Ícone do site 50emais

Confissões de uma avó: Desfruto da minha herança ao ver os filhos de meus filhos

 width=
Vânia Nacaxe com Natan, o adorado neto mais velho. Ela tem outros quatro netos

Vânia Nacaxe
50emais

Hoje passou um filme na minha cabeça. Começou em preto e branco: Eu me vejo sentada no colo de minha mãe, sentindo meus longos cabelos serem escovados e trançados, arrematados com dois lacinhos nas pontas. O sorriso de minha mãe demonstra a satisfação de um dever cumprido. Ela fez um bom trabalho e admira sua obra.

Como se o filme fosse ganhando cor gradativamente, entre a adolescência e a juventude, eu desci do colo da minha mãe. E passei a questionar seus cuidados comigo. Achando que sabia tudo e que seu método de criar filho era questionável.

Quando tudo coloriu com a intensidade esperada da vida, eu estava com meu primeiro filho em meus braços e foi a minha mãe que confiei, com sua experiência para sarar cólicas, acalmar soluços e fazer fórmulas caseiras contra assaduras. Ah! Sem esquecer dos milagrosos chazinhos, que a tudo saravam.

Então, entre erros e acertos, pude valorizar aquela mulher com 50+, cuja sabedoria, cuidado e paciência me educaram como mãe. Até que comecei a experimentar a modernidade, informações e inovações desta jornada, e voltei a questionar, a duvidar, muitas vezes, que tudo aquilo que aprendi com ela era mesmo necessário. Agora, porém, eu estava também criando meu método pessoal de criar meus filhos. Com minhas próprias opiniões sobre, por exemplo, uso de chupetas e fraldas por mais de dois anos.

Na época, um livro que chamavam de biblia das mães, “Dr. Delamare”, mostrava que a minha mãe não sabia de nada. Às vezes, alguma coisa no livro batia com o que ela dizia!

Assim fui como mãe. Lembrava da satisfação de ensinar a usar o “penico”, andar de bicicleta, usar cartão de credito e cuidar de seu passaporte.

Então, me tornei avó. Agora, outra vez, toda experiência, toda memória, toda vivência passou a ser questionada por mim. Então, me lembrei de minha mãe. Cada vez que ela tentava ajudar ou aconselhar, eu pensava: “Ah! Agora é diferente. Isso foi naquela época!” Lembro tambem de seu silêncio. Eu podia ouví-la: ” Você vai viver isso”.

Avó é para ser amada, receber sorrisos e brincar muito, até doer as costas. Por falar em doer as costas, essa dor desaparece no abraço carinhoso de um neto(a). Depois de tantos anos e dedicação à família, um dos remédios mais poderosos para os avós é poder participar do crescimento dos netos.

É sabido que o abraço faz muito bem para saúde: o cérebro humano libera uma substância chamada oxitocina, responsável por aliviar o estresse e conter o envelhecimento das células

Muitos avôs, e principalmente as avós, reconhecem que seus filhos cresceram, mas ainda esperam que a estrutura familiar continue igual. Eles têm a expectativa irrealista de que os feriados vão continuar sendo como antes e que os filhos vao telefonar todos os dias, como eu costumava fazer.

Eu percebi que ponho em prática o que aprendi com minha mãe. Verdade que eu não gostava nada quando minha sogra falava que meus filhos estavam magros ou gordos, que minha culinária era errada. Pense só, alguém gosta disto?

Voltando ao meu filme, agora Full HD, percebi que é importante nos mantermos juntos. Faço o possível. A tecnologia ajuda nesse processo. Eles crescem tão rápido! Uma boa história e um colo de avó para o neto(a). Nenhum deles resiste.

Isso me fez lembrar de um episódio que meu neto mais velho contou. No Dia dos Avós, na escola, cada neto teria que apresentar uma boa qualidade de seus avós. A maioria dos netos lembrou dos bolos de cenouras, bifes acebolados… ao que meu neto disse orgulhoso, que a avó dele era mochileira e viajava o mundo, dividindo com ele suas experiências, nos seus momentos de histórias e bate papos. Foi só então que muitos quiseram voltar e lembraram que seus avós fazem outras coisas além de cookies. As avós malham, dançam, viajam e são muito divertidas!

Os filhos serão avós e perceberão que o que eles pensam ser erros dos pais foram tentativas de acertar seguindo manuais de amor somente. Quando chegarem à idade madura poderão usar as suas experiências pessoais para também fazer o melhor para seus filhos, sem traumas.

Hoje eu tenho 62 anos, 5 netos e uma alegria infindável. Filha orgulhosa, mãe orgulhosa e avó realizada e muito, muito orgulhosa. Acima de tudo, amparada e muito amada! A vida, vale mesmo a pena.

Vivo a promessa de Deus e desfruto minha herança ao ver os filhos de meus filhos!

Ah! E meu filme? Ainda não finalizou o enredo, mas tenho certeza que terá um final feliz. Será um campeão de bilheteria.

Leia também de Vânia Nacaxe:
‘Passei dos 62. Quero viver bem, desafiando o calendário, pandemia, viuvez e solidão’

Sair da versão mobile