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Rita Lee: além de eterna, será sempre moderna

O jornalista e a cantora foram amigos muito próximos desde cedo. Foto: Reprodução/Internet

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Um tributo do jornalista e músico Nelson Motta à nossa Rita Lee, falecida na segunda-feira, 8 de maio, pondo fim à luta contra um câncer no pulmão esquerdo.

A morte de Rita abalou o Brasil, acostumado com sua alegria irreverente, mesmo nos momentos em que enfrentava a doença.

Rita Lee é pra celebrar sempre!

Leia o artigo de Nelson Motta, publicado em O Globo:

Rita Lee transborda em muito a música brasileira, mesmo sendo um dos nossos maiores compositores e intérpretes de todos os tempos, e a nossa maior letrista — que abriu caminho para as mulheres, que eram relegadas a intérpretes, poderem se expressar na música popular. É uma heroína na luta contra o machismo, os preconceitos de gênero, classe, raça, idade, a violência contra animais, o autoritarismo e, em princípio, contra qualquer proibição.

Guerreira anárquica da liberdade, abriu caminhos e cabeças com seu humor, sua irreverência e sua inteligência, criticando o conservadorismo e a caretice, e fazendo da transgressão a sua maior inspiração, tanto que até o fim da censura, em 1988, ninguém teve mais músicas proibidas do que ela.

Rebelde incorrigível dos primeiros até seus últimos dias, escreveu a mais sincera e crua autobiografia de artista que conheço, contando em detalhes e “sem perfumar sua flor, sem poetizar seu poema”, como dizia João Cabral, a sua extraordinária história de vida pessoal e artística, com humor agudo e autodeboche sem piedade, seus mergulhos nos infernos das drogas e do álcool, e como saiu de todos eles machucada mas íntegra, renascida e fortalecida, e sua arrebatadora história de amor com Roberto de Carvalho, que fez deles uma só entidade musical em duas pessoas que se amaram apaixonadamente e superaram todos os desencontros e dores do amor fazendo arte. E filhos.

Ao contrário do que ela dizia (“Não sou exemplo para ninguém, mas sou gente fina”), tornou-se um exemplo libertador e inspirador para várias gerações de garotas brasileiras, e garotos e não binários também, cantando o prazer e a alegria do amor e do sexo sem pudor, da força e do poder da mulher, da coragem de viver intensamente seus desejos e aspirações. De arrebentar com o patriarcado a golpes de humor, amor e rock and roll, rebolando a bunda e fazendo todo mundo dançar com o corpo livre e sem respeito a limites.

Sua trajetória artística também transcende a música, com suas participações em vários programas de televisão, sempre no binômio amor-humor, fazendo crítica social, discutindo comportamento, ensinando e divertindo sempre, cada vez melhor com o tempo. Foi da eterna adolescente rebelde à mulher madura que destruiu preconceitos de envelhecimento e idade com sua atividade e sua beleza. E o poder de sua arte imortal.

Pecadora incorrigível, Santa Rita de Sampa é a padroeira da dança, do sexo e da alegria, da celebração da vida em liberdade de homens e mulheres, de humanos e bichos, de diferentes e iguais. Além de eterna, será sempre moderna.

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