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Se você se preparar para a morte, terá velhice mais tranquila

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Pesquisa do Instituto de Psicologia trata das questões que permeiam a mente do idoso quando se sente próximo à morte – Foto: Mabel Amber via Pixabay – CC

Maya Santana, 50emais

Este artigo foi publicado no site da USP, Universidade de São Paulo. Trata dos resultados de um estudo feito por uma de suas pesquisadoras, Gabriela Machado Gibert, mostrando que, se você tem consciência da morte e se prepara para ela – reserva dinheiro para os gastos com o funeral, faz testamento, decide se quer ser cremado, etc -, são muitas as chances de você ter uma velhice mais tranquila, sem a agonia de quem não suporta a ideia que um dia vai desaparecer. E sem deixar problemas para quem fica.

Leia sobre o estudo:

Pesquisa indica que se preparar para a morte é viver uma vida mais digna. O estudo foi feito por Gabriela Machado Giberti, do Instituto de Psicologia (IP) da USP, com idosos com mais de 80 anos e mostrou que ignorar a morte ou tratá-la como tabu traz sofrimento durante o processo de envelhecimento.

Gabriela abordou questões relacionadas à morte e ao envelhecimento de idosos que se consideravam preparados para a morte. A intenção era ampliar a visão dominante sobre o assunto e compreender de fato o que seria esta preparação.

Segundo a pesquisadora, os entrevistados discorreram sobre a morte com naturalidade, e entre as questões levantadas, duas se destacaram, que foi a noção de corporeidade e de temporalidade. Ou seja, “a relação que o idoso mantinha com seu corpo devido às perdas ocasionadas pelas condições de saúde (corporeidade) e reflexões acerca do passado, do presente e do possível futuro encurtado (temporalidade). Tais pensamentos faziam parte do entendimento sobre a velhice, o significado da morte e o sentido da vida”, afirma.

Nos diálogos também ficou clara a dificuldade que os idosos possuíam de encontrar pessoas (familiares e profissionais da saúde) com quem pudessem discorrer sobre a questão da finitude da vida. Gabriela observou que “tal afastamento ocorre devido à cultura contemporânea que faz com que falar sobre a morte faz com que o interlocutor também reflita sobre a sua própria existência, que é finita, o que causa medo e desconforto”, explica.

Nas entrevistas, foi possível identificar muitas possibilidades do que significa a preparação para a morte: reserva de dinheiro para pagamento de rituais fúnebres; a compra do próprio túmulo; divulgação do desejo de encaminhamento do corpo; testamentos; doações; despedidas; destinação de enxovais para um ente querido (bisnetos, por exemplo); quitação de dívidas; o cuidado de deixar exames e documentos em lugares de fácil acesso; dentre outros. Segundo Gabriela, “essas preparações foram feitas pelos idosos no sentido de cuidar da vida – tanto da própria quanto de familiares e amigos que permanecerão vivos após a morte do idoso”, afirma.

Baseando-se no entendimento de que a sociedade moderna evita a reflexão sobre a morte e o envelhecimento, a pesquisadora explica que a medicina surge como tentativa de controlar e dominar o fim da vida. “De fato, os avanços tecnológicos melhoram o bem-estar, porém, o problema surge quando tais instrumentos são utilizados para prolongar a vida sem refletir sobre a qualidade da existência de quem se mantém a vida ou o sentido desse prolongamento”, explica Gabriela. Dessa forma, a pesquisadora propõe aumento dos debates de como propiciar aos pacientes uma “morte digna” de forma a assegurar-lhes também uma existência honrada.

Gabriela acrescenta que o diálogo é necessário para que se possa respeitar a singularidade de cada indivíduo, porque a visão de “dignidade sobre a morte e a vida é completamente individual”. Em sua opinião, é importante que se naturalize a ideia do preparo para a morte, o que faz com que as pessoas vivam sua existência da melhor forma possível. “A morte convoca para o tempo do viver”, conclui.

A pesquisa A única certeza da morte é a vida: investigação fenomenológica sobre idosos que se preparam para a morte foi o resultado de mestrado de Gabriela Machado Gilberti, com orientação da professora Helena Rinaldi Rosa, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do IP.

Mariana Navarro/Comunicação do Instituto de Psicologia

Mais informações: gabrielagiberti@gmail.com, com Gabriela Giberti ou ipcomunica@usp.br, com Islaine Maciel

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