
Márcia Lage
50emais
Depois de roçar o mato chamuscado por duas grandes guerras, abrir trilhas por onde a inteligência humana jamais havia pisado, e construir um novo mundo de ideias, inventos e comportamentos; chegamos ao fim da nossa jornada aqui na terra, a geração dos Baby Boomers.
Trouxemos para debate final da nossa vida as questões do envelhecimento humanitário e da morte digna. Temas que até então eram resolvidos sem muito clamor. Porque a geração anterior morria aos 52 anos em média, e a morte ocorria naturalmente, sem diagnóstico ou hospitalização.
Nossa geração é a primeira que ultrapassa a expectativa de vida de todas as décadas que se seguiram à explosão de nascimentos nos anos 1950/1960. Infartos, AVC, Alzheimer, Parkinson, depressão, menopausa são nomes de mazelas que passamos a ter, de tanto viver.
Atualmente o movimento dos vanguardeiros dos anos dourados é: o que fazer com tanta vida no final da vida? Provenientes de famílias numerosas, essa geração do romantismo hippie anda voltando ao campo, construindo ecovilas com amigos ou buscando soluções familiares para evitar envelhecer sozinhos.
A mais difícil das soluções é o envelhecer em família. Os irmãos se dispersam pelo mundo, constroem novos núcleos familiares e, muitas vezes, as gerações subsequentes, cada vez menores, nem se conhecem como parentes.
Não foi o que aconteceu com a família Santana, de Santa Luzia, Minas Gerais. Amparados desde sempre numa ampla chácara que se preservou do avanço imobiliário sobre a tricentenária cidade, os 11 irmãos se mantiveram unidos em torno da mãe.

Depois, com a ausência dessa, se fortaleceram na convivência sob o teto do casarão antigo, ao redor do qual alguns construíram suas casas, mantendo a privacidade e a vida comunitária ao mesmo tempo.
O arranjo vai sendo modificado à medida que a família envelhece. Dois irmãos já se foram. Dos que restaram, o mais velho sofreu um AVC que o comprometeu bastante e os outros vão driblando da melhor maneira que podem as agruras trazidas pela idade.
A casa foi adaptada para cadeirante, os gastos com empregada, cuidadores, plano de saúde, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e despesas médicas são compartilhados e administrados em comum acordo e tudo caminha bem na casa que virou um grande abrigo.
Com paciência, perseverança, diplomacia e amor a família se ampara. As principais refeições são feitas nessa casa-mãe, os cuidadores ajudam todos e as despesas, altíssimas, seriam impagáveis se cada um cuidasse de si isoladamente.
Um exemplo muito bom de ser copiado por famílias numerosas. Desde que, pelos caminhos, o amor fraterno tenha prevalecido. Se não, é cada um por si e Deus por todos.
Porque as poucas opções que restam, nessa sociedade que só agora se dá conta de que não se preparou para o envelhecimento da população, ou são impagáveis ou são intragáveis.
Há muito idoso abandonado em asilos que mais parecem prisão que casa de acolhimento.
Um fim deprimente para quem participou ativamente da construção desse mundo moderno que conhecemos até agora.
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