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Dois momentos cintilantes da música

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O último show ao vivo do quarteto, no telhado da sede da Apple (empresa criada para gerenciar a carreira do grupo), em Saville Row, uma das ruas mais chiques daquela chiquérima Londres

Ingo Ostrovsky
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Nos últimos dias fiz duas viagens musicais aos anos da minha adolescência. A primeira na telona do cinema com a versão 2021 de West Side Story (“Amor Sublime Amor” em português) dirigida por Steven Spielberg. A outra na telinha da TV com “Get Back” o documentário em três episódios – totalizando quase 8 horas – sobre os Beatles.

Get Back é espetacular. Eu nunca tinha visto nada parecido com o processo de criação de quatro músicos extremamente talentosos, vivendo um dos áuges da carreira. Digo “um” dos áuges porque em se tratando de Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr foram vários áuges. O senhor ou a senhora vai encontrar um momento melhor do que o outro, a preferência é sempre do freguês, há quem idolatre Help, outros gostam mais de Yellow Submarine… Tudo áuge!

O diretor de Get Back, Peter Jackson, teve acesso a mais de 60 horas de gravações originais feitas em 1969, quando a banda inglesa se reuniu num estúdio de cinema em Londres para ensaiar um novo disco e um show ao vivo. Havia compromissos comerciais e a possibilidade concreta de que aquele processo se tornasse também um filme. Essa história tem muitas reviravoltas e sub-historietas, que não vem ao caso aqui.

O que interessa é que o documentário mostra os quatro artistas em momentos de criação e inspiração. Somos testemunhas da composição de algumas joias do cancioneiro da banda. Vemos os Beatles rabiscando letras, trocando palavras das musicas, construindo arranjos, “riffs” de guitarra, solos de piano, improvisações e, principalmente, muito humor inglês, risadas da melhor qualidade. Tudo se encaminha para o que viria a ser o último show ao vivo do quarteto, no telhado da sede da Apple (empresa criada para gerenciar a carreira do grupo), em Saville Row, uma das ruas mais chiques daquela chiquérima Londres.

Não somos poupados nem das brigas entre os quatro, coisa mais do que normal num grupo que vivia junto desde a adolescência e que estava se descobrindo adulto. Yoko Ono está presente nas gravações e, para mim, não atrapalha em nada, fica na dela, ao lado do homem amado. As datas não mentem: Lennon foi assassinado em 1980 quando o casamento com Yoko já durava mais de 12 anos… Aquilo realmente foi uma paixão!

Uma prova do acerto do documentário é que desde a estréia, em 25 de novembro, não se fala em outra coisa no mundo musical e, coisa rara, existe uma verdadeira unanimidade positiva na imprensa: não vi ninguém falando mal do produto, uma surpresa nesses dias de tanto cancelamento. Li criticas, comentários, lembranças, testemunhos, todos acompanhados de aplauso.

Amor Sublime Amor – a história do filme é conhecida: a tragédia de Romeu e Julieta, de Shakespeare. Adaptada para as ruas do west side de Nova Iorque, o enredo conta o amor impossível entre o americano Tony e a porto-riquenha Maria

Amor Sublime Amor é outra coisa. É minha primeira lembrança de um grande musical. Conheço de cor as musicas, até as menos conhecidas, para não falar de “América” e “Tonight” facilmente encontráveis até hoje nos sites tocadores de sucessos. Sou fã de Leonard Bernstein, o maestro que compôs e gravou todos os sons desse musical que primeiro fez sucesso nas coxias da Broadway e depois encantou Hollywood. No ano de seu lançamento, 1961, levou o Oscar de Melhor Filme e mais uma penca de prêmios. As letras escritas pelo jovem Stephen Sondheim em 1957 marcaram para sempre os musicais americanos. Irônicamente, Sondheim acompanhou Spielberg até uma semana antes da estréia da nova versão. Morreu com 91 anos em 26 de novembro último.

A história do filme é conhecida: a tragédia de Romeu e Julieta, de Shakespeare. Adaptada para as ruas do west side de Nova Iorque, o enredo conta o amor impossível entre o americano Tony e a porto-riquenha Maria. A versão atual tenta – e às vezes consegue – trazer o conflito para os dias de hoje, agora que o racismo tomou o lugar do preconceito que imperava entre os brancos made in America e os morenos de Puerto Rico. “Every puertorican is a lousy chicken” (… uma galinha podre) dizia uma das letras explícitas do desrespeito da época.

Quem sou eu para dizer que o filme de Spielberg é ruim? Ou que o de 1961 era melhor? O que eu posso dizer, sim, é que Get Back e West Side Story marcam dois momentos cintilantes da musica do século 20, aquele, lembra? em que se fumava muito em ambientes fechados e as melodias jorravam empurradas pelo mix de inspiração e transpiração. Bernstein, Sondheim, Lennon, McCartney, Harrison e Richard Starkey (que você conhece pelo apelido, Ringo Starr) foram criadores.

Veja aqui um gostinho de Get Back:

Veja depois do anúncio o trailer de West Side Story:

Clique aqui para ler outras Crônicas de Domingo, de Ingo Ostrovsky.

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