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Falta dar atenção aos mais velhos

Faltam iniciativas oficiais, principalmente, nas áreas de saúde e de bem-estar. Foto: Reprodução/Internet

Márcia Lage

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Andei lendo muito esta semana sobre universidades da terceira idade no Oriente, especialmente Japão e China. Os dois países têm mais de 10 por cento de seus habitantes com idades além dos 60 anos e são obrigados a implantar políticas de bem-estar para essa parcela da população, sob pena de gastarem mais em saúde.

Essas universidades oferecem cursos de atualização para idosos em áreas de tecnologia – o que me parece urgente no mundo todo – além de artes, literatura, filosofia, história.  Não são cursos profissionalizantes, embora o mercado de trabalho absorva muita mão de obra de maiores de 60. São oficinas, palestras, seminários, cursos livres para entretenimento e manutenção das capacidades cognitivas e sociais dos aposentados.

Li também sobre iniciativas parecidas aqui no Brasil, especialmente na Universidade de São Paulo. E algumas privadas, como aulas de dança e atividades físicas. Tudo muito pouco ainda.

A minha prática aponta para uma escassez muito grande de políticas públicas para a Terceira Idade no Brasil. Tanto na área de saúde quanto na de bem-estar.

Culturalmente não somos muito de segmentar as ações públicas, a não ser nas escolas. Depois de formados, os adultos praticamente param de estudar, a não ser uns poucos que seguem carreira acadêmica. Pessoas analfabetas, inclusive, morrem analfabetas. Não são estimuladas a ir além da assinatura do nome.

Sou adepta dos estudos continuados. Vivo buscando temas para aprender ou para me aperfeiçoar. Ou, simplesmente, para me divertir.

Prefiro fazer isso em classes de múltiplas idades. Acredito que a mistura de gerações é mais prazerosa do que essas tais de Universidades para a Terceira Idade. É muito segregador juntar pessoas por faixa etária.

Na infância e na juventude temos a agradável convivência com os mais velhos. Por que, depois de velhos, temos que conviver só com as pessoas da nossa idade?

Antes da epidemia fiz uma pós graduação em Escrita Criativa na Universidade Nova de Lisboa, que investe bastante em estudos continuados. Para todos. Jovens que já se formaram, profissionais que querem ampliar conhecimentos, donas de casa. Idosos.

Não gostei tanto quanto de um que fiz na Espanha, que incluía turismo e história do país, culinária,  noitadas em bares e restaurantes, viagens.

Foi uma experiência riquíssima, que não exige da Universidade muito esforço. Ela apenas aproveita o que existe nos cursos convencionais e cria classes de estudos para quem deseja se aprimorar.

É esse tipo de atenção ao idoso que eu gostaria de vivenciar no Brasil.

Quando penso na minha longevidade, abomino a ideia de ser confinada com pessoas da mesma faixa etária ou mais velhas do que eu,  em universidades, centros de saúde, bailinhos da terceira idade, pacotes de viagens ou sei lá o que mais.

As políticas públicas têm que ser pensadas para a população como um todo. Mas não necessariamente, executadas em blocos. Dá para misturar e deve.

A alegria de viver está na diversidade da troca.

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