou com Ronaldinho, perguntou com cara de menino levado : Pelè ou Maradona? Fez a mesma pergunta a outros brasileiros. Veja uma dessas vezes:
Uma das qualidades que mais admirava no papa, era sua sensatez. “Não existe mãe solteira, existe mãe”! dizia ele.
Aprendi muito com Francisco. Há dias li um texto em que ele, mais uma vez, falava da paz. Brilhante. E para haver paz, tinha que haver perdão. E o perdão começa dentro de casa, na família. Um pequeno texto que merece ser lido e relido:
“Não existe família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. Temos queixas uns dos outros. Decepcionamos uns aos outros. Por isso, não há casamento saudável nem família saudável sem o exercício do perdão. O perdão é vital para nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. Sem perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas.
Sem perdão a família adoece. O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. E por isso que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. O perdão traz alegria onde a mágoa produziu tristeza; cura, onde a mágoa causou doença.”
O mais trágico nessa morte do Papa Francisco é que ele se foi no momento em que o mundo, em transe, mais precisava da sua presença, sua sabedoria.
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