Na Austrália, onde nasceu, o sol sempre fez parte de sua vida, mas ela, até por ter a pele muito branca, sempre manteve certa distância. No Rio, ela descobriu, o sol e a praia fazem parte da vida de todo mundo que vive na zona sul.Admite que não sabia nada sobre a vida da poeta Elizabeth Bishop ao ser convidada pelo diretor Bruno Barreto para fazer o filme. Não conhecia Bruno nem o filme mais conhecido dele. “Tentei assistir a Dona Flor, mas o filme não é encontrável na Austrália. E o Bruno não me arranjou uma cópia para vê-lo aqui”, reclama, rindo. Não conhecia a poesia de Bishop. Descobriu-a enquanto fazia o filme. Li muito sobre ela, mas o roteiro ajudou: é consistente, dos melhores que li.
O fato de Elizabeth Bishop ter mantido uma ligação forte com a paisagista Lota de Macedo Soares – que criou o Parque do Flamengo, no Rio – não a intimidou. Casada (com o ator Peter O’Brien), mãe de uma filha de 8 anos, ela conta que não há nada de especial em fazer cenas de intimidade gay. “São delicadas, de bom gosto. Bruno não mostrou o sexo entre duas mulheres com sensacionalismo.” O sentimento entre as duas no filme não é diferente do que existiria entre um casal hétero. Os problemas são iguais. O deslumbramento da aproximação e da descoberta, a dor da perda. Bruno diz que é um filme sobre a perda, e é verdade.
Sobre Gloria Pires, que recebeu na sexta, em Gramado, o Prêmio Oscarito, por sua contribuição ao audiovisual no País, Miranda só teve elogios – “É humana, incrível, grande atriz. Não é fácil representar numa língua que não é sua, e Gloria fez muito bem”. E Miranda divaga sobre o filme. “Acho interessante a forma como mostra duas pessoas que vivem imersas em processos criativos fortes. Lota vive a arquitetura, o paisagismo. Acompanhamos Elizabeth em sua briga com as palavras. A poesia, de todas as formas de escrita, exige a precisão do verbo.” Leia mais em estadão.com.br