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Empreender após os 50 tem mais chances de sucesso

 

Após 30 anos no setor de marketing, Bete Marin decidiu se tornar dona do próprio negócio. Foto: Paula Reichert/Reprodução

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Uma pesquisa de uma consultoria com resultados muito importantes: pessoas com mais de 50 anos que empreendem têm mais condições de dar certo, do negócio prosperar. E as razão para isso são claras.

O estudo mostrou que  empreendedores nessa faixa etária “conseguem lidar melhor com adversidades, aceitam mais riscos, faz boas negociações e são mais responsáveis na tomada de decisões. “

Veja os detalhes da pesquisa e depoimentos de profissionais de sucesso acima dos 50 anos, nesta reportagem de Jayanne Rodrigues para o Estadão:

Profissionais maduros, acima de 50 anos, têm mais chances de sucesso na abertura de um negócio. É o que revela a pesquisa “Empreendedores 50+, o futuro do Brasil, da consultoria Empreendabilidade.  O levantamento conectou dados macroeconômicos, indicadores do mercado empresarial e do perfil de profissionais maduros. O relatório, que usou big data analytics, relaciona as taxas de sucesso de fundadores de empresas em diferentes faixas de idade.

“Se você está pensando nas pessoas acima de 50 anos apenas por inclusão, isso está errado”, aponta Ricardo Meireles, fundador da Empreendabilidade e responsável do estudo. Ele lista uma série de características do profissional 50+ que pode explicar a taxa maior de sucesso no empreendedorismo: além de mais vivência em diferentes situações, eles conseguem lidar melhor com adversidades, aceitam mais riscos, faz boas negociações e são mais responsáveis na tomada de decisões.

Pela pesquisa, 15,6% dos empreendedores com idade entre 55 e 64 anos têm empresa estabelecida, ou seja, que está ativa há mais de 3,5 anos. Entre pessoas de 18 a 34 anos, esse porcentual é de 3,8% e, entre 35 e 54 anos, 11,1%.

Outro ponto importante é a questão da previdência social. Apesar de a expectativa de vida do brasileiro estar crescendo, o período de vida economicamente ativa continua o mesmo, o que leva a um déficit previdenciário cada vez maior. O pico de contribuição econômica esta entre os 30 e os 49 anos.

“Como não se pode estender a idade produtiva para a infância, o potencial de geração de valor econômico e social está na força intelectual e produtiva das pessoas maduras, que acabam deixando de contribuir para a economia exatamente quando estão no auge da sua capacidade”, diz Meireles.

Empreendedorismo

De acordo com a pesquisa, no cenário atual, alguns segmentos representam uma boa oportunidade para esse grupo de empreendedores, como bares, restaurantes e alimentação; construção civil e serviços; varejo e e-commerce. Setores-chave para a sociedade, Educação, agronegócio e saúde também são opções por não apresentar travas para quem quer empreender.

A população com mais de 55 anos representa 30,7% do total de empreendedores no Brasil. O número pode ser resultado da situação financeira do país, da dificuldade de encontrar empregos quando as vagas são disputadas com jovens que dominam meio digital, discriminação ou até propósito de vida.

De acordo com a pesquisa, é acima dos 50 anos que muitos profissionais decidem realizar algum sonho e deixar de ser empregado. Além disso, alguns já conseguiram juntar poupança e querem continuar ativos no mercado.

Aos 40 anos, ela montou um brechó na garagem de casa pela falta de oportunidade de emprego. Anos depois, abriu a Use Best Fit, loja de roupas de ginástica que conta com espaços físicos e atua no e-commerce. Foto: Arquivo pessoal

Na avaliação de Meireles, o público 50+ deveria ser direcionado ao empreendedorismo enquanto está sendo tratado apenas como grupo de inclusão no mercado de trabalho. “Empreender na maturidade é uma oportunidade quase única”, afirma Bete Marin, 52 anos. Depois de 30 anos de carreira, ela decidiu arriscar e montar, ao lado de uma amiga, a agência digital MV Marketing, focada em Economia Prateada – mercado voltado para as necessidades das pessoas maduras.

Qualidade de vida e motivação foram os pontos de partida para a veterana montar um negócio do zero. Mas antes de aplicar investir, ela precisou planejar. “Essa é a essência de você ser bem-sucedido”, destaca. Primeiro, fez uma retrospectiva de vida, relembrou a virada de carreira e o que mais a impactou.

A partir dali, percebeu que estava longe de querer se aposentar. “Quando você descobre isso, tem muita coisa para fazer.” Hoje, a agência conta com 10 clientes fixo e a previsão é investir em produtos digitais dedicados ao público alvo.

