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As delícias de ser solteiro(a) depois dos 50/60 anos

A arquiteta Angelita batalhou para ter um canto só seu e diz que não abre mão de viver só. Foto: Marco Favero / Agencia RBS

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Aos 72 anos, eu me enquadro perfeitamente no perfil desta matéria de Catherine Pearson para o New York Times, publicada por O Globo.

Não tenho parceiro, moro sozinha e gosto imensamente, sobretudo, da liberdade de que gozo, fazendo exatamente o que quero fazer, sem ter que dar explicações a ninguém.

No Brasil, um número cada vez maior de pessoas com mais de 50 anos vivem sozinhas. As pesquisas do IBGE mostram isso. Mas não encontrei dados sobre quantos têm parceiras ou parceiras.

Nos Estados Unidos, como mostra a matéria, cerca de 30% dos adultos com mais de 50 são solteiros.

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Joy Lorton, de 80 anos, já foi casada e divorciada quatro vezes.

— Cresci nos anos 1950 e 1960, quando todo mundo deveria se casar e ter filhos, então fiz isso — disse Lorton, que mora em Olympia, Washington, e tem três filhas, sete netos e um bando de bisnetos.

Mas cada um de seus casamentos foi marcado por diferentes tipos de disfunções e, desde seu último divórcio em 2001, ela tem sido devotamente e alegremente solteira.

— Tudo se resume à mesma palavra: liberdade — revela Joy.

Agora, ela escolhe com quem quer passar tempo. E isso pode significar ninguém muitas vezes.

— Eu realmente gosto da minha própria companhia — conta.

Cerca de 30% dos adultos nos Estados Unidos com mais de 50 anos são solteiros, de acordo com uma pesquisa da Pew de 2022, e apesar do estigma que costuma estar relacionado tanto à solteirice quanto à idade avançada, muitos apreciam estar sozinhos. Os solteiros mais velhos eram menos propensos do que os mais jovens a dizer que queriam namorar ou encontrar um relacionamento romântico, e pesquisas sugerem que a satisfação das pessoas em estar solteiras tende a aumentar na meia-idade.

— Pessoas com mais de 60 anos que são solteiras e estão florescendo é uma história não contada— diz Bella DePaulo, uma cientista social que estuda a vida de solteiro (e é uma solteira de 70 anos). — E é uma história que faz bem ao coração e que quebra todos os nossos estereótipos— completa.

Conhecendo você

DePaulo conta que uma grande diferença entre ser solteiro na casa dos 60 anos ou mais e ser solteiro quando mais jovem é a autoconsciência e autoconfiança que vêm com a idade. Há pesquisas que sugerem que a autoconfiança atinge o pico entre os 60 e 70 anos.

— Quando você é mais velho, há um verdadeiro sentido de: preciso aproveitar minha vida agora — disse Jenny Taitz, psicóloga clínica e autora de ““How to be Single and Happy” (“Como ser solteiro e feliz, em tradução livre). As pessoas que estão solteiras há algum tempo têm o benefício da experiência e da visão retrospectiva para mostrar a elas que é tão possível experimentar alegria e paz mesmo sem um parceiro.

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A experiência certamente ensinou muito a Kamran Afary, 66 anos, que cresceu no Irã e se mudou para os Estados Unidos quando tinha 16 anos. Ele passou grande parte de sua vida lutando contra o que via como rigidez ao seu redor. Primeiro, a sociedade patriarcal em que foi criado, e depois as expectativas “opressivas” de relacionamento. Ele ficava indignado com a ideia de que se você e seu parceiro não pudessem atender a 100% das necessidades um do outro, “você era um fracasso”.

Em seus 50 anos, ele se assumiu como queer. Afary, que é professor de estudos de comunicação e mora em Los Angeles, também começou a ler mais críticas culturais e pesquisas sobre solteirice, como as de Bella DePaulo.

— Acho que me identificar como queer meio que abriu a porta para eu ser mais aberto, para explorar mais — disse Afary. Em retrospecto, ele acredita que foi atraído pela vida de solteiro “por muitas décadas, mas simplesmente não tinha o vocabulário, e ainda estava sob pressão de todas essas expectativas sociais de que talvez devesse estar focado numa vida a dois. Mas não me sinto mais assim”.

oy Lorton diz que seu último marido era um ‘cara legal’, mas disse que prefere voar sozinha agora — Foto: NYT

DePaulo explica que esse é um tema que surge frequentemente em seu trabalho: as pessoas se sentem muito mais livres para abraçar a vida de solteiro quando há menos pressão externa para se estabelecer, especialmente quando a maternidade ou paternidade estão fora de questão.

— Todas aquelas pessoas que podem ter te incomodado por não estar casado ou que agem como se houvesse algo de errado com você por estar solteiro praticamente se calam quando você chega a uma certa idade — disse ela.

Encontrando outras formas de conexão
Embora tenha abraçado plenamente sua solteirice, Afary não é ingênuo quanto aos desafios práticos que pode enfrentar no futuro sem um parceiro. Ele é o principal cuidador de sua mãe, que está na casa dos 90 anos, e sabe que pode não haver ninguém para cuidar dele à medida que envelhece (ele observou o quão afortunado se sente por ter uma pensão que torna um lar de cuidados para idosos financeiramente viável).

Mas ele não teme a solidão ou o isolamento que afeta tantas pessoas mais velhas, pois aprendeu a desenvolver relacionamentos platônicos “muito amorosos e íntimos” com vários amigos e colegas.

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A especialista DePaulo acredita que esses relacionamentos são outra história não contada da solteirice na terceira idade:

— Eles investem mais em suas amizades e obtêm mais de suas amizades — diz ela.

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Embora a solteirice em geral tenda a ser pouco estudada, há algumas pesquisas para apoiar a ideia. Um pequeno estudo de 2021 que se concentrou em estudantes universitários descobriu que aqueles que eram solteiros tendiam a investir mais em suas amizades.

Jettie McCollough, 68 anos, foi casada por 28 anos, mas agora vive “uma vida solteira incrivelmente alegre”. Ela experimentou sites e aplicativos de encontros online, mas recentemente deletou suas contas no eHarmony e Green Singles depois de se perguntar: “Por que estou neste site de namoro estúpido?”

Sua experiência não é única. Mulheres com mais de 50 anos são o grupo demográfico mais propenso a descrever suas experiências de namoro online como um pouco ou muito negativas, descobriu uma pesquisa Pew.

Em vez de se sentir solitária, ela percebeu que “há tanta conexão disponível no mundo”, diz McCollough, que mora em Massachusetts. Quando as tempestades de inverno chegam, seus vizinhos mandam mensagens para ver se ela precisa de alguma coisa. Ela é voluntária em uma escola local. Está em um grupo de corrida e tem um canal no YouTube dela pulando corda ao som das músicas de Taylor Swift.

Mas ela também aprecia os momentos de tranquilidade quando surgem. E depois de décadas casada e criando quatro filhos, “amo meu tempo sozinha. Eu o valorizo”.

Assim como Lorton, que se matriculou na faculdade e obteve seu diploma aos 51 anos. Ela se aposentou em 2010 após três décadas trabalhando como assistente jurídica e agora passa a maior parte do tempo levando netos para a escola e várias atividades extracurriculares.

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Às vezes, ela sente um aperto de solidão ao chegar em sua casa silenciosa após um encontro familiar. Mas Lorton não tem “absolutamente nenhum interesse” em procurar amor novamente.

— Não apenas ser solteira me permite a liberdade de fazer minhas próprias escolhas de vida, mas também me dá a paz que acredito que sempre busquei — conclui.

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