O nome da primeira mulher no Brasil a comandar um petroleiro, em 2009, Hildelene Lobato Bahia voltou ao noticiário há dois dias porque ela, mais uma vez, fez História: auxiliada pela imediato Vanessa Santos Silva, será a comandante do navio Rômulo Almeida, com capacidade para transportar 56 milhões de litros de derivados do petróleo. É a primeira vez que duas brasileiras comandam um navio comercial. Logo depois de assumir o comando do primeiro petroleiro, Hildelene deu este depoimento à jornalista Ana Maria Cavalcanti:
“Eu sou a primeira mulher no Brasil – e uma das poucas no mundo – a comandar um petroleiro. Sem dúvida, uma grande conquista. A Marinha é a minha paixão. Vivo mais tempo no mar do que em terra firme. A Marinha me deu uma profissão da qual muito me orgulho. Me deu também um marido. Conheci o Paulo Roberto a bordo. Trabalhamos juntos por quatro anos – eu era piloto, ele era estagiário. Eu o via apenas como colega. Um dia saímos, nos apaixonamos, e dali a pouco nos casamos. Passamos muito tempo no mar, separados, mortos de saudades um do outro. Em casa, parecemos eternos namorados. Estou vivendo um momento excepcional em minha carreira. Mas tive que vencer muitos obstáculos para chegar onde cheguei.
Estou na Marinha há dez anos. Já viajei por toda a costa brasileira, pelos países da América Latina, Ásia, Europa e Caribe. Comecei como segundo piloto, fui subindo na hierarquia até chegar a comandante. No começo eu ouvia piadinhas, diziam que eu não ia agüentar o tranco. Mas fui conquistando meu espaço e hoje meus subordinados fazem questão de divulgar aos outros navios a minha presença a bordo.
No ano passado, quando ainda era imediato – um cargo abaixo do de comandante – fui á Cingapura, na Ásia. Tive que parar em Bahrein, no Golfo Pérsico para que o navio fizesse um reparo. A imagem de uma mulher liderando a embarcação abalou os muçulmanos. Eles fizeram uma cara de surpresa e cochichavam quando eu passava. Lá, a mulher vive subordinada ao homem. Mas aqui no Brasil já encontrei muita discriminação também. Veja só: mulher não entrava na Marinha Mercante até 1997. Era proibido. Com a liberação, eu entrei.
Sempre estudei em colégios públicos. Minha infância foi uma fase maravilhosa de minha vida. Nasci em Icoaraci, no Pará. Sempre fui boa aluna e, por causa disso, consegui uma bolsa em uma escola particular para me preparar para o vestibular. Fui aprovada na Universidade Federal do Pará para fazer Ciências Contábeis. Eu tinha 17 anos. Terminei o curso, mas minha vida deu uma guinada, pelo seguinte: meu irmão queria muito ser militar e foi fazer uma prova para a Escola de Formação de Oficiais da Marinha. Fui junto para incentivá-lo. A prova foi muito difícil. Tinha gente de todos os Estados do Brasil. A primeira fase eliminatória era de Matemática e Física. Passei. Quando estava na terceira e última fase que era de testes físicos e psicológicos, tive que aprender a nadar em uma semana para passar no teste de natação. Fiquei em primeiro lugar na prova de corrida. Infelizmente meu irmão foi reprovado e eu fui aprovada em todas as fases. E foi assim que em 1997 eu entrei para a Marinha.
Minha rotina é puxada: fico 120 dias no mar e 56 em casa. E vou revezando o ano inteiro. Agora entrei de férias, junto com meu meu marido. Eu amo meu marido. É sempre uma festa cada vez que volto de viagem. Quando estou no mar, trocamos mensagens de amor. Quando volto para casa encontro várias surpresinhas. Uma dessas vezes, minha casa estava cheia de flores e bilhetinhos dizendo “eu te amo”. Sou uma mulher realizada na vida afetiva e profissional. Espero ter filhos. Como vou conciliar a vida no mar com a vida das crianças eu não sei, mas sei que seremos uma família feliz.”
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Lider nata,humilde por natureza,muito comunicativa,e altamente competente.Desejo tudo de bom que deus te abençoe Comandante estarei sempre as suas ordens.