Oportunidades de crédito

Embora pessoas acima de 46 anos tenham mais chances de aprovação na tomada de crédito, segundo pesquisa do Sebrae em parceria com a FGV as mulheres enfrentam mais dificuldades que os homens na hora de abrir um negócio por conta da falta de acesso ao crédito, como critica Bete. “A gente precisava se livrar de estereótipos, e focar no mercado”.

Foi justamente o preconceito com idade que impediu Gisele Correia, 56, de conseguir uma oportunidade de emprego aos 40 anos. Na época, ela atuava na área de advocacia. Desempregada, a saída foi montar um brechó na garagem de casa para conseguir pagar o aluguel. “Comecei a empreender por necessidade.”

A empreitada só teve fim porque Gisele precisou se mudar de Curitiba para São Paulo. Na capital paulista, conseguiu um bico como representante de vendas e rodava os quatro cantos da cidade comercializando roupas de ginástica. “Me descobri apaixonada pelo varejo”, conta.

A grande oportunidade surgiu em 2006, quando a empresária se interessou por uma lojinha, ao lado da academia em que malhava. O estabelecimento foi colocado à venda após o dono declarar falência, enquanto migrava para o e-commerce. O proprietário era Marcio Kumruian, atual CEO da Netshoes. “Mas não era uma, eram três lojas. Quando eu fui conversar, ele disse: ‘Ou é três ou é nada’”. Ela topou. Com empréstimo no Banco Naciona de Desenvolvimento Econômico e Social conseguiu inaugurar a Use Best Fit.

Quatorze anos depois, a empresária já somava 14 lojas físicas. A ascensão do empreendimento de Gisele acompanha a mudança progressiva do mercado e evidencia o número de profissionais +50 que conseguem ampliar o negócio, apesar da crise econômica dos últimos anos. Quase 25% das startups com maior crescimento foram fundadas por pessoas com idade entre 50 e 59 anos, mostra pesquisa da Empreendabilidade.

O negócio estava consolidado, até que em 2020 chegou um baque: a pandemia da covid-19. Durante esse período, metade dos trabalhadores brasileiros com mais de 50 anos perderam o emprego, segundo levantamento da PwC Brasil. “A gente pensava que não ia sobreviver”, desabafa Gisele. A empreendedora precisou se reinventar. Foram seis lojas físicas fechadas e um novo recomeço. A loja migrou para o digital e as vendas online foram ampliadas com Marketplace.

À esquerda, Veronique Forat, 65, e Marta Monteiro, 68, formaram uma parceria em 2017 para montar uma plataforma de moradia compartilhada. Agora, a Coliiv, possui uma base de 16 mil usuários. Foto: Luisa Santosa/Reprodução

Gisele aprendeu a empacotar, entregar, gravar vídeos e produzir outros conteúdos para as redes sociais da loja. “A pandemia deixou uma lição para quem empreende: tem de estar preparado. Não tem um dia sem desafio”, aconselha. Para a empresária, a intergeracionalidade presente na equipe composta por 27 funcionários foi essencial para a sobrevivência do negócio. “A juventude também me ensinou muito”.

Treinamento e cursos

Agora, em resposta à demanda, organizações têm buscado incentivar profissionais que não sentem confiança em iniciar um empreendimento a aprimorar habilidades. Segundo a pesquisa Empreendedores 50+, o futuro do Brasil, a morte precoce de empresas no Brasil pode ser evitada a partir da capacitação e do preparo. O estudo aponta que os empreendedores mais velhos, por sua vez, têm mais dificuldade em se adaptar às novas tecnologias.

Mas, para retardar esses pontos negativos, cursos e treinamentos a curto prazo podem potencializar as características profissionais desse grupo, sugere a pesquisa. Veronique Forat, 65, queria uma mudança na carreira após décadas no setor de marketing e se aposentar não era uma opção, mas precisou encarar o meio digital e até aprender a editar sites. Em 2017, junto com a amiga, Marta Monteiro, 68, ela abriu um negócio de moradia compartilhada “sem capital, sem entender nada de tecnologia, apenas com a coragem e ousadia”, relembra Veronique.

A ideia era criar uma espécie de Tinder, com “match-making” para conhecer as pessoas com quem gostaria de morar, não completos desconhecidos. Mas o diferencial estava no volume de informações que o usuário poderia encontrar: sexo, orientação sexual, fumante ou não, vegetariano, pets (com descrição completa dos animais).

Assim nasceu a plataforma Coliiv. “Não deveria ser só uma coisa para a garotada que vai morar em república. Morar junto é ter uma boa companhia”, descreve Veronique, acrescentando que a startup já conta com 16 mil usuários, entre 18 e 85 anos, concentrados nas regiões Sul e Sudeste.

Atualmente, com dois novos sócios, a Coliiv deve expandir o menu de informações incluindo recorte por religião e tendência política. “Com a experiência que temos, a nossa percepção é muito boa. Até descobri que velho não necessariamente gosta de morar com velho”.

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