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Dengue: população é que paga a conta. Com a bolsa e com a vida

Nenhum dos repelentes protege nem vinte minutos. Os mosquitos encontram logo o pedacinho de pele que não absorveu o produto e nhac! Resultado: os hospitais estão cheios. Foto: Hospital de Brasília

Márcia Lage
50emais

O Aedes Aegyipt ou pernilongo, no sudeste, carapanã no norte e nordeste, está tocando o terror no Brasil.

Inflacionou em 233% as ocorrências de dengue no mês de janeiro e nesse início de fevereiro, levando quatro estados – Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Acre e Distrito Federal – a declarar situação de emergência em função do descontrole da doença.

É uma epidemia que pode matar ou incapacitar por meses, na variante Chikungunya, que ataca as juntas.

Na versão Zica (Deus nos livre e guarde) leva o paciente à cadeira de rodas.

A população está sem saber o que fazer. Os mosquitos não respeitam nem a roupa do corpo.

O preço dos repelentes disparou. E agora veio a Anvisa dizer que eles só podem ser usados no máximo três vezes ao dia. Como assim?

É que a indústria dos repelentes criou fórmulas com ingredientes até então pouco divulgados – Icaridina, IR3535 e Deet.

Por falta de saneamento básico, o Aedes Egipt, que também causa chikungunea e Zica, está por todo lado. Foto: Reprodução/Internet

Qual a diferença? O preço e o tamanho da mentira. O primeiro promete 10 horas de proteção, o segundo, quatro, e o terceiro, duas.

Na prática, nenhum deles protege nem vinte minutos. Os mosquitos encontram logo o pedacinho de pele que não absorveu o produto e nhac!

Esse negócio de usar roupa de manga comprida e calças tipo legging também não intimida os tais carapanãs. Picam por cima mesmo, com um ferrão que perfura até jeans.

Se seguirmos as orientações da Anvisa vamos morrer intoxicados e pobres. Ela sugere repelentes de tomadas à noite, sprays de longa duração três vezes ao dia e cremes para o rosto. Cada um custa, em média, 39 reais.

Estamos entre a forca e o fuzilamento. O que evitar primeiro? Rugas, câncer de pele ou dengue?

Qual é a ordem da melação diaria? Primeiro o hidratante, depois o bloqueador solar e por ultimo o repelente?

Essa mistureba dá resultado? Ou um anula o outro? Só o mosquito é que sabe.

O corpo suado de calor, os produtos embaçando a vista, escorrendo pelas dobras, sujando a roupa.

A indústria do lucro com a doença já sacou a demanda e criou o dois em um – hidratante e repelente ou repelente e bloqueador solar. São mais caros, óbvio. E não cumprem o que prometem.

Quando o problema se agrava, como agora, os prefeitos adotam soluções paliativas. Foto: Lençóis, em São Paulo

A verdade é que estamos todos com cheiro de barata morta, melados e amedrontados.

Só falta a máscara para completar a feiura e o desconforto. E é bom que voltemos a usá-la. A Covid também está aí. E haja braço pra tanta picada. De mosquitos e vacinas.

A culpa é do El Niño, do aquecimento global e nossa, que deixamos os vasinhos sem areia nos pratos. Imperdoável!

A culpa é também desses prefeitos, incompetentes e sem consciência, que não investem em saneamento básico.

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), 38,6% de todo esgoto produzido no Brasil corre a céu aberto, 18,8% são coletados mas lançados in natura nos rios e córregos dos municípios – que vergonha! – e só 42,6% das 9 mil toneladas diárias de carga orgânica produzida pelos brasileiros é coletada e
tratada como recomenda a Organização Mundial de Saúde.

Além disso, dos 5.568 municípios brasileiros, apenas 719 possuem plano diretor de drenagem urbana, 370 investiram em parques lineares ao longo dos rios e 150 em reservatório para vazão de cheias e inundações.

O resto você já sabe; é rua esburacada, agua empoçada, lixo pra todo lado, um banquete para carapanãs.

E nós pagando a conta. Com a bolsa e a vida.

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