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Dentista mostra como fazer a higiene bucal de idosos e acamados

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A higienização bucal é o mais importante entre os demais procedimentos da área odontológica

*Dr. Paulo Sérgio Giovannini, 50emais

Muito se tem falado sobre os avanços da odontologia moderna: facetas e coroas em porcelana, lentes de contato, clareamento dental, alinhamento impecável dos dentes nas arcadas, aparelhos invisíveis, implantes e tantos outros procedimentos visando a devolver ao paciente a função e a estética alteradas geneticamente ou por fatores ocorridos no decorrer da vida.
Tratarei aqui de um dos procedimentos mais importantes que, infelizmente, é esquecido até mesmo pelos cuidadores e familiares dos idosos acamados bem como pelos idosos de vida ativa, portanto, não dependentes.

Classifico a higienização bucal como o mais importante entre os demais procedimentos da área odontológica. Para todos, independentemente de faixa etária e condição de saúde geral, a limpeza dos dentes, próteses removíveis ou não e sistema bucal como um todo é fundamental para uma saúde dental e periodontal aceitáveis. Dessa forma, previne-se e muito outras doenças.

Devemos ficar atentos ao importante fato que a digestão se inicia na boca, portanto uma mastigação cuidadosa, antes da deglutição (engolir) só trará benefícios à nossa saúde.

Como proceder
É tarefa mais simples do que possa parecer. Todos os dentes remanescentes, gengiva, língua e próteses devem merecer o mesmo cuidado no momento da limpeza. De maneira bem didática detalharei como proceder em cada uma das situações abaixo:

1º – O idoso não é dependente de cuidados de terceiros

2º – O idoso ou não é dependente de cuidadores ou familiares para a sua higiene bucal

No primeiro caso, a visita periódica ao dentista deverá ser mais freqüente. Na ocasião, o profissional removerá placa bacteriana, cálculos e quaisquer outros fatores que provoquem irritação; reforçará as instruções para a correta higienização e fará um prognóstico das doenças bucais que afetarão os tecidos responsáveis pela sustentação dos dentes. O conjunto desses tecidos é que chamamos de periodonto. Explica-se assim um termo muito utilizado, mas pouco entendido pelos leigos, a periodontite. Essa doença causa dor, halitose( mau hálito), sangramento e constrange o paciente. Quando não tratada a tempo, leva a perda dos dentes.

É comum que as pessoas idosas percam gradativamente a habilidade manual necessária a uma boa escovação dos dentes e ao correto uso do fio dental. O dentista deverá orientar seu paciente idoso a usar uma porção menor de pasta dental, escovar uma das arcadas, fazer o enxágüe da boca e da escova, iniciando o processo para a outra arcada. Assim, poderá descansar o punho entre a limpeza de uma e da outra arcada.

É sempre recomendável o uso de um enxaguante bucal no momento de se deitar.

Segunda situação
No caso de o idoso ou não ser dependente de cuidadores ou familiares para a sua higiene bucal, é preciso ter uma abordagem mais cuidadosa. O paciente acamado e dependente necessita de cuidados específicos, administrados pelo dentista e um bom cuidador ou técnico em higiene dental(thd).

As instruções são as mesmas para todos os que cuidam do dependente. O envelhecimento atinge todos os nossos órgãos, comprometendo gradativamente a sua plena função. É de se esperar que, em situações mais graves, perca a capacidade de se alimentar pelas vias normais.

À medida em que a dependência progride, a escovação passa a ser substituída por outros métodos de limpeza. Compressas de gases umedecidas em enxaguante bucal sem álcool devem ser usadas pelos cuidadores com todo cuidado e muita paciência. Vale ressaltar que os enxaguantes bucais contêm em sua composição antissépticos e flúor.

Dependendo do caso, o dentista poderá recomendar uma variação muito interessante do antisséptico comum, aquele que contém clorixidina. Essa substância promove uma desinfecção mais completa, controlando certas doenças periodentais já instaladas, ou mesmo prevenindo outras que estejam prestes a ocorrer. Há, no entanto, restrições ao uso prolongado da clorixidina, mas esse é assunto de um outro artigo.

Esse procedimento deverá ser realizado com compressas de gases de boa qualidade. Sendo assim, as compressas não soltarão fios na cavidade bucal. Os pacientes acamados comumente sofrem de um sintoma que chamamos de disfagia, ou seja, dificuldade de deglutição, variando de um grau mais leve a um mais severo. Por isso devemos evitar qualquer fator que possa causar-lhes desconforto adicional.

Os acamados ou não que portem próteses removíveis, parciais ou totais, devem merecer o mesmo cuidado. Os dentes remanescentes deverão ser higienizados corretamente. Suas próteses, igualmente, deverão ser escovadas, só que fora da boca. O antisséptico deverá ser usado tanto na boca como nas próteses removíveis, antes de sua reinstalação. Os cuidadores e familiares mais observadores notarão a satisfação do idoso acamado ao final do processo.

Para concluir, espero atingir o meu objetivo de auxiliar familiares e cuidadores, como também os idosos não dependentes. Contudo, devo prevenir a todos os envolvidos nesses procedimentos que não basta utilizar a técnica mais correta no momento da limpeza dos dentes, próteses e cavidade bucal como um todo. Muito mais importante é o carinho e o respeito que se deve dispensar àqueles que dependem da ajuda de terceiros. São pessoas debilitadas e, portanto, frágeis. O cuidado demonstra respeito e amor. Atitudes de extrema importância para se preservar a dignidade daqueles que são entregues aos nossos cuidados.

*Dr. Paulo Sérgio Giovannini formou-se Cirurgião Dentista pela Universidade Federal de Minas Gerais,UFMG, em 1978

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