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Brasil vai ter que aprender a lidar com seu envelhecimento

O Censo adiantou para o início dos anos 2030 o momento em que a população economicamente ativa parará de crescer. Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

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Essa questão do envelhecimento da população brasileira é um dos temas mais importantes para o país. Desde a divulgação dos resultados do Censo de 2022, no final do ano passado, ficou claro que estamos envelhecendo muito mais rapidamente do que os especialistas esperavam.

Isso significa uma enorme mudança no país. E vai exigir que os governos invistam mais, por exemplo, em saúde, já que o idoso precisa mais de assistência médica,

Também serão necessárias, como lembra esse editorial do jornal O Globo, novas reformas na Previdência, para garantir sua sustentabilidade.

O editorial sugere que o Brasil busque lá fora exemplos de países que estão se saindo bem no atendimento a uma população envelhecida. Dois deles são Japão e Cingapura, ambos com um quarto dos habitantes acima dos 65.

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Não é novidade o envelhecimento do Brasil. O que chama a atenção dos demógrafos é a velocidade com que ocorre. Pelos dados do Censo de 2022, a população com 65 anos ou mais cresceu 57,4% desde 2010. São 22,1 milhões de brasileiros, ou 11% do total. Um quinto dos idosos são octogenários. O Censo adiantou para o início dos anos 2030 o momento em que a população economicamente ativa parará de crescer, encerrando o bônus demográfico com que todo país conta para se desenvolver. Desde já, os desafios são imensos.

Os mais óbvios estão nos sistemas de saúde e previdenciário. O SUS precisará estar pronto para atender mais idosos. Serão necessárias novas reformas na Previdência para garantir sua sustentabilidade. Mas as necessidades de um país mais velho não se resumem ao óbvio. O Brasil precisa analisar com atenção o exemplo de países que têm enfrentado o envelhecimento com sucesso. Pela primeira vez há no planeta mais habitantes com mais de 65 anos do que com menos de 5. A transformação é global.

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Em estudo recente, o Banco Mundial apontou o Uruguai como exemplo na América Latina de preparação para a transição demográfica. A estimativa é que o custo dos serviços sociais básicos cresça de 25% do PIB em 2013 para 43% em 2100. Além de preparar o sistema de saúde para arcar com a demanda mais complexa, os uruguaios precisarão investir para aumentar a produtividade da economia, manter os idosos ativos e ampliar desde já a capacidade de poupança da população que envelhecerá. Só assim uma economia com menos gente trabalhando será capaz de sustentar a todos no futuro.

O Fórum Econômico Mundial destaca dois exemplos inspiradores: Japão e Cingapura, ambos com um quarto da população acima dos 65. Em Cingapura, um programa do governo lançado em 2014 dá a cada cidadão uma poupança para uso em cursos de formação em qualquer idade. Há políticas para manter fundos para idosos incapazes de sustentar a própria aposentadoria e para incentivar moradia perto da família, reduzindo custos com cuidadores.

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No Japão, são conhecidos os planos de saúde generosos subsidiados pelo governo, assim como esquemas de aposentadoria que pagam por serviços como compras domésticas, cuidados pessoais e medicina preventiva. Em 2015, o governo lançou um programa que investe em tecnologia e robótica para ajudar cuidadores e que implementa mudanças de design para adequar instalações urbanas, transportes ou móveis às necessidades dos mais velhos. As cidades vêm sendo adaptadas para mantê-los saudáveis e produtivos.

O Brasil é pobre e desigual, tem diversas outras prioridades, mas nada nos impede de começar a pensar desde já em estabelecer normas de design para locais de trabalho adequadas a idosos ou criar políticas de treinamento e aprendizado na aposentadoria. Não faltam casos bem-sucedidos de acolhimento e apoio aos mais velhos. O país tem de se preparar para permitir que os idosos mantenham saúde física e mental. Todos sairão ganhando.

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