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Este texto sobre o tempo não é de Mário de Andrade nem de Rubem Alves

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“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora,” diz o texto

Maya Santana

Há um tempo, postei aqui no 50emais uma espécie de crônica com o título “O Valioso Tempo dos Maduros”, atribuída, na internet, a Mário de Andrade. Em seguida, vi o mesmo texto  e o autor já era Rubem Alves. Recebi, então, uma mensagem de um visitante do site alertando para o fato de o texto não ser de autoria nem de um nem do outro. Não sabia me dizer, no entanto, quem o havia escrito. Agora, a minha amiga Renata Riecken, muito atenta a tudo, me enviou o nome do verdadeiro autor do texto. Trata-se do teólogo Ricardo Gondim. E o título original é “O Tempo que Foge.”

Cansado de ver seu texto ser atribuído a outro autor, Ricardo escreveu um pequeno artigo, “Querem roubar e ainda me chamam de ladrão” e postou no seu site: “Escrevi ‘O Tempo que Foge’. Alguém o fez circular como de um Autor Anônimo. Depois, disseram que era de Mário de Andrade. Agora, por último, me acusam de tê-lo roubado de Rubem Alves. Insisto, o texto é meu. Eu o escrevi no meu computador, na privacidade de meu ambiente de trabalho e está publicado no meu livro ‘Creio, mas tenho Dúvidas’, Editora Ultimato.  Além de mudar a autoria,  trocaram o título para ‘O valioso tempo dos maduros” e tiraram ou acrescentaram algumas linhas. Eu me senti na obrigação de dar esses esclarecimentos,” diz ele.

Leia o texto original de Ricardo Gondim:

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

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Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

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