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Cora Coralina lançou seu 1º livro aos 76 anos

Em 2015, completará 30 anos da morte de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ser verdadeiro nome
Em 2015, completará 30 anos da morte de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, ser verdadeiro nome

Cora Coralina sempre me atrai. Seu semblante terno, sua tocante semelhança com a minha mãe, a poesia forte, a intensa história de vida, tudo atrai. Por isso estou postando aqui este ótimo artigo de Luciana Morais para a revista Ecológico sobre aquela que Carlos Drummond de Andrade chamou de “diamante goiano brilhando na escuridão”.

Leia:

Mulher simples e trabalhadora, ela teve sua humildade e modéstia recompensadas a peso de ouro. Afinal, coube ao poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, descobrir e apresentar ao Brasil a escritora que despertou cedo para as letras, mas cuja obra só lhe chegou às mãos quando ela já tinha quase 90 anos de idade. Sim. Ela é Cora Coralina. Nome sonoro e ritmado, assim como seus contos e poemas de tocante delicadeza. Sobre ela, Drummond sentenciou: “Na estrada que é Cora Coralina passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje… Sua consciência humanitária não é menor do que sua consciência da natureza… Assim é Cora Coralina, repito: mulher extraordinária, diamante goiano cintilando na solidão.”

Ela nasceu Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, em 1889, em Goiás. Embora escrevesse desde moça, seu primeiro livro só foi lançado quanto tinha 76 anos. Fiel contadora de histórias, transpôs dos tachos para os livros todo o sabor que apurou em seu ganha-pão de doceira. Com seus versos, Cora põe a mesa: descreve como corria a vida na velha Goiás, revela sua forte ligação com a terra e seu olhar sempre devotado para os excluídos.

Mestra da sutileza, nos alerta para o valor do trabalho e celebra o prosaico da convivência entre vizinhos, hábito hoje tão esquecido, principalmente, nas grandes cidades. Viveu como muitas outras Anas e Coras. Casou-se. Teve filhos. Mudou-se para São Paulo e depois de 45 anos regressou a Goiânia. Morreu em 1985.

Sua poesia segue renovada. Faz alguns meses, versos seus foram recitados na novela “Em Família”, da TV Globo, cuja parte da trama se desenrolou em Goiânia (GO), ampliando o número de admiradores da obra de Cora Coralina, que continua essencial e atemporal como ela. Confira alguns trechos:

Autorretrato

“Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida. Não desistir da luta. Recomeçar na derrota. Renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos. Ser otimista.”

“Fiz doces durante 14 anos seguidos. Ganhei o dinheiro necessário. Tinha compromissos e não tinha recursos. Fiz um nome bonito de doceira, minha glória maior. Fiz amigos e fregueses. Escrevi livros e contei estórias. Verdades e mentiras. Foi o melhor tempo da minha vida. Foi tão cheio e tão fértil que me fez esquecer a palavra ‘estou cansada’.”

“Sou mulher operária e essa segurança me engrandece, é o meu apoio e uma legitimação do que sou realmente.”

Mulher-Natureza

“Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos têm relances de enxada, gume de foice e peso de machado. Cheiro de currais e gosto de terra… Eu sou a terra.”

“Pela minha voz cantam todos os pássaros do mundo. Sou a cigarra cantadeira de um longo estio que se chama Vida. Sou uma formiga incansável, diligente… Em mim, a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive. Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada no ventre escuro da terra.” Clique aqui para ler mais.

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