Há várias maneiras de descobrir as 35 mil obras expostas nos 60.600 metros quadrados das labirínticas salas do Museu do Louvre. No ano passado, 9,7 milhões de visitantes — um recorde — percorreram sinuosos caminhos por entre as coleções de arte divididas em oito departamentos. Mas à margem do enigmático sorriso da Mona Lisa e de outras incontornáveis obras de sucesso do acervo, o guia Bruno de Baecque optou por se aventurar por caminhos menos trilhados e mais voluptuosos. Certa vez, em uma de suas visitas com um grupo, uma das turistas comentou diante da pintura “A morte de Sardanapalo”, do pintor francês Eugène Delacroix (1798-1863):
— Este é o quadro mais erótico que já vi na minha vida.
Foi a centelha para que criasse um circuito singular, intitulado provocativamente de “As mais belas bundas do Louvre”. Numa visita de cerca de uma hora e meia, Baecque mostra bundas artísticas, muitas, pintadas ou esculpidas. De vários tipos, formas, estilos e épocas. De homens, mulheres e também de um hermafrodita. Para auxiliar na observação do derrière, o centro da visita, foi confeccionado um utensílio próprio, um triângulo de cartolina seguro por uma haste e com um furo para ajustar o olhar: pelo orifício é possível isolar do todo a parte do corpo desejada, oferecendo uma outra perspectiva. Mas o motivo do erótico circuito, segundo ele, é uma sedutora desculpa por trás do principal objetivo: introduzir um novo olhar na obra de arte. No trajeto, o contexto histórico e a biografia do artista estão em segundo plano, e sempre aparecem depois que a obra — e a bunda nela incluída — já foi devidamente analisada pelos curiosos e muitas vezes surpresos integrantes do grupo, limitado a 15 pessoas.
— Não é uma aula de História da Arte. Trata-se de uma verdadeira exploração do olhar, para que percamos as referências que já temos e descubramos novas sensações. O olhar é feito de camadas, e libera coisas quando olhamos uma, duas vezes, e por meio de diferentes ângulos — explica.
Além fazer o grupo circundar as obras, se inclinar ou se ajoelhar para obter novos ângulos de percepção, o guia provoca a interatividade, estimulando os turistas a definirem com uma palavra as bundas observadas. Diante de “Dircé”, escultura do italiano Lorenzo Bartolini (1777-1850), vêm as impressões: moderna, simétrica, bela, hiperatual, pêssego, damasco, tomate. No jogo do olhar proposto por Baecque, com uma simples mudança de perspectiva o traseiro de Dircé passa a ser “menos puro”, de “diferente volume”.
Neste vai e vem com a obra, a intenção é potencializar uma fórmula do artista contemporâneo Robert Filliou (1926-1987): “A arte é o que torna a vida mais interessante do que a arte.” Por isso, faz seu grupo exercitar o olhar diante de “Psiquê revivida pelo beijo do amor”, do italiano Antonio Canova (1757-1822).
— São dois amantes que se beijam. Podemos treinar intensamente nosso olhar aqui, e quando observarmos cenas semelhantes na vida real, na rua, num café, as sensações surgirão de forma mais rápida e diferente — defende. Leia mais em oglobo.com.br
0 Comentários
bundas tão lindas que dá vontade de passar a mão